A agricultura brasileira é uma grande produtora de cana-de-açúcar. Segundo dados divulgados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção nacional para a safra 2023/24 está estimada em 637,1 milhões de toneladas, volume 4,4% maior que a safra anterior.

Esse incremento é influenciado por muitos fatores de ordem agrícola, mercadológica e internacional. A guerra entre Israel e o Hamas, os efeitos do El Niño e a alta do preço do petróleo, são alguns pontos que explicam esse crescimento.

Consequentemente, muitas oportunidades se abrem para o segmento canavieiro, com melhores preços e usinas ampliando a moagem de cana-de-açúcar para além do período tradicional.

Números crescentes do segmento canavieiro

Como já destacado, a produção de cana-de-açúcar na safra 2023/24 deverá ter um crescimento de 4,4% em relação ao ciclo 2022/23, sendo estimada em 637,1 milhões de toneladas.

Dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) indicam que até o final de outubro, as unidades produtoras do Centro-Sul processaram 560,54 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, volume que representa aumento de 14,06% em relação ao mesmo período do ciclo anterior (abril a outubro).

De acordo com a Conab, a fabricação de açúcar deverá chegar a 38,77 milhões de toneladas, sendo a segunda maior já registrada na série histórica, perdendo apenas para a temporada de 2020/21, com uma produção de 41,25 milhões de toneladas. 

Ainda assim, a produção do etanol também deverá crescer 5,9% quando comparado com o ciclo anterior, podendo chegar a 33,17 bilhões de litros. Desse total, 14,26 bilhões de litros serão de etanol anidro e 18,91 bilhões de litros de etanol hidratado. 

Principais fatores que podem beneficiar o segmento de cana-de-açúcar

A produção e moagem da cana-de-açúcar é influenciada por diversos fatores, alguns mercadológicos e outros climáticos. 

No atual contexto, muitos são os fatores que influenciam a produção de cana-de-açúcar aqui no Brasil, caso da guerra entre Israel e Hamas, o fenômeno El Niño e alta no preço do petróleo.

Veja mais sobre estes fatores e entenda como eles podem contribuir com o setor canavieiro brasileiro.

1 – Guerra entre Israel e Hamas 

A guerra entre Israel e o Hamas e uma possível escalada do conflito no Oriente Médio tem afetado o mercado do petróleo. Um dia antes do ataque terrorista do Hamas, em 06 de outubro, o barril do Brent era cotado em US$ 84,07 e chegou a US$ 93,76 em 20 de outubro. 

Alguns especialistas indicam a possibilidade de os preços ultrapassarem os US$ 100/barril, a depender do andamento da guerra.

Diante disso, a UNICA destaca que em qualquer mercado, os choques negativos na oferta acabam por elevar os preços recebidos pelos produtores. 

No caso da Cana-de-açúcar, o Brasil se encontra em uma posição privilegiada neste ciclo de colheita, uma vez que, ao contrário dos principais produtores mundiais de açúcar, está vislumbrando condições bastante adequadas para a produção”.

2 – Alta nos preços do petróleo

A possibilidade de alta no preço do petróleo pode elevar os preços do diesel (custos de produção) e da gasolina. Tal fato pode estimular a escolha do etanol hidratado vis-à-vis a fonte fóssil. Em setembro, por exemplo, as vendas do hidratado cresceram 14,6%.

3 – Efeitos do El Niño

O El Niño é um fenômeno climático que tem como principal consequência para as regiões produtoras do Centro-Sul o aumento da temperatura média e do índice pluviométrico nos meses de inverno e primavera, que são relativamente mais secos e mais favoráveis para operacionalização da colheita. 

Para a ÚNICA, a conjunção do El Niño com a condição produtiva favorável, que vem sendo observada no ano de 2023, faz com que o maior risco derivado do fenômeno seja a possível falta de tempo para colheita de toda cana disponível.

4 – Mercado global de açúcar

Produtores e usinas de cana-de-açúcar também devem ter atenção com o mercado global de açúcar, com destaque para alguns pontos: 

  • Novas restrições da Índia para exportações do produto em período pré-eleitoral; 
  • Atrasos no transporte (logística e chuvas) e no embarque (portos sobrecarregados) do açúcar brasileiro; 
  • Previsão de baixa na moagem de cana-de-açúcar em 2023/24 na Ásia (especialmente China e Tailândia); e 
  • Movimentações das usinas em relação a fixação de preços para o próximo ciclo.

Diante destes acontecimentos que estão ocorrendo tudo ao mesmo tempo, o mercado de cana-de-açúcar ainda possui muitas indefinições, mas tudo indica que várias oportunidades se apresentarão ao produtor brasileiro de cana, beneficiando o segmento.

Crescimento da produção estenderá o tempo de moagem nas usinas

Diante da produção recorde na temporada 2023/24, as usinas brasileiras da região centro-sul terão que ampliar a moagem de cana-de-açúcar para além do período tradicional. 

Segundo especialistas da UNICA, essa ação possui muitas vantagens, mas há também desvantagens que merecem grande atenção do segmento.

A vantagem associada ao alongamento é o aumento da produção de açúcar e etanol ainda nesta safra. “Tal fato permite às usinas aproveitarem as condições de mercado favoráveis no momento”, diz a UNICA.

As desvantagens estão relacionadas ao menor tempo para realização de manutenções nos equipamentos durante a entressafra.

Há também o risco de operacionalização da colheita em condições menos favoráveis, em função do maior índice pluviométrico dos meses de verão, que podem levar a problemas de compactação de solo, prejudicando a rebrota da cana soca. 

Também pode ocorrer a redução no rendimento industrial devido à cana-de-açúcar colhida fora do período seco ter menor teor de açúcares.

Mas, de forma geral, especialistas da UNICA destacam que o açúcar tem remunerado de forma mais satisfatória as usinas, o que as têm incentivado a destinar uma maior parcela do ATR para a produção do adoçante. 

Há de se ressaltar, todavia, que devido à produtividade elevada desse ano safra, essa condição não impede que a oferta de etanol avance em relação àquela observada no ano passado.

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