Encontrado pela primeira vez na Ásia há mais de 100 anos, o greening é uma doença identificada no Brasil em 2004. Hoje, está presente em todas as regiões citrícolas paulistas e pomares de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Paraná, gerando grandes dores de cabeça.
Conhecida como uma das doenças mais perigosas nas plantações de cítricos, o greening ou Huanglongbing (HLB), afeta a produção, danificando a qualidade das frutas e reduzindo a longevidade dos pomares.
Diante da sua periculosidade do greening para os citros, convidamos Alécio Souza Moreira, Engenheiro-agrônomo e analista da Embrapa Mandioca e Fruticultura, para falar sobre essa doença e as estratégias para proteger a produção.
O que é o greening e como ele se manifesta nas plantas?
Conhecida como a doença do ramo amarelo, o greening, mais conhecido como HLB, consiste em uma das doenças mais perigosas nas plantações de cítricos por todo o mundo.
Causada pela bactéria Candidatus Liberibacter asiaticus, as plantas contaminadas pela bactéria apresentam folhas amareladas e com mosqueados assimétricos, além de nervuras grossas e amareladas.
Já os frutos infectados apresentam amadurecimento irregular com deformações, além de menor tamanho e assimetria na columela. A doença também provoca a queda precoce deles, comprometendo a produção das plantas infectadas.
Como ainda não há cura para a doença, a melhor forma de lidar com o greening é agir na prevenção.
Comprometimento do potencial produtivo de citros
Segundo o pesquisador da Embrapa, os principais impactos na produção de citros estão relacionados à erradicação de plantas com sintomas da doença e à queda precoce de frutos.
“Tais questões acabam comprometendo o potencial produtivo de uma planta de citros”, afirma Alécio Moreira.
Para se ter ideia, dados do Programa de Estimativa de Safra do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) indicam que o greening é responsável por aproximadamente 8% da queda dos frutos de laranja doce no cinturão citrícola.
Outra estimativa do Fundecitrus indica que no ciclo 2024-25 pode ocasionar queda de produção da ordem de 24% em função de vários fatores, dentre eles a elevada ocorrência de greening e outras doenças e pragas.
Confirmada a previsão, será o menor resultado da citricultura das últimas dez safras, segundo análise da Fundecitrus.
Meios de propagação do greening
As espécies Candidatus Liberibacter asiaticus (predominante no Brasil) e Ca. Liberibacter americanus podem ser disseminadas por métodos de enxertia e principalmente pelo psilídeo Diaphorina citri.
“Este, ao se alimentar em uma planta com a bactéria, pode adquiri-la e transmiti-la ao se alimentar em uma planta sadia”, complementa Moreira.
O grande problema é quando os sintomas nas folhas ou frutos são visíveis na extremidade dos galhos. Esse é um indicativo de que a bactéria já se espalhou para toda a planta, inclusive na parte baixa do tronco e raízes.
É por isso que a poda de ramos com sintomas é inútil e até perigosa. Além de não curar a planta, as brotações que surgem após a poda são um atrativo para o inseto vetor, que irá adquirir a bactéria e disseminá-la para plantas sadias, provocando novas infecções.
O monitoramento constante é imprescindível!
Para o pesquisador da Embrapa, o manejo adequado para contenção do greening começa pela eficiência do monitoramento do psilídeo-dos-citros, o vetor da doença, e também do HLB.
“Um bom monitoramento da doença e do vetor é importante para que se saiba quais são as regiões críticas de ocorrência da doença e as regiões indenes mais ameaçadas”.
Normalmente, Moreira explica que esse monitoramento ocorre por meio de inspeções visuais, ao menos trimestrais, de todas as plantas por pessoas treinadas e com experiência nesta atividade.
“O objetivo é a detecção visual dos sintomas típicos da doença e, quando necessário, a confirmação por meio de análise molecular em laboratório de tecido vegetal amostrado”.
Já o monitoramento do psilídeo vetor ocorre quinzenalmente por meio de cartões adesivos amarelos instalados no terço superior de plantas de citros nas bordas dos talhões dos pomares de citros.
A leitura desses cartões para a identificação dos psilídeos também deve ser feita por pessoa treinada em local calmo e adequado.
A partir das informações do monitoramento, Moreira explica que é possível traçar estratégias rigorosas de manejo da doença e do vetor para evitar aumento na incidência da doença.
Também é importante desenvolver estratégias de prevenção para as áreas em que a doença ainda não foi relatada com o objetivo de evitar a entrada dela.
Ações imediatas ainda são fundamentais
Além do monitoramento constante, algumas ações imediatas são também necessárias. Após a detecção de greening em uma planta, ela deve ser imediatamente erradicada (eliminada) do pomar.
Porém, antes do corte e arranquio da planta contaminada, recomenda-se que ela seja pulverizada com inseticida. “Essa medida evita a dispersão de psilídeos que possam estar presentes na planta”, explica o pesquisador.
Após o corte rente ao solo, os restos de lenho devem receber aplicação de herbicida para evitar o surgimento de novas brotações da planta.
Decorrido o tempo de efeito residual do herbicida, o local onde a planta foi erradicada pode receber uma nova muda (replantio).
Recomendações para ter citros saudáveis
Confira algumas dicas para manter as lavouras saudáveis, produtivas e livres de greening:
- Escolha um local apropriado para o plantio;
- Plante mudas de qualidade (sanidade, genética e vigor);
- Diminua o período de exposição a psilídeos;
- Fique atento com a pulverização de inseticidas com a faixa de borda, com intervalos de 7 a 14 dias, dependendo da incidência do inseto;
- Inspecione e erradique as plantas infectadas a fim de evitar focos de transmissão da doença;
- Monitore e controle a presença do psilídeo
Nos últimos anos, Moreira explica que pesquisas têm sido feitas para automatizar o monitoramento do vetor por meio de sistemas de inteligência artificial.
“Ainda não há ferramenta nesse sentido sendo comercializada em larga escala, mas é uma possibilidade bastante interessante”, afirma.
Já os drones têm sido utilizados em pulverizações de inseticidas em áreas com maior dificuldade de acesso e também em liberações de Tamarixia radiata, uma vespa que atua no controle biológico do vetor.
Dessa forma, por não ter cura, a melhor forma de combater o greening é prevenindo sua ocorrência por meio de medidas preventivas, como a escolha de um local adequado para plantio, uso de mudas sadias e monitoramento frequente da região das plantações.
Faça isso e fique livre dessa doença!