A carne gourmet é um novo mercado em crescimento. Trata-se daquela carne produzida a partir dos conceitos de qualidade que incorporam sabor, maciez e suculência, ou seja, aquela carne que é úmida, é fresca, gostosa, mas que, acima de tudo, foi produzida por meio de boas práticas de sustentabilidade. Nesse contexto, o produtor rural passa a respeitar também o bem-estar animal no que diz respeito ao manejo, além de critérios e protocolos sociais – em relação aos trabalhadores, à comunidade, aos consumidores –, bem como critérios ambientais para seguir rumo a um modelo de negócio que respeite os limites dos sistemas naturais.
Todos esses procedimentos acabam resultando num produto de maior valor, de maior vantagem competitiva e que atinja nichos de mercado. De acordo com o consultor de agronegócio, José Carlos Pedreira, apesar da existência desse modelo de negócios que se preocupa com a sustentabilidade ainda são necessários mais tecnologias, mais estudos, mais esforços na direção desses paradigmas para tornar essa equação economicamente viável.
A razão é óbvia: a produção a partir dos cuidados que levam em conta questões socioambientais custa mais caro, mas, em contrapartida, provoca menos impactos ao meio ambiente permitindo que o setor produza por mais tempo. A longo prazo existirá retorno na medida em que os mercados reconhecerem a qualidade desses produtos produzidos de forma diferenciada e se desenvolverem por estarem cada vez mais dispostos a pagar por essa sustentabilidade. Se este reconhecimento ocorrer, haverá um aumento desses modelos de produção preocupados com questões socioambientais que ocuparão cada vez mais espaço no mercado.
Um exemplo dessa nova realidade é o próprio mercado de orgânicos que cresce de 7% a 12% ao ano no Brasil. Alguns grupos de supermercados já mencionaram que não aumentam a oferta de produtos orgânicos nas prateleiras porque não têm de quem comprar esses produtos. No entanto, para quem produz não se trata de uma tarefa simples, pois não basta entregar uma bela fruta ou um belo legume, pois é preciso entregar toda semana, e com o mesmo padrão de qualidade, o que demanda uma grande organização por parte do setor de orgânicos, que deve ser acompanhado de perto, para atender consumidores extremamente exigentes.
Se de um lado temos um mercado de orgânicos em franca expansão, cuja adesão por parte de quem produz não é tão rápida como gostaríamos por ser um segmento mais caro – mesmo que haja consumidor para ele, ainda faltam produtores rurais que tenham condições econômicas de trabalhar este mercado –, por outro lado, a agricultura convencional brasileira não deve ser demonizada, pois é responsável por alimentar quase um bilhão de pessoas somando a população interna e estrangeira.
Pode-se dizer que a agricultura convencional fez praticamente um milagre, pois, há pouco mais de 60 anos, importávamos tudo e, nos últimos 40 anos, aumentamos a produtividade em cerca de 4,5% ao ano contra 1% de aumento de área agricultável. Paralelamente, é preciso desenvolver outros modelos de produção na agricultura que incorpore essas preocupações socioambientais mediante os limites dos sistemas naturais.
Neste cenário, existem pecuaristas que se esforçam para fazer a lição de casa e um grande exemplo disso é a implementação da ILPF (Integração Lavoura-Pecuária- Floresta) que tem crescido muito no Brasil. Para se ter uma ideia, só a ILP (Integração Lavoura-Pecuária) é realizada em 12 milhões de hectares entre pastagem e agricultura conduzidas simultaneamente numa mesma área.
Enfim, para a carne ser gourmet ela tem que ser advinda de processos sustentáveis e todo mundo ganha com isso: o produtor, o consumidor, os animais e o meio ambiente. Eu fecho a coluna de hoje com uma frase fantástica do AgroAmigo José Carlos Pedreira: “Sustentabilidade é a produção para sempre e para todos. Se não estou produzindo num modelo que não me permita produzir para sempre, e se o que estou produzindo não é para todos, não é sustentável”.
Lilian Dias é comunicadora Agro, possui MBA Executivo pela ESPM, com foco em habilidades de gestão de pessoas, práticas de liderança e marketing. É autora do e-book “Os Pilares do Agronegócio”. Site: www.liliandias.com.br-Instagram: @jornalistalilian -E-mail: [email protected]
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