A agricultura brasileira está passando por uma transformação profunda, impulsionada por avanços em genética, bioinsumos e digitalização. A integração entre ciência e tecnologia tem tornado o campo mais produtivo, sustentável e previsível. “Antes buscávamos uma agulha no palheiro. Agora, desenhamos essa agulha desde o início”, afirmou Léa Vargas Mayor, vice-presidente de Melhoramento Genético para a América Latina na Bayer Crop Science, durante o Congresso Nacional das Mulheres do Agro 2025, ao explicar o conceito de melhoramento genético de precisão.
Segundo Léa, o tempo de desenvolvimento de novas variedades caiu de até 15 anos para cerca de cinco, graças à adoção de tecnologias como fenotipagem digital e seleção assistida por marcadores.
O papel da ciência na revolução dos insumos
A convergência entre química e biologia já é realidade no campo. “Microorganismos contribuem não só para a nutrição mineral das plantas, mas também para ganhos de produtividade”, destacou Amália Borsari, diretora de Bioinsumos da CropLife Brasil. Ela ressaltou que a inteligência artificial e o entendimento molecular acessível aceleram o desenvolvimento de soluções inovadoras, tornando a agricultura mais eficiente.
A integração entre os elos da cadeia produtiva é essencial para que essas tecnologias cheguem ao produtor. “Não é possível exigir integração no campo se a indústria não é unida”, pontuou Amália.
Sementes como ponto de partida da inovação
Carminha Missio, sócia-fundadora da Sementes Oilema, trouxe uma visão humanizada da produção de sementes. “Cada produtor precisa conquistar resultados para realizar sonhos de uma família. A semente é ciência e tecnologia depositada num útero chamado terra”, disse. Ela defendeu o papel dos consultores como tradutores da ciência para o campo e destacou a importância do manejo adequado para garantir produtividade.
Segundo Carminha, o sucesso da semente depende de fatores como resistência à estiagem, tratamento com químicos ou biológicos e técnicas de plantio. “A semente só deixa resultado se for para o campo com alto vigor e germinação. Ela nasce forte, cresce forte e frutifica forte”, afirmou.
Sustentabilidade e desafios logísticos
Josi Andrade, diretora regional de Originação da Cargill, destacou o papel da tecnologia na rentabilidade e sustentabilidade. “Quanto mais manejo sustentável no campo, mais valorização por parte dos consumidores finais”, afirmou. Ela também alertou para o desafio da armazenagem, que cresce em ritmo inferior à produção. “O aumento da capacidade estática acontece, mas não acompanha o ritmo da produtividade”, disse.

Fertilizantes e insumos biológicos: o próximo salto
Ricardo Tortorella, diretor executivo da ANDA, abordou a dependência brasileira de fertilizantes importados – cerca de 90% – e defendeu o avanço dos insumos biológicos como solução estratégica. “Os biológicos são uma revolução. São fungos, bactérias e moléculas que temos em abundância no Brasil. Não precisamos importar”, afirmou.
Ele também destacou o papel da indústria na transição energética, com uso crescente de biometano e outras fontes renováveis. “Já temos fábricas que produzem fertilizantes com biometano. Não é promessa, é fato”, disse Tortorella.
Liderança feminina e inclusão no agro
O protagonismo das mulheres no setor foi celebrado por todas as participantes. Léa Vargas apresentou o programa GROW da Bayer, voltado à inclusão e liderança feminina. “Temos pesquisadoras dirigindo tratores e desenvolvendo soluções no campo. A diversidade é uma estratégia consolidada”, afirmou.
Carminha Missio reforçou o compromisso com a meritocracia. “Selecionamos por competência, não por gênero. Mas é interessante ver que no laboratório, a maioria é de mulheres, pela delicadeza e precisão que o trabalho exige”, comentou. Ela também destacou a atuação feminina no campo, especialmente na seleção de sementes.
Integração é o futuro
A palestra evidenciou que o futuro do agro depende da integração entre ciência, tecnologia e pessoas. Com investimentos robustos, inovação acelerada e valorização da diversidade, o setor se prepara para enfrentar os desafios climáticos, ampliar a produtividade e garantir segurança alimentar. Como resumiu Tortorella: “Estamos prontos para produzir cada vez mais e melhor. O Brasil tem tudo para liderar essa nova era da agricultura.”