Alinhar produtividade e sustentabilidade é um objetivo de todo negócio que preza pelo seu próprio desenvolvimento. Neste contexto, a pecuária sustentável representa um pilar fundamental para o futuro do agronegócio brasileiro. 

Ao adotar práticas que conciliam produtividade com a preservação ambiental e o bem-estar animal, o setor fortalece sua competitividade e garante a sustentabilidade dos recursos naturais para as futuras gerações.

E, nada melhor do que o dia da Pecuária, celebrado em 14 de outubro, para mostrar o rumo que a produção brasileira de carne está tomando. 

Para isso, conversamos com Ana Doralina Menezes, presidente da Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável. Boa leitura!

Pecuária brasileira: sucesso mundial!

A pecuária brasileira é um dos setores mais importantes da nossa economia. O setor tem grande relevância na geração de empregos, renda e divisas, além de ser um grande exportador.

Veja alguns dados:

  • População de 238,6 milhões de animais em 2023 (IBGE);
  • 34,06 milhões de cabeças abatidas;
  • 1º maior exportador; 
  • 2º maior produtor de carne bovina; 
  • 3º maior produtor de leite; 
  • 3º maior exportador de couro do mundo.

Além destes expressivos números, a pecuária brasileira preza, cada vez mais, pela sustentabilidade, como destacado por Ana Doralina Menezes.

Nosso território é composto por 66,3% de áreas protegidas para a vegetação nativa, sendo 33,2% destinados à preservação em propriedades rurais, e 9,4% de áreas de conservação”. 

Além disso, nosso país é uma potência agroambiental! “Temos a capacidade de ser o maior gerador de créditos de carbono do mundo. Também podemos recuperar mais de 40 milhões de áreas degradadas até 2035”, afirma a presidente da Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável.

Aumento da produtividade aliada à sustentabilidade

De forma simples, o termo sustentabilidade é definido como o conjunto de práticas que visam promover o crescimento econômico e a lucratividade, sem comprometer o meio ambiente e gerar impactos negativos a médio e longo prazo. 

Portanto, é sobre agir e fazer hoje pensando no amanhã! E é isso que muitos pecuaristas estão fazendo, segundo Ana Doralina. 

Os avanços na tecnologia, genética, sanidade e plantio das pastagens fizeram com que a produção da pecuária crescesse 150%, enquanto o uso da terra aumentou apenas 12%, nos últimos 30 anos”.

A especialista destaca que ainda existem muitas áreas de pastagens degradadas para serem recuperadas no país. “É possível aumentar a produtividade da produção de proteína animal no Brasil sem derrubar uma única árvore”. 

Em quatro décadas a pecuária bovina sofreu uma modernização revolucionária sustentada por avanços tecnológicos dos sistemas de produção e na organização da cadeia, com claro reflexo na qualidade da carne. 

O rebanho mais que dobrou, enquanto a área de pastagens pouco avançou ou até diminuiu em algumas regiões. 

Para Ana Doralina, a economia circular é uma grande aliada da pecuária; “Com a ILP, e ILPF, por exemplo, conseguimos recuperar o solo. Devemos adotar a rotação de culturas agrícolas e depois intercalando com a pecuária, que tem dejetos e pastagem”.

Pilares da pecuária sustentável

Por definição, a pecuária sustentável é a produção, o processamento e a comercialização de produtos realizados com condições técnicas, sociais, econômicas e ambientais responsáveis. 

Também engloba as boas práticas dentro dos pilares de gestão, comunidades, trabalhadores, meio ambiente e cadeia de valor que passam por cada categoria da pecuária, como: 

  • Produtor rural; 
  • Indústrias; 
  • Empresas de insumos e serviços; 
  • Varejo e restaurantes; 
  • Instituições financeiras; e 
  • Sociedade civil.

Para que seja colocada em prática, a Pecuária Sustentável se baseia em alguns pilares:

  • Gestão: as ferramentas de gestão mensuram os impactos da pecuária, garantem o cumprimento da lei e fomentam o setor produtivo para a melhoria contínua e a sustentabilidade da pecuária;
  • Comunidades: respeitam os direitos, cultura, tradições e meio ambiente das comunidades locais influenciadas por suas operações e promovem seu desenvolvimento econômico e social;
  • Trabalhadores: assegura os direitos dos trabalhadores, a liberdade sindical, bem como remuneração, segurança, saúde, bem-estar, capacitação técnica e desenvolvimento profissional;
  • Meio Ambiente: promovem a conservação e o uso eficiente dos recursos naturais, identificando, prevenindo e mitigando os impactos causados pela sua utilização;
  • Cadeia de valor: a produção, o processamento e a comercialização de produtos destinados ou oriundos da cadeia de valor da pecuária bovina são realizados com condições técnicas, sociais, econômicas e ambientais responsáveis. 

Principais práticas da pecuária sustentável

Ao adotar práticas que conciliam produtividade com sustentabilidade e o bem-estar animal, a pecuária nacional aumenta sua competitividade no mercado global e garante a manutenção dos recursos naturais para as futuras gerações. 

Mas quais são as práticas que mais funcionam? Com experiência na área, Ana Coralina dá algumas dicas. Veja:

Bem-estar animal 

A aplicação de técnicas e ferramentas adequadas na criação dos animais, seguindo a conduta de valorização da vida em todas as etapas da cadeia produtiva, contribui para a evolução da produtividade. 

A mudança nos últimos anos de forma positiva de produtores perante as boas práticas de saúde e bem-estar animal nas fazendas é notável, mas a melhoria contínua é necessária para que a pecuária continue evoluindo na sustentabilidade”, afirma Ana. 

Uso mais eficiente da terra

Alcançar uma produção pecuária com uso da terra mais eficiente é essencial para a melhoria da sustentabilidade e fortalecimento da cadeia de valor da pecuária brasileira. 

Para a presidente da Mesa Brasileira, o monitoramento eficiente dos fatores de produção, o que entra na mudança do uso da terra, é essencial. 

A disseminação do conhecimento, a adoção de boas práticas e a busca pelo uso responsável das informações são passos cruciais para tornar a pecuária mais responsável, garantindo a preservação do meio ambiente, o bem-estar social e a viabilidade econômica do setor”.

Pecuária de baixo carbono

Uma pecuária de baixo carbono visa reduzir as emissões dos gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera. 

Para isso, há a utilização de tecnologias/processos/práticas que promovem a mitigação/remoção das emissões de carbono equivalente em relação aos sistemas tradicionais. 

Para Ana Doralina, a pecuária sustentável desempenha um papel essencial nesse contexto, “As atividades agropecuárias e florestais são as únicas que, além de emitirem, podem remover carbono da atmosfera, o que as torna fundamentais para qualquer estratégia de mitigação de GEE”.

Recuperação de pastagens degradadas 

Como já destacado, o Brasil possui um dos maiores potenciais de sequestro de carbono por meio da recuperação de suas pastagens degradadas. 

A revitalização de pastagens aumenta a produtividade e melhora o sequestro de carbono no solo, reduzindo a concentração de carbono na atmosfera. 

Neste sentido, a instituição do Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas é fundamental. 

Ele pretende recuperar até 40 milhões de hectares de pastagens de baixa produtividade em áreas agricultáveis em dez anos, com potencial de dobrar a produção de alimentos no país sem precisar desmatar novas áreas de vegetação nativa”, destaca Ana.

Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Florestas (ILPF) 

Estes sistemas podem expandir a produção agrícola nacional sem a necessidade de abrir novas fronteiras. 

A recuperação de pastagens degradadas e a adoção de sistemas integrados, como a ILPF, evitam a conversão de novas áreas de floresta, sequestram carbono no solo e melhoram a eficiência produtiva.

Redução do ciclo de produção 

Melhorando a eficiência alimentar e o manejo, é possível reduzir o tempo de abate, e consequentemente, reduzir o tempo de permanência dos animais no campo e das emissões. 

Tecnologias como aditivos alimentares também podem ser adotadas para reduzir a fermentação entérica. 

Além disso, programas de melhoramento genético, nutrição balanceada e manejo adequado são fundamentais para esse processo, resultando em uma pecuária mais sustentável.

Como comprovar a pecuária sustentável? Certificações e selos serão necessários!

Comprovar a sustentabilidade na pecuária é fundamental para garantir a credibilidade dos produtos e a confiança dos consumidores. 

Existem diversas formas de comprovar essa prática. A adoção de certificações e selos é uma delas.

Para Ana Doralina, os selos e certificações uma série de benefícios:

  • Garantem que a produção atenda a padrões de qualidade e segurança; 
  • Dão acesso a mercados e valorizam os produtos; 
  • Contribuem para práticas mais éticas e ambientalmente corretas; 
  • Asseguram a rastreabilidade de produtos; 
  • Incentivam a adoção de tecnologias e práticas mais eficientes e inovadoras. 

As certificações auxiliam os produtores a se destacarem em um mercado cada vez mais exigente ao mesmo tempo que garantem ao consumidor que a carne foi produzida de forma sustentável e em conformidade com as leis do País”. 

Confira alguns selos, protocolos e certificações:

Por fim, é importante reforçar que a pecuária brasileira é um setor estratégico para o país, com grande potencial de crescimento e desenvolvimento. 

No entanto, para garantir a sustentabilidade do setor e atender às demandas do mercado, o investimento em tecnologias, melhores práticas de manejo e políticas públicas é essencial para promover o desenvolvimento sustentável da atividade.

Quer saber mais sobre o tema? Então confira uma iniciativa que foca na sustentabilidade bioeconômica e que ganha força na pecuária de corte