A Agricultura 5.0, caracterizada pela integração de inteligência artificial, Internet das Coisas (IoT), drones, big data e automação, promete revolucionar a forma como produzimos alimentos, aumentando a produtividade enquanto otimiza o uso dos nossos recursos naturais.
No entanto, esta mudança tecnológica avança em velocidades distintas pelo território brasileiro. Enquanto grandes produtores já implementam sistemas sofisticados de agricultura de precisão e análise preditiva, pequenos agricultores enfrentam barreiras significativas para acessar estas inovações.
A falta de conectividade em áreas rurais, limitações de capital para investimento, e a percepção da tecnologia como custo e não como investimento são alguns dos obstáculos que impedem uma digitalização mais veloz do setor.
Segundo pesquisas recentes da TOTVS, o Índice de Produtividade Tecnológica (IPT) do agronegócio brasileiro está em 0,58 em uma escala de 0 a 1, revelando que o uso de sistemas ERP tem proporcionado ganhos significativos de escala, tanto na gestão do negócio quanto na integração da produção agrícola. Porém, apenas um quinto das empresas do setor alcançaram níveis de excelência tecnológica, posicionando-se no último quartil com IPT acima de 0,75.
Este cenário indica que, mesmo entre os produtores mais estruturados, ainda existem muitas oportunidades para aprimoramento na adoção e aproveitamento de tecnologias, especialmente quando consideramos os pequenos produtores, que enfrentam desafios ainda maiores.
Em uma conversa exclusiva com Fabrício Orrigo, diretor de produtos para Agro da TOTVS, o Agrishow Digital discutiu as tendências, desafios e oportunidades do setor agrícola brasileiro, durante o Universo TOTVS 2025.
Confira a seguir a entrevista na íntegra!
Redação Agrishow (RA): Como você enxerga o momento atual do agronegócio brasileiro? Quais são as oportunidades mais promissoras?
Fabrício Orrigo (FO): Temos quatro grandes linhas de atuação no segmento agro: bioenergia (usinas de açúcar), multicultivo (soluções de gestão agrícola para soja, algodão, café), comercialização de commodities, e varejo agro (revendas de insumos, incluindo cooperativas e cerealistas). Vemos nossos clientes de café vivendo um dos melhores momentos de valorização. Os produtores de grãos, principalmente soja, também estão em situação muito melhor que no último ano, com clima e safras mais favoráveis. O setor está buscando tecnologia para ganho de produtividade e automatização de processos, o que é um momento propício para quem trabalha com tecnologia.
RA: Como você tem visto a adoção da agricultura 5.0 no Brasil, considerando a diversidade de cultivos, produtores e infraestruturas?
FO: Existe um distanciamento grande quando olhamos o perfil do produtor no Brasil. Quando segmentamos por tamanho, vemos que produtores médios e grandes já adotam tecnologias de nível 5.0, utilizando drones, IoT e inteligência artificial. Porém, muitos produtores menores ainda não têm sequer um sistema para gestão da plantação e veem investimento em tecnologia como custo. Nossa pesquisa de Índice de Produtividade Tecnológica (IPT) mostrou que mesmo entre médios e grandes produtores, o índice ficou em torno de 0,48 (numa escala de 0 a 1), indicando que ainda há muito potencial para adoção de tecnologia.
RA: Quais são os principais desafios para elevar o índice IPT e a digitalização no campo?
FO: Temos desafios de conectividade, já que muitos equipamentos captam dados, mas há dificuldade de conexão para trabalho online em tempo real. Outro desafio é transformar a grande quantidade de dados coletados em informações úteis para tomada de decisão. Estamos começando a trabalhar com IA e criação de agentes dentro dos nossos produtos para facilitar as atividades. A integração entre diferentes soluções também é um desafio, pois muitas vezes temos sistemas desconectados.

RA: Além das tecnologias já mencionadas, quais outras você destacaria como tendência para o agro nos próximos anos?
FO: Os dispositivos e a coleta de dados não são mais novos, mas ainda não temos plenitude desse “novo”. Por isso, vamos continuar na linha de IoT e big data para tratamento das informações geradas, e entender como de fazer isso de forma mais clara. E, certamente a IA de forma que venha realmente agregar valor às atividades, não apenas por modismo.
RA: Como a TOTVS enxerga o setor agro daqui a 10 anos em termos de digitalização, competitividade e protagonismo global?
FO: A TOTVS definiu como estratégia um investimento cada vez maior no segmento agro, buscando ser protagonista. Já somos referência em alguns mercados específicos dentro do agro, mas vemos a TOTVS com uma participação muito mais relevante no futuro. Como maior empresa de tecnologia da América Latina, precisamos ter a mesma relevância no agro, que é principal componente do PIB brasileiro. Vejo o Brasil cada vez mais protagonista no cenário global, principalmente com nossa busca por digitalização e ganho de produtividade, e considerando nossas vantagens de clima e solo, além do contexto geopolítico atual. Nosso país tem muita oportunidade para se destacar cada vez mais nesse segmento.
RA: Que mensagem você deixaria para os nossos leitores, os produtores rurais que buscam desenvolvimento tecnológico?
FO: É importante se permitir conhecer mais sobre tecnologia, estudar e conhecer as empresas do setor. Existem soluções para todos os tamanhos de produtores. Muitas vezes o produtor acha que não tem potencial por ser pequeno, mas na verdade há infinidade de produtos e soluções adequados para ele. A tecnologia vem para agregar e trazer produtividade, para fazer cada vez mais com menos. É preciso encontrar o parceiro certo que vai trazer esse retorno, pois nem sempre é um investimento de curto prazo que trará ganhos. A tecnologia precisa ser vista como uma solução que vai trazer ganhos lá na frente e não vai te deixar defasado em relação aos nossos concorrentes de mercado.
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