Com a chegada da colheita da soja, o aparecimento de algumas doenças é relativamente comum. No entanto, as altas temperaturas e as instabilidades das chuvas podem agravar esse quadro, gerando preocupação com as doenças no final do ciclo da soja.

Decorrentes do fenômeno El Niño, tanto a temperatura elevada quanto as chuvas irregulares são fatores que ligam o alerta de sojicultores, exigindo maior atenção e planejamento para reduzir perdas por doenças na soja.

Diante deste cenário, é bastante importante conhecer essas patologias e adotar estratégias de manejo fitossanitário para evitar prejuízos, a fim de ter um controle efetivo que promova a sustentabilidade no ambiente de produção.

Quais são as doenças no final do ciclo da soja que merecem maior atenção?

O alto potencial produtivo da cultura da soja é definido a partir de um conjunto de fatores bióticos e abióticos. As doenças se destacam como fatores bióticos, e quando atacam a cultura da soja no fim do ciclo de desenvolvimento são denominadas de Doenças de Final de Ciclo da Soja (DFCs).

Diante do efeito do El Niño, as condições de ambiente podem contribuir com o surgimento dessas doenças, exigindo conhecimento para identificá-las, visando a máxima eficiência no manejo. 

Assim, dentre as DFCs na soja, algumas doenças podem ser beneficiadas com as altas temperaturas e as instabilidades das chuvas ocasionadas pelo El Niño se destacam:

  • Antracnose (Colletotrichum truncatum); 
  • Mancha púrpura (Cercospora kikuchii); 
  • Crestamento Foliar (Cercospora kikuchii); 
  • Mancha Parda (Septoria glycines) e 
  • Mancha olho-de-rã (Cescospora sojina). 

Principais sintomas dessas DFCs na soja

Os sintomas das principais doenças de final de ciclo da soja são bem característicos, no entanto em muitos casos ocorrem simultaneamente na planta, dificultando a identificação.

De forma resumida, Lucas Manfrin, Coordenador de Nutrição e Cana-de-Açúcar da BRANDT Brasil, destaca que todas elas provocam, de alguma forma, o atraso no desenvolvimento da cultura.

De forma geral, as DFCs causam perda de tecido e/ou necrose, causando baixa eficiência fotossintética. Consequentemente, o impacto na produtividade é bastante grande”.

Já em uma visão mais específica, Alexandre Dessbesell, gerente técnico de desenvolvimento de mercado de Soja da Bayer destaca que essas doenças apresentam alguns sintomas bem característicos:

  • Antracnose: apresenta lesões pequenas, circulares ou ovaladas, com coloração marrom-escura podendo ocorrer nas folhas, hastes e vagens. 
  • Crestamento foliar: apresenta a mesma etiologia da antracnose, porém com lesões de coloração marrom-avermelhadas. 
  • Mancha púrpura: ocorre predominantemente nas folhas ao final do ciclo da cultura, mas pode migrar para vagens e grãos em condições de alta pressão do patógeno, a doença apresenta manchas de coloração púrpura bem características. 
  • Mancha parda: também apresenta lesões pequenas, circulares ou ovaladas com coloração marrom-escura com um halo amarelado ao redor das lesões. 
  • Mancha olho-de-rã: tem lesões semelhantes a parda, no entanto apresenta pontuação escura característica ao centro da infecção e menor intensidade amarela na borda da lesão.

Dessbesell ressalta também que as principais consequências destas doenças estão na perda de área foliar precocemente. “Isso causa impacto direto na produtividade e em algumas situações irá prejudicar a qualidade das sementes para os próximos ciclos produtivos”.

El Niño: Por que ele eleva o surgimento de doenças no final do ciclo da soja?

O fenômeno climático El Niño – caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico Equatorial – afeta a distribuição das chuvas e a temperatura nas regiões produtoras do Brasil.

Este fenômeno apresenta comportamento cíclico, com ocorrências a cada 3 a 7 anos, porém tem variado a intensidade entre as ocorrências.

Mas, de forma geral, Dessbell salienta que essas mudanças implicam diretamente também na dinâmica de doenças foliares e radiculares nas lavouras brasileiras. “Nas regiões produtoras de soja do Brasil o El Niño normalmente influencia no aumento da pluviosidade nas regiões Sul e parte da Sudeste e redução significativa da chuva no Centro Oeste e Norte, dificultando principalmente o estabelecimento das culturas”. 

Ainda na região Sul, Lucas Manfrin explica que o excesso de água pode favorecer o desenvolvimento dos patógenos e dificultar a entrada na área para o controle. “Em solos encharcados, o manejo fica prejudicado, o que piora ainda mais a situação”.

Além da variação na chuva, há também a ocorrência de maiores períodos com temperaturas altas, que têm sua frequência intensificada durante o El Niño.

Para as regiões Sul e parte da Sudeste a maior disponibilidade hídrica desde o início do cultivo intensifica a ocorrência de doenças de solo que ocasiona “damping-off” após plantio e persistindo durante todo o ciclo em algumas condições, oriundas principalmente do ataque mais intenso de Phytophthora sojae, Pythium spp e Rhizoctonia solani nestes ambientes. 

Por outro lado, a combinação de umidade com aumento da temperatura durante o desenvolvimento da cultura nestas regiões permite aumento na ocorrência também de doenças foliares, destacando-se a Ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi), Mancha alvo (Corynespora cassicola), além das DFCs (doenças de final de ciclo). 

Estes picos de temperaturas altas podem também beneficiar a ocorrência no solo de Macrophomina nos estádios reprodutivos da cultura.

No cenário do Cerrado, Centro Oeste e Norte do país, a diminuição no volume de chuvas durante o período vegetativo e reprodutivo reduz a pressão de doenças foliares. 

No entanto, as altas temperaturas por longos períodos aumentam a ocorrência de Macrophomina nestas regiões por conta da maior sensibilidade e estresse térmico do sistema radicular. 

Historicamente também há retomada das chuvas no final do ciclo da cultura nesta região, a qual aliada a plantas mais debilitadas pelo cenário seco anterior podem promover maior risco de grãos ardidos na colheita.

Estratégias de controle das doenças do final do ciclo da soja

Para prevenir e controlar o surgimento das doenças no final do ciclo da soja, é necessário, dentre outras decisões:

  • Escolher cultivares com base no cenário climático e composição de portfólio, a fim de balancear característica genéticas de interesse com ciclos e potenciais produtivos aderentes ao ambiente de produção;
  • Fazer rotação de culturas;
  • Investir no manejo de solo e adubação;
  • Fazer uso do tratamento de sementes;
  • Investir no manejo fitossanitário baseado em monitoramento e rotação de princípios ativos.

Além disso, Lucas Manfrin ressalta a importância de promover uma nutrição balanceada, através de tecnologias que possam mitigar estresses causados pela falta de chuva ou estabilizar a planta e trabalhar o rápido desenvolvimento fisiológico dela após dias de muita chuva. 

Essa nutrição deve estar associada a fungicidas e bactericidas químicos, que são fundamentais para se manter o controle da doença em um estado de não dano à cultura principal”.

Além dessas recomendações, os especialistas da Brandt e da Bayer destacam que a ferramenta mais eficiente para prevenir e controlar qualquer doença na cultura da soja é o olhar atento dos agricultores. 

Com o El Niño ou não, é fundamental ter um monitoramento regular e promover o manejo integrado das lavouras”, destacam.

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