No agronegócio moderno, o campo se move à base de eletricidade, mas é justamente ela que pode se tornar o ponto mais vulnerável. O incêndio, no início do mês de outubro, que destruiu completamente um silo de grãos em Arroio Grande (RS), às margens da BR-116, não deixou vítimas, mas reacendeu um velho temor no setor. Isso porque, quando o alerta vem do fogo, as instalações elétricas também entram em discussão.

Os incêndios rurais já provocaram prejuízos bilionários ao agronegócio brasileiro. Somente durante três meses do último ano, as perdas somaram R$ 14,7 bilhões em todo o país, segundo dados apurados pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). O destaque foi para o estado de São Paulo, que concentrou cerca de R$ 3 bilhões em danos, com mais de 240 mil hectares de cana-de-açúcar destruídos, além de estruturas e equipamentos agrícolas.

Esse valor, evidentemente, engloba danos às culturas e não exclusivamente a incêndios de origem elétrica — embora esses representem uma parcela significativa do total e sejam cada vez mais frequentes em fábricas, silos, secadores e sistemas de irrigação. Para se ter uma ideia, em 2024, um incêndio em um silo no interior de Goiás destruiu mais de 10 mil toneladas de grãos. Outro incêndio atingiu um secador de soja em Ponta Grossa (PR). Foram quase cinco horas de combate às chamas, e a empresa precisou suspender o funcionamento por dias. Casos assim expõem uma fragilidade recorrente: muitos empreendimentos rurais ainda operam com sistemas elétricos ultrapassados, sem proteção adequada, monitoramento térmico ou sensores de falha.

O risco elétrico na armazenagem de grãos

O Brasil enfrenta um desafio histórico na armazenagem de grãos. Em 2025, a produção projetada para o ciclo 2024/25 foi de 350,2 milhões de toneladas, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), enquanto a capacidade estática nacional de armazenagem é de apenas 213 milhões de toneladas. Isso significa que 36% da produção não possui infraestrutura adequada para estocagem, ficando exposta a riscos de perdas, deterioração e falhas operacionais.

Essa diferença entre produção e capacidade de armazenagem sobrecarrega silos e sistemas elétricos, como motores de ventilação e exaustão, que operam sob estresse constante. A falta de modernização nas instalações aumenta o risco de falhas e incêndios, comprometendo a segurança e a continuidade das operações.

Fábio Amaral, engenheiro eletricista e CEO da Engerey Painéis Elétricos, destaca: “O agronegócio brasileiro, responsável por quase 25% do PIB nacional (Relatório PIB do Agronegócio, 2024), depende cada vez mais de soluções tecnológicas para garantir produtividade e segurança em ambientes de alta demanda energética. Porém, esse avanço da mecanização exige uma infraestrutura cada vez mais robusta e inteligente.”

Ele também observa um movimento crescente de busca por tecnologias que priorizem proteção e segurança: “Percebemos um movimento crescente de busca e incorporação de tecnologias que priorizam, antes de tudo, a proteção e a segurança por parte de empresas e produtores rurais. Seja em ambientes novos ou em processos de reestruturação de capacidade, eles têm adotado soluções que aliam robustez, conectividade e previsibilidade.”

Amaral ressalta que sistemas mais modernos podem ajudar a reduzir falhas elétricas em ambientes rurais. Painéis equipados com sensores de monitoramento em tempo real permitem identificar pontos de aquecimento ou sobrecarga antes que se transformem em problemas maiores. Esse tipo de recurso facilita a manutenção preventiva e pode evitar paralisações inesperadas na produção.

A adoção de medidas de proteção elétrica é vista como uma forma de enfrentar os desafios atuais do agronegócio, que depende de uma infraestrutura confiável para manter a produtividade e reduzir perdas. Em um cenário de crescente mecanização e alta demanda energética, a modernização das instalações torna-se um fator importante para garantir segurança e continuidade das operações.