Há muito tempo, a cultura da soja vem se consolidando como uma das mais significativas do país. Na safra 2016/2017, foram produzidos mais de 113 milhões de toneladas do grão, gerando mais de U$ 25 bilhões só em exportação, de acordo com dados da CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento).
Porém, mesmo com todo esse sucesso, um problema crônico atrapalha o que poderia ser sucesso ainda maior: o escoamento da soja brasileira para os portos do país – que ainda é difícil. Essa questão logística deficitária encarece muito os custos de transporte, diminuindo a competitividade da soja brasileira. Além disso, o transporte, por muitas vezes não é nada sustentável do ponto de vista ambiental, nem social.
Para ajudar a resolver esse problema crônico, pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) estão desenvolvendo soluções para tornar o transporte da soja mais barato. Em suas análises, os pesquisadores mostram que com a adoção de tecnologia é possível transformar uma rota em corredores verdes, que trarão diversos benefícios quanto a eficiência logística em termos sociais, econômicos e ambientais.
Para conhecermos mais sobre essa pesquisa com corredor verde, conversamos com João Ferreira Netto, pesquisador do CILIP (Centro de Inovação em Logística e Infraestrutura Portuária), vinculado ao Departamento de Engenharia Naval e Oceânica da Poli-USP.
O que são corredores verdes?
Baseado em estudos e experiências internacionais, Ferreira Netto explica que os corredores verdes são estruturas pelas quais se transporta grandes volumes de mercadorias, utilizando multimodalidade (modais rodoviário, ferroviário, fluvial e marítimo) com a aplicação de novas tecnologias que ajudam a equilibrar a produtividade e a sustentabilidade em todas suas vertentes.
Segundo o pesquisador, diversos requisitos devem ser observados para o transporte em um corredor verde: “combustíveis, motores, tecnologia da informação, aspectos operacionais, regulatórios e tudo que ajude o setor de transporte e logística a realizar viagens mais objetivas, usando as menores distâncias e reduzindo as emissões de gases poluentes por meio da diminuição do consumo de combustíveis são pensados para um corredor literalmente verde”.
Surgido na Europa, esse conceito objetiva tornar o sistema logístico mais eficiente, reduzindo seus impactos gerais. Tal modelo tem sido aplicado em corredores que ligam diversos países, como o que vai da Escandinávia até a Itália e outro que liga a Suécia à Alemanha.
Vantagens do corredor verde para o agronegócio e para o transporte de soja mais barato
As vantagens da adoção dessa tecnologia que transformam as rotas de escoamento da soja em corredores verdes podem ser representadas pelos números. Segundo o estudo, a adoção da tecnologia poderia reduzir em 55,5% as emissões de gás carbônico e em 84,8% as de óxido de nitrogênio, além de diminuir o tempo relativo das viagens em 15,8% e o congestionamento na região portuária em 16,7%.
Além disso, Ferreira Netto explica que pode haver possível diminuição dos custos de frete (tornando o transporte de soja mais barato), além da diminuição do lead-time (tempo de espera) de entrega dos produtos, aumentando a competitividade da produção agrícola nacional.
A infraestrutura é o maior desafio na implantação deste sistema
No Brasil, Ferreira Netto comenta que os principais entraves na implantação deste sistema estão relacionados à infraestrutura, principalmente em vias e terminais multimodais. Os aspectos de regulação e legislação também são ações que precisam ser revistos na concepção do pesquisador.
O pesquisador explica ainda que a questão das empresas de logística também é um importante fator que deve ser considerado: “É preciso que as empresas que trabalhem com logística tenham em mente a necessidade de se atualizar e buscar inovações que possibilitem a ‘verdificação’ das atividades de transportes, ao mesmo tempo em que buscam maior eficiência em suas operações”.
Para o sucesso do corredor verde, Netto comenta que investimentos em melhorias dos terminais de transbordo e investimentos em melhorias, principalmente, nas condições de navegabilidade das nossas hidrovias, são fundamentais, sendo os responsáveis diretos pela concepção de corredores verdes no país.
“Em 5 anos será possível transportar mercadorias em corredores verdes”
Obrigatoriamente, o Brasil ainda não precisa de corredores verdes para transportar produtos agrícolas, porém, cedo ou tarde, ter esses corredores verdes para transportar nossos produtos serão pré-requisitos fundamentais.
“Atualmente, ainda não existe na Europa a exigência de que mercadorias sejam transportadas por corredores verdes, entretanto, existem incentivos e mecanismos de financiamento, por parte do governo de alguns países, caso da Suécia, que estimulam sua utilização e o desenvolvimento destes corredores no continente”, explica Ferreira Netto.
“Acreditamos que se os investimentos forem realizados da forma correta, do ponto de vista de valores de direcionamento, em um prazo de 5 anos será possível que se transporte mercadorias por um corredor considerado verde, o que pode estimular a transformação de outros corredores em verdes também”, comenta o pesquisador.
Os corredores verdes visam melhoria social, econômica e principalmente ambiental no transporte da soja. Vale a pena criar ações a respeito! Se você gostou desta novidade, compartilhe em suas redes sociais!