O Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo e o primeiro em produção de açúcar e etanol. Ambos devem continuar em ascensão pelo menos até 2019, de acordo com projeções do Ministério da Agricultura. O cultivo evoluiu mas ainda há muito para aperfeiçoar em conservação de água e solo. Um dos exemplos de desenvolvimento é o vinhoto (ou vinhaça), que há trinta anos começava a deixar de ser um vilão poluidor para se tornar recurso importante de produção, conforme explica Edgar Gomes Ferreira de Beauclair, professor doutor do Departamento de Produção Vegetal da Esalq.

Muita tecnologia foi desenvolvida porque esse se tornou um desperdício do qual todos estão conscientes. O vinhoto ajuda a amenizar efeitos da estiagem, é rico em nutrientes e aumenta a qualidade do solo, não só na cana. “Principalmente em tempos de vacas magras, ninguém quer desperdiçar”, continua  Beauclair. Além disso, a fiscalização é intensa, portanto sai mais barato e mais lucrativo cumprir a lei. O desafio fica a cargo do engenheiro agrônomo, para planejar a distribuição correta do insumo no solo, tarefa simples para profissionais bem formados.

Já o fim da queima de cana, fato mais recente, também foi um marco, graças à vontade geral. A queima era mais importante socialmente do que em termos técnicos. Sua extinção exigiu investimento em maquinário, mas a colheira mecânica é mais barata. O lado social no procedimento antigo, de geração de empregos, precisou ser absorvido, em prol de trabalho humano com mais qualidade. Mas qual é o grande problema hoje?

A mecanização do plantio é o maior desafio, que obrigou a adaptação de tecnologias e procedimentos para viabilizar a cana economicamente. O Brasil trabalha com máquinas desenvolvidas nos anos 50 ou 60 que, mesmo em constante aperfeiçoamento, continuam sendo projetos antigos. Isso gera muito pisoteio, compactação de solo, diminui a penetração de água e aumenta a a erosão.

Uma das alternativas é o controle de tráfego nos canteiros, que possibilita uma mecanização mais racional, à medida que o maquinário jamais passa em cima da “linha de cana”, preservando a área plantada. “O modo mecanizado é um caos, nossa forma de propagação envolve uso de mão de obra, não temos desenvolvimento de plantadoras, que ainda são muito pesadas, exigem tratores com alta potência, geram muita compactação e quantidade alta de mudas, com baixa eficiência operacional e agronômica.”

As soluções passam principalmente pelo desenvolvimento de novas tecnologias para a propagação. Uma delas é o plantio com mudas pré-brotadas, mini-toletes que vêm reduzindo de tamanho dos atuais 50 cm de área para um que cabe na palma da mão. Existem ainda os “tubetes”, também de dimensões reduzidas. O problema é que “as grandes empresas não veem esse mercado como prioritário, os projetos têm pouca ou nenhuma verba de desenvolvimento tecnológico”. Mas há motivos para otimismo: “Temos muito espaço para crescer com criatividade, que leva à inovação, temos um ‘feijão com arroz’ muito bom, dá para superar barreiras”.