Agricultura pelo mundo – saiba como funciona a agricultura dos EUA

A agricultura dos Estados Unidos é uma das mais modernas e produtivas do mundo tanto em área quanto em volume de produção.

Grande produtor de grãos, carne e leite, a agricultura estadunidense se organiza em grandes faixas, zonas ou cinturões agrícolas denominados belts, formados conforme as particularidades históricas do povoamento, as condições climáticas e os tipos de solos.

Mas, a agricultura do país vai muito além destes cinturões agrícolas. Com muitos avanços em tecnologia, genética e manejos especializados, a produção agrícola dos EUA mais do que dobrou nos últimos 25 anos.

E para falar sobre a agricultura americana, apresentamos aos leitores da Agrishow Digital o segundo artigo da nossa série AGRICULTURA PELO MUNDO.

No primeiro artigo falamos sobre a agricultura francesa e suas características. Agora é o momento para falar de um dos maiores produtores agrícolas do mundo: os EUA.

Na elaboração deste artigo, tivemos informações oferecidas pela United States Department of Agriculture (USDA), ou Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.

Visão geral do setor agrícola norte-americano

Ao longo da história, a agricultura mundial passou por grandes mudanças. Os Estados Unidos também mudaram bastante. Hoje eles são o segundo maior comerciante agrícola do mundo, depois da União Europeia.

As exportações e importações agrícolas dos EUA aumentaram significativamente nos últimos 25 anos devido à ascensão econômica de muitas economias emergentes, bem como à implementação de políticas estrangeiras e domésticas que expandiram o acesso dos EUA no mercado global.

No mesmo período, a composição geográfica e de produtos do comércio agrícola dos EUA mudou, principalmente devido ao aumento da renda e a crescente capacidade de fornecimento das economias emergentes, que remodelaram a oferta e a demanda global por produtos agrícolas e alimentícios.

Segundo a USDA as exportações agrícolas dos EUA cresceram de forma constante nos últimos 25 anos. “Em 2022, a exportação dos EUA atingiu US$ 196 bilhões. No ano de 1997, esse volume era de US$ 62,8 bilhões”.

Entretanto, a composição dos produtos das exportações agrícolas passou por mudanças na oferta e na demanda globais, mais notavelmente produtos voltados ao consumidor - incluindo os de alto valor, como laticínios, carnes, frutas e verduras.

“Tal demanda é refletida pelo aumento da população e da renda em todo o mundo, além da crescente diversificação das dietas”, destacam os analistas da USDA.

Sistema agrícola dividido em cinturões

Uma característica bastante marcante da agricultura dos EUA são os famosos belts, conhecidos como cinturões agrícolas.

Os belts não são espaços exclusivos de monocultura, mas favorecem determinados produtos, como milho, trigo, algodão e leite.

São cinturões agrícolas dos EUA:

Cinturão do Milho (Corn Belt)
Cinturão do Trigo (Wheat Belt)
Cinturão do Algodão (Cotton Belt)
Cinturão do Leite (Dairy Belt)

Os principais produtos da agricultura dos Estados Unidos e suas respectivas regiões são:

Milho e a soja: cultivados principalmente em Illinois, Iowa e Nebraska, são as culturas mais comuns nos Estados Unidos e geram as maiores vendas de exportação agrícola.
Trigo: cultivado nos estados de Kansas, Dakota do Norte, Montana e Washington.
Carne bovina: com grande população de animais nos estados do Texas, Nebraska e novamente Kansas.
Algodão: Embora seja associado à região sul, ele também é cultivado em lugares distantes como o Arizona e a Califórnia.
Arroz: produzido apenas no Arkansas, na Califórnia e na Louisiana.
Feno: cultivado na maioria dos estados;
Batata-doce: produzido em alguns condados da Carolina do Norte.

”Até o ano de 2050, espera-se que a demanda mundial por alimentos aumente em cerca de 60%. Para enfrentar esse desafio, os EUA têm desenvolvido novas práticas agrícolas, construído novos mercados e removido barreiras comerciais”, destaca a USDA.

Estrutura Fundiária atual dos EUA

Segundo dados da USDA, em 2022, os Estados Unidos registraram cerca de 1,9 milhões de propriedades rurais, que ocupam cerca de 847,4 milhões de hectares, com uma produção de cerca de US$ 449,6 bilhões em produtos agrícolas.

Desse total, cerca de 97% pertencem a propriedades familiares e cerca de 88% pertencem a famílias de pequenos produtores. Já as propriedades familiares de larga escala ocupam cerca de 25% da área agrícola e representam cerca de 52% do valor total da produção agrícola.

Vale destacar que nos Estados Unidos, o Departamento de Agricultura classifica as propriedades rurais de acordo com o valor produzido e comercializado.

“A classificação em pequeno, médio ou grande produtor se dá por meio do valor de produtos agrícolas produzidos e vendidos em um determinado ano, sendo o valor mínimo US$1,000”, destaca o departamento.

Além disso, o setor de agricultura e indústrias relacionadas a este setor correspondem a 5,5% do PIB (dados de 2022), em um volume de cerca de US$1,4 trilhões. A modo de comparação, o PIB do agronegócio brasileiro correspondeu por 23,8% do PIB do nosso País.

Nos EUA, as indústrias relacionadas à agricultura são:

Produção de alimentos e bebidas;
Comercialização de alimentos e bebidas;
Consumo de alimentos e bebidas, têxteis, vestuário;
Produtos de couro;
Silvicultura; e
Pesca.

Clima e a geografia contribuem com a produção agrícola dos EUA

Nos EUA, o clima desempenha um papel importante na produção de alimentos à base de plantas, já que há exigências climáticas naturais para o crescimento produtivo de cada espécie.

As frutas cítricas, como laranjas, toranjas, limões e limas, por exemplo, exigem um clima tropical ou subtropical. Nos Estados Unidos, tais frutas são cultivadas principalmente na Flórida e no sul da Califórnia. O mesmo acontece para as outras culturas.

Além disso, o Foreign Agricultural Service (FAS), ligado à USDA, lidera os esforços internacionais dos EUA para posicionar a agricultura no centro das soluções para a crise climática.

Para isso, o FAS se concentra em realizar ações relacionadas ao:

Comércio;
Sistemas alimentares;
Segurança alimentar;
Crescimento sustentável da produção e na
Capacitação e em questões relacionadas.

Neste contexto, o USDA reconhece que a inovação e a tecnologia são fundamentais para a produção agrícola sustentável e inteligente em relação ao clima, desde que tais inovações sejam acessíveis e incluam todos os produtores e administradores de terras do mundo todo.

“Nós, do USDA, estamos envolvidos em um esforço de todo o governo para combater a crise climática, além de conservar e proteger as terras, a biodiversidade e os recursos naturais dos EUA”.

Por meio de pesquisas, práticas de conservação e parcerias, o USDA visa encontrar soluções para os desafios agrícolas, aumentar o crescimento econômico e criar novos fluxos de renda para agricultores, pecuaristas, produtores e silvicultores privados.

“O USDA tem o compromisso de apoiar uma gama diversificada de agricultores, pecuaristas e proprietários de florestas privadas por meio das parcerias conhecidas como Partnerships for Climate-Smart Commodities”.

Esse esforço expandirá os mercados para as commodities inteligentes em termos de clima dos Estados Unidos, alavancará os benefícios dos gases de efeito estufa da produção de commodities inteligentes e proporcionará benefícios diretos e significativos para a agricultura de produção, inclusive para produtores pequenos e carentes.

Sustentabilidade: importante foco da agricultura dos EUA

Desde 1948, a produção agrícola total dos EUA mais do que dobrou. No mesmo período, a população dos EUA também mais do que dobrou. Segundo a USDA, a capacidade do setor agrícola de alimentar muito mais pessoas hoje com o uso de menos terras agrícolas do que há seis décadas, é atribuída ao aumento da produtividade agrícola.

O departamento de agricultura dos EUA destaca que os Estados Unidos lideraram o esforço para acelerar o progresso rumo à segurança alimentar global. “Os Estados Unidos destinaram milhões de dólares em auxílio alimentar de emergência e assistência ao desenvolvimento para responder à crise global de segurança alimentar”.

Através do Feed the Future, a principal iniciativa global de segurança alimentar do Governo dos EUA, os Estados Unidos desenvolvem formas de construir sistemas alimentares mais sustentáveis e resilientes em 20 países-alvo em todo o mundo, ajudando os agricultores a:

Levar os produtos aos mercados mais rapidamente;
Armazenar alimentos com segurança e prevenir perda e desperdício de alimentos;
Utilizar dados agrícolas para ajudar a aumentar a produção de alimentos; e
Fornecer sementes resistentes à seca e ao calor aos agricultores.

“Estes investimentos têm criado empregos nos Estados Unidos e no exterior”, destaca a USDA.

Produtores também adotam cada vez mais práticas sustentáveis

Com o propósito de mitigar a emissão de gases do efeito estufa e promover a captura de carbono, no ano de 2022, o Presidente Joe Biden sancionou a Lei de Redução da Inflação, que destina cerca de US$18 bilhões para iniciativas voltadas para práticas de agricultura inteligente e silvicultura.

O estímulo a essas práticas estão em consonância com programas de sustentabilidade e conservação em andamento promovidos pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.

Além das iniciativas do governo dos EUA, os produtores do país estão adotando cada vez mais práticas sustentáveis, que reduzem os impactos no uso do solo e dos recursos naturais e que são capazes de melhorar a produtividade e a eficiência das culturas.

O modelo de agricultura sustentável tem sido adotado em propriedades de todos os tamanhos e que produzem desde alimentos até fibras e combustíveis. A adoção de práticas agrícolas sustentáveis cria sistemas mais resilientes às mudanças climáticas.

Dentre as práticas mais comuns adotadas nas propriedades rurais nos Estados Unidos estão:

Rotação de culturas;
Plantação de culturas de cobertura:
Adoção da prática de plantio direto; e
Integração lavoura-pecuária.

Tecnologia: já disseminada entre produtores dos EUA

Além das iniciativas sustentáveis, o uso da tecnologia já está disseminado entre os produtores rurais nos Estados Unidos.

Assim como ocorre com uma parcela da agricultura brasileira, há significativos avanços no uso de sensores, maquinários e tecnologia da informação para atingir uma agricultura de precisão com mais eficiência, segurança e sustentabilidade.

O uso destas tecnologias agrícolas reduz o consumo de água, fertilizantes e defensivos, além de aumentar a produtividade.

Nos EUA há grandes investimentos em pesquisa e desenvolvimento de equipamentos e maquinários, além de treinamento de equipes para operar as novas tecnologias.

As inovações tecnológicas mais recentes incluem tratores autônomos, mapeamento via satélite ou com o uso de drones, e sensores de solo capazes de otimizar o uso de recursos e a aplicação de defensivos.

Também é crescente o uso da automação na pecuária, com sistemas automatizados para produtos derivados do leite, alimentadores, emprego de robôs e inteligência artificial para o bem-estar animal e produtividade da propriedade rural.

Porém, os principais desafios enfrentados pelos produtores rurais nos Estados Unidos, assim como na maioria dos países com agricultura pujante, envolvem acesso a crédito, boas condições de financiamento para adoção de tecnologias, crescente custo das matérias-primas e trabalhadores qualificados.

Outras questões indiretas se relacionam a dificuldades de acesso a mercados e barreiras não-tarifárias.

Confira algumas curiosidades sobre a agricultura dos EUA

Com grande tradição na produção de alimentos, a agricultura americana tem algumas curiosidades bem interessantes. Veja:

Os Estados Unidos são um país fundado a partir da agricultura. À época da independência, em 1776, o país era essencialmente rural, com pequenas propriedades rurais familiares espalhadas pelo território.
Algumas invenções criadas nos Estados Unidos incluem o descaroçador de algodão, criado em 1793, a ceifeira mecânica McCormick, e inovações no arado promovidas por John Deere, fundador de uma das maiores empresas de equipamentos e maquinários agrícolas do mundo.
Harriet Strong, detentora de cinco patentes de invenções relacionadas a represas e reservatórios, criou um sistema para armazenamento de água e controle de inundações. Ela foi uma autoridade em conservação de mananciais e uma importante figura no movimento pelo direito das mulheres no século XIX.
A maior tradição dos Estados Unidos, o feriado de Ação de Graças é comemorado em celebração à colheita e outras bênçãos obtidas ao longo do ano. Sua origem remonta ao banquete oferecido pela colheita do ano de 1621 e dividida pelos colonizadores e os americanos indígenas nativos.

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