No dia 7 de outubro é celebrado o Dia do Algodão no Brasil e, neste ano, a data tem um significado especial. Pela primeira vez na história, o país assumiu a liderança mundial nas exportações da fibra, ultrapassando os Estados Unidos, que ocuparam o topo do ranking por mais de duas décadas. 

A conquista é resultado de décadas de investimento em tecnologia, pesquisa e boas práticas agrícolas, que transformaram o algodão brasileiro em referência global de produtividade e sustentabilidade. 

Safra recorde e números que impressionam 

O resultado desse avanço aparece nos números. A safra 2024/2025 foi uma das maiores da história do país, alcançando 4,11 milhões de toneladas de algodão em caroço — um crescimento de 11,1% em relação ao ciclo anterior, segundo dados da Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão).  

A área cultivada também cresceu e ultrapassou 2,1 milhões de hectares, refletindo a confiança dos produtores e o papel cada vez mais estratégico da cultura no agronegócio brasileiro.  

Essa combinação de produtividade e eficiência tem garantido resultados expressivos no comércio exterior. Entre agosto de 2024 e julho de 2025, o Brasil exportou 2,83 milhões de toneladas de algodão em pluma, gerando uma receita de US$ 4,85 bilhões, um aumento de 6% em relação ao ciclo anterior. 

Brasil lidera em algodão certificado e sustentável 

Sustentabilidade não é apenas um diferencial do algodão brasileiro, é o que o coloca na liderança mundial. Atualmente, 83% das fazendas produtoras do país possuem certificação pelo Programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR) e pela Better Cotton, reconhecimentos que atestam a adoção de práticas sociais e ambientais alinhadas aos mais altos padrões internacionais. 

Para conquistar o selo, as propriedades passam por uma auditoria independente que avalia 195 critérios de conformidade socioambiental. São analisados aspectos que vão desde o uso eficiente da água e o manejo integrado de pragas até a preservação da biodiversidade, o cuidado com o solo e as ações de desenvolvimento regional. 

O resultado desse compromisso é expressivo: na safra 2023/2024, o algodão brasileiro respondeu por 48% das 5,47 milhões de toneladas certificadas no mundo, consolidando o país como referência global em produção sustentável. 

Principais destinos e tendências do mercado externo 

O algodão brasileiro continua a expandir sua presença global, com destaque para os mercados asiáticos, que absorvem a maior parte das exportações. Confira os principais destinos: 

  • O Vietnã se consolida como o principal destino do algodão brasileiro, respondendo por cerca de 19% do total exportado. 
  • O Paquistão também se mantém entre os grandes compradores, com aproximadamente 17% do volume destinado ao mercado externo. 
  • A China, embora ainda figure entre os maiores importadores, registrou uma redução significativa nos embarques brasileiros, abaixo dos volumes históricos dos últimos anos. 

Impacto econômico, emprego e sustentabilidade 

O efeito do crescimento do algodão vai além da lavoura. Entre janeiro e junho de 2025, a indústria têxtil gerou mais de 10 mil novas vagas, enquanto o segmento de confecção registrou cerca de 12,3 mil empregos adicionais. 
No comércio exterior, o acumulado de agosto de 2024 a abril de 2025 marcou recorde: 2.383,1 mil toneladas exportadas, resultando em uma receita de US$ 4,12 bilhões. 

Sustentabilidade é uma palavra-chave. Segundo a Abrapa, a expansão do setor está atrelada à responsabilidade ambiental, à rastreabilidade da produção e ao uso de tecnologias de menor impacto, alinhadas às certificações cada vez mais exigidas pelos mercados internacionais. 

Mato Grosso é o protagonista brasileiro 

Mato Grosso segue firme como o maior produtor de algodão do Brasil, respondendo por mais de 70% da produção nacional. Segundo o 12º levantamento de safra da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o estado colheu 6,92 milhões de toneladas de algodão em caroço e pluma na safra 2024/2025, um crescimento de 8,3% em relação ao ciclo anterior. A área plantada também aumentou, passando de 1,41 milhão para 1,46 milhão de hectares. 

A produção apenas em pluma atingiu 2,87 milhões de toneladas, consolidando ainda mais a liderança de Mato Grosso. Esses números refletem não apenas o desempenho da lavoura, mas também a relevância econômica do algodão para o estado e para o país. 

Riscos e desafios 

Mesmo com o cenário favorável, desafios permanecem: 

  • A volatilidade dos preços internacionais e a variação do câmbio podem impactar a competitividade do algodão brasileiro. 
  • Mudanças climáticas, como secas e chuvas irregulares, continuam ameaçando produtividade e qualidade. 
  • Os mercados externos exigem padrões rigorosos de qualidade, certificações ambientais e processos rastreáveis; qualquer falha pode comprometer contratos. 
  • Apesar de avanços, a infraestrutura logística e portuária ainda precisa de melhorias para reduzir custos e agilizar embarques. 

Geração de emprego e renda 

O impacto do algodão vai muito além da lavoura. Cada fazenda produtora movimenta a economia local, gerando em média 30 empregos antes mesmo de a fibra chegar à indústria. No setor têxtil, os números impressionam: segundo dados da IEMI/ABIT, o algodão é responsável por 1,34 milhão de empregos diretos em todo o país. 

Além do emprego, o algodão impulsiona o desenvolvimento regional. Entre 2013 e 2023, as regiões produtoras registraram aumento de 21,3% no Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), atingindo uma média de 0,736, acima da média nacional de 0,606. 

Crescimento impulsionado pela inovação 

A inovação tem sido determinante para a expansão do setor nos últimos 20 anos. O melhoramento genético da planta aumentou a produtividade por hectare e elevou a qualidade da fibra, permitindo que o Brasil se torne referência global sem necessidade de ampliar excessivamente a área cultivada. Atualmente, o algodão ocupa apenas 0,25% do território nacional, mas com padrão de qualidade superior. 

O país conta com 14 laboratórios de análise de fibra com HVI, que integram o Programa Standard Brasil HVI (SBRHVI) e garantem que os dados de qualidade sejam confiáveis para compradores internacionais. Outra prática inovadora é o cultivo em sequeiro aliado ao plantio direto: 92% do algodão brasileiro é irrigado apenas com água da chuva, enquanto técnicas de conservação do solo ajudam a preservar a umidade e reduzir impactos ambientais. 

Esses avanços tecnológicos, combinados com mão de obra qualificada e sustentabilidade, explicam por que o algodão brasileiro não só lidera as exportações como também se mantém como referência em produtividade, ética e responsabilidade ambiental.