Com a aproximação da COP30 e a crescente urgência de soluções sustentáveis no campo, a irrigação eficiente ganha ainda mais destaque nas pautas globais. No Brasil, onde mais de 70% da água doce captada é utilizada na agricultura, o setor enfrenta o desafio de manter a produtividade em meio ao agravamento das crises hídricas. Eventos extremos como secas prolongadas, estiagens fora de época e chuvas irregulares se tornaram mais frequentes — e a sobrevivência econômica do produtor médio depende, cada vez mais, da capacidade de adaptação.

Neste cenário, adotar boas práticas de gestão hídrica e investir em tecnologias para uso racional da água não é apenas uma tendência, mas uma necessidade. A irrigação eficiente surge como uma estratégia inteligente para garantir segurança alimentar, rentabilidade e sustentabilidade nas propriedades rurais.

O cenário atual da água na agricultura

Segundo documento produzido a partir de informações da Embrapa, INMET e ANA, a agricultura irrigada representa hoje cerca de 20% da área plantada no Brasil, mas responde por aproximadamente 45% da produção de alimentos. Isso mostra o quanto o uso da água de forma planejada pode impulsionar os resultados no campo. Por outro lado, o aumento da pressão sobre os recursos hídricos — seja pela urbanização, industrialização ou mudanças climáticas — exige que o produtor rural repense suas práticas.

A escassez de água já impacta regiões produtoras importantes do país. O Nordeste, por exemplo, convive com ciclos frequentes de estiagem. No Sudeste e no Centro-Oeste, a irregularidade das chuvas afeta diretamente culturas como café, milho e soja.

Irrigação eficiente: mais produção com menos água

A irrigação tradicional, feita com métodos como aspersão convencional ou sulcos abertos, desperdiça boa parte da água aplicada. Em contrapartida, sistemas modernos como gotejamento e microaspersão permitem direcionar a água diretamente à raiz da planta, com maior controle e menor evaporação.

Além disso, tecnologias como sensores de umidade do solo, estações meteorológicas e sistemas automatizados de irrigação ajudam o produtor a tomar decisões baseadas em dados. Isso evita irrigações desnecessárias e reduz custos com energia, fertilizantes e mão de obra.

Captação e armazenamento da água da chuva

A água da chuva é uma fonte gratuita e subutilizada em muitas propriedades rurais. Com técnicas simples, como telhados coletores, calhas e barraginhas, é possível captá-la e armazená-la em cisternas, caixas d’água ou reservatórios escavados.

Esse recurso pode ser usado não apenas na irrigação, mas também para dessedentação de animais e uso doméstico, garantindo maior autonomia hídrica ao produtor. Um dimensionamento adequado do sistema, com base na área de captação e na demanda da cultura, é fundamental para que a técnica seja eficiente.

Estratégias para períodos de estiagem

Antecipar os efeitos do clima e planejar a produção com base em previsões confiáveis é uma atitude estratégica. Além disso, o uso de variedades mais tolerantes à seca, o escalonamento de plantio e o manejo do solo com práticas conservacionistas (como cobertura vegetal e plantio direto) são aliados importantes.

Manter uma reserva hídrica, como pequenas barragens, é essencial para atravessar períodos críticos sem comprometer toda a produção. Em áreas mais afetadas, o reuso de água na agricultura, com tratamento adequado, também surge como alternativa viável e sustentável.

Para o agricultor e pecuarista Roberto Folley Coelho, da Fazenda San Francisco (MS), o tema precisa ser encarado de forma prática e direta. “O produtor rural está na linha de frente, convivendo com os efeitos das mudanças climáticas no dia a dia. O setor agrícola precisa mostrar isso ao mundo: que a água não é apenas insumo, é a base da sustentabilidade”, afirma. Ele faz parte de uma iniciativa chamada Pecuária Tropical pelo Clima, que promove a pecuária sustentável e adaptada às condições do clima tropical.

O papel da irrigação na COP30 e além

O Ministério do Desenvolvimento Regional tem defendido a irrigação como ferramenta estratégica para adaptação climática. Para isso, a proposta é ampliar o acesso à irrigação eficiente, especialmente por meio de políticas públicas e linhas de financiamento voltadas para pequenos e médios produtores.

A tendência para os próximos anos é a valorização de práticas agrícolas resilientes, capazes de garantir segurança alimentar com baixo impacto ambiental. Nesse sentido, a irrigação racional assume protagonismo não só como técnica produtiva, mas como compromisso com o futuro do agro brasileiro.

Na visão técnica, o Brasil já tem condições de se destacar no cenário internacional. “O país opera sistemas de irrigação eficientes em seis biomas diferentes, com tecnologias que atingem 85% de eficiência hídrica. Essa experiência pode ser levada ao mundo como modelo de adaptação e inovação”, destaca Marcos Godoy, professor de Agronomia do UniArnaldo Centro Universitário.

A irrigação eficiente é uma das maiores aliadas da agricultura adaptada às mudanças climáticas. Ao investir em tecnologias adequadas, planejar o uso da água e adotar práticas conservacionistas, o produtor médio pode não apenas garantir a produtividade, mas também se destacar em um mercado cada vez mais exigente quanto à sustentabilidade.  “Na COP30, o Brasil tem uma oportunidade única de mostrar ao mundo como conciliamos produção agrícola com preservação de recursos hídricos”, conclui o professor Godoy.

A hora de agir é agora. Comece analisando sua realidade hídrica, busque assistência técnica e descubra as soluções que cabem no seu bolso e na sua lavoura. A resiliência climática começa com decisões inteligentes no dia a dia do campo.

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