O biometano está se consolidando como uma das principais apostas para a transição energética no Brasil. Com origem renovável e potencial para reduzir custos, esse combustível também abre novas oportunidades de negócio para produtores rurais.

Recentemente, o governo federal regulamentou o Programa Nacional de Descarbonização do Produtor e Importador de Gás Natural e de Incentivo ao Biometano, dentro da estratégia Combustível do Futuro, que busca ampliar a participação de fontes limpas na matriz energética. A medida promete atrair investimentos, estimular a economia circular e fortalecer as metas de descarbonização do país.

Mas afinal, o que é o biometano, como ele é produzido e por que ele é tão importante para o agronegócio?

O que é biometano?

O biometano é um gás renovável obtido a partir da purificação do biogás, que por sua vez é gerado na decomposição de resíduos orgânicos. Sua composição é muito semelhante à do gás natural fóssil, sendo formado majoritariamente por metano. A grande diferença está na origem: enquanto o gás natural vem de reservas subterrâneas não renováveis, o biometano é produzido a partir de resíduos agropecuários e agroindustriais.

Essa característica faz do biometano uma solução sustentável, capaz de reduzir emissões de gases de efeito estufa e dar destino adequado a materiais que antes eram descartados.

Por que ele é estratégico para o agronegócio?

Para o produtor rural, o biometano representa autonomia energética e redução de custos. Além disso, transforma resíduos — como esterco, restos de colheita e subprodutos da agroindústria — em uma fonte de receita adicional, seja pelo uso próprio, seja pela comercialização do excedente.

Outro ponto relevante é o impacto ambiental positivo: ao capturar e utilizar o metano que seria liberado na atmosfera, o biometano contribui para mitigar as mudanças climáticas e fortalece práticas de economia circular no campo.

Como é produzido?

A produção do biometano envolve três etapas principais:

  1. Coleta de resíduos: esterco animal, restos de culturas agrícolas e resíduos agroindustriais são reunidos.
  2. Biodigestão anaeróbia: em um biodigestor, microrganismos decompõem a matéria orgânica na ausência de oxigênio, gerando biogás.
  3. Purificação (upgrading): o biogás é filtrado para remover impurezas, resultando em biometano com alta concentração de metano, pronto para uso.

Esse processo pode ser adaptado a diferentes escalas, desde pequenas propriedades até grandes usinas, tornando a tecnologia acessível para diversos perfis de produtores.

Diferença para o gás natural

Embora ambos tenham aplicações semelhantes, como geração de energia e combustível veicular, o biometano é renovável e sustentável, enquanto o gás natural é um recurso finito. Essa diferença confere ao biometano vantagens ambientais e econômicas, especialmente em um cenário global que exige redução de emissões e maior eficiência no uso de recursos.

O futuro do biometano no Brasil

Estudos técnicos indicam que o Brasil possui um potencial superior a 100 milhões de metros cúbicos por dia de biometano, considerando a conversão de todo o biogás disponível a partir de resíduos agropecuários, agroindustriais e urbanos.

No Estado de São Paulo, essa capacidade é estimada em cerca de 6,4 milhões de metros cúbicos por dia, impulsionada principalmente pela cadeia da cana-de-açúcar — com aproveitamento da vinhaça e da torta de filtro —, além da suinocultura e dos aterros sanitários.

Já nas regiões Sul e Centro-Oeste, o destaque fica para a suinocultura nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, bem como para os confinamentos bovinos. No Centro-Oeste, resíduos de grãos e da pecuária também contribuem para ampliar as oportunidades de produção.