A 30ª edição da Agrishow, maior feira de tecnologia agrícola da América Latina e uma das mais importantes do mundo, está sendo palco de discussões fundamentais sobre o futuro do agronegócio brasileiro.
Um dos destaques é o Agrishow Labs, um espaço de inovação que reúne startups, pesquisadores, investidores e líderes do setor para debater e apresentar soluções tecnológicas de ponta para a agricultura.
Com uma programação exclusiva de conteúdo, o Agrishow Labs promoveu na tarde da última segunda (28), a Palestra Magna “Uma visão sobre a história e as oportunidades do futuro na agricultura”, com a presença do ex-ministro da agricultura, Roberto Rodrigues, que compartilhou sua visão sobre os avanços e desafios da agricultura tropical sustentável, reafirmando o papel protagonista do Brasil no cenário global.
“A inovação tecnológica e a educação são pilares fundamentais para consolidar o protagonismo brasileiro na agricultura mundial sustentável”, afirma o ex-ministro.
Confira a seguir o que aconteceu durante a programação!
A revolução silenciosa que transformou o Brasil em potência agrícola
Durante sua participação no Agrishow Labs, o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues destacou a transformação pela qual o agronegócio brasileiro passou nas últimas décadas. “Há 50 anos atrás, o Brasil importava 30% da comida que consumia”, relembrou Rodrigues, contrastando com a atual posição do país como um dos maiores exportadores agrícolas do mundo.
Esta mudança radical ocorreu em um período relativamente curto. “Nós, assim, em 50 anos, exportamos para milhões de pessoas do mundo inteiro. É muito pouco tempo”, enfatizou o ex-ministro. Segundo ele, a revolução que o Brasil promoveu no agronegócio é “absolutamente única na história do mundo”.
Rodrigues explicou que esta transformação foi possível graças a uma série de fatores combinados, com destaque para o investimento em tecnologia e ciência agrícola tropical. “Uma grande revolução agrícola brasileira investiu muito em tecnologia e ciência e houve um progresso espetacular”, afirmou.
Tecnologia tropical: o diferencial brasileiro no cenário global
Um dos pontos mais enfatizados na palestra foi como o Brasil desenvolveu sua própria tecnologia agrícola tropical, adaptada às condições locais, em vez de simplesmente importar soluções de países de clima temperado.
“A tecnologia que nós tínhamos agrícola 50 anos atrás era importada. De climas temperados. E nós tropicalizamos”, explicou Rodrigues, destacando o papel fundamental da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), criada em 1973, nesse processo de adaptação tecnológica.
“O governo criou a Embrapa em 73. O ministro Cirne Lima, um gaúcho, teve uma visão extraordinária: ‘Precisa criar um órgão de tecnologia tropical'”, recordou. Este foi um passo decisivo para o desenvolvimento de uma agricultura tropical sustentável e produtiva.
O ex-ministro ressaltou que, até aquele momento, “a agricultura no mundo, até 50 anos atrás, era temperada”, concentrada no hemisfério norte. A mudança de paradigma permitiu que o Brasil dominasse técnicas específicas para clima tropical, o que resultou em ganhos significativos de produtividade.
A conquista do Cerrado: de “terra improdutiva” a celeiro do mundo
Outro marco fundamental na evolução do agronegócio brasileiro foi a conquista do Cerrado, região antes considerada imprópria para a agricultura. “Só um louco [acreditaria]. O Cerrado era considerado terra improdutiva”, revelou Rodrigues.
A transformação desta região em um dos principais polos agrícolas do país representa o poder da tecnologia aplicada à agricultura brasileira. “Dominamos o Cerrado, e o Cerrado é hoje o celeiro de alimentação”, afirmou o palestrante.
Esta conquista não foi apenas técnica, mas também estratégica. Como explicou Rodrigues, a agricultura brasileira era historicamente costeira, concentrada nas regiões próximas ao litoral, onde também se concentrava a população. A expansão para o interior do país, impulsionada por programas governamentais e avanços tecnológicos, redesenhou completamente o mapa da produção agrícola nacional.
O Brasil como solução para os desafios globais
Em sua análise do cenário mundial atual, Roberto Rodrigues identificou quatro grandes desafios ou, como ele denominou, “os quatro modernos cavaleiros do apocalipse”: a insegurança alimentar, a crise energética, as mudanças climáticas e a desigualdade social.
Diante destes desafios, o ex-ministro posicionou o Brasil como parte fundamental da solução: “Quem vale mais? A agricultura. Mas qual agricultura? A tropical.” E, dentro deste contexto, o Brasil ocupa posição privilegiada por ser “o único país do mundo que criou uma agricultura tropical sustentável”, afirma.
Esta posição estratégica coloca o país como protagonista no cenário internacional, com capacidade para contribuir significativamente para a segurança alimentar mundial enquanto desenvolve modelos de produção mais sustentáveis.
Inovação na mecanização: da perda à produtividade
Rodrigues trouxe exemplos concretos de como a inovação tecnológica transformou a produtividade do campo brasileiro. Um caso emblemático mencionado foi o das colheitadeiras: “As colheitadeiras velhas jogavam fora 4% da colheita. As máquinas novas que surgiram no Brasil reduziram a perda para 0,4%”, ilustrou.
Este avanço representa não apenas um ganho econômico substancial para os produtores, mas também uma contribuição significativa para a sustentabilidade, reduzindo o desperdício e aumentando a eficiência do uso da terra.
O ex-ministro lembrou que o acesso a essas tecnologias foi facilitado por políticas de financiamento como o Moderfrota (Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras), que possibilitou a renovação do maquinário agrícola brasileiro.
Desenvolve SP: Impulsionando a inovação no campo
Ricardo Brito, presidente do Desenvolve SP, também participou do momento. Ele complementou as reflexões de Roberto Rodrigues com ações práticas que estão sendo implementadas para apoiar o desenvolvimento do agronegócio paulista, especialmente voltadas para pequenos e médios produtores.
Brito destacou que o Desenvolve SP está agora operando diretamente no agro, após um período de ausência. O executivo enfatizou a disparidade entre grandes e pequenos produtores no acesso à tecnologia: “Enquanto o grande produtor está na fronteira mundial da agricultura, o pequeno tem mais dificuldade de crédito”, observou. “A ideia, como o professor Roberto Rodrigues colocou, é que todo produtor paulista, independentemente do tamanho, possa ter máquinas modernas e ser tão produtivo quanto o grande.”
O presidente do Desenvolve SP detalhou as novas linhas de atuação da empresa: “A gente tem uma linha para agroindústria, uma parceria com as cooperativas chamada Liga Mais, para que o pequeno possa fazer projetos de irrigação em 2025 com toda a sustentabilidade necessária.”
O sentido da vida e a missão do agricultor
Encerrando sua palestra com uma reflexão filosófica, Roberto Rodrigues compartilhou sua visão sobre o sentido da vida e o papel do agricultor. Para ele, a vida é “um presente divino” e cada pessoa deve buscar dar sentido a esse presente.
“O meu sentido é ensinar tudo o que eu sei”, afirmou, destacando a importância da transferência de conhecimento para construir um mundo melhor. E acrescentou: “Quem faz a vida continuar? O agricultor. Ele tem uma parceria com Deus.”
Essa visão elevada da função do agricultor como “guardião da vida” reforça a importância social e ambiental do agronegócio, para além de seu papel econômico.
O Brasil como protagonista do futuro alimentar global
Roberto Rodrigues concluiu sua participação no Agrishow Labs com uma mensagem de otimismo e responsabilidade sobre o papel do Brasil no cenário mundial. “O mundo aqui no Brasil é um privilegiado”, declarou, posicionando o país como parte essencial da solução para os desafios globais relacionados à alimentação, energia e mudanças climáticas.
“Não há paz sem comida. Então combater a fome é energia para todo mundo”, afirmou, ressaltando a responsabilidade coletiva de “ensinar tudo o que sabemos” para transformar o conhecimento em “progresso coletivo para todo o Brasil, todo mundo tropical e o mundo inteiro”, finaliza.
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