Agrishow faz parte da divisão Informa Markets da Informa PLC

Este site é operado por uma empresa ou empresas de propriedade da Informa PLC e todos os direitos autorais residem com eles. A sede da Informa PLC é 5 Howick Place, Londres SW1P 1WG. Registrado na Inglaterra e no País de Gales. Número 8860726.

Japão na Amazônia: união pelas agroflorestas

Article-Japão na Amazônia: união pelas agroflorestas

shutterstock_1634589589.jpg
Observando as comunidades ribeirinhas e adotando técnicas orientais, os imigrantes japoneses desenvolveram seus sistemas de agroflorestas, unindo a produção de alimentos com a preservação das florestas.

Mais de 16 mil km separam o Japão da pequena cidade de Tomé-Açu, no interior do estado do Pará, em plena floresta amazônica. Mas, mesmo com toda essa distância, cerca de mil japoneses e seus descendentes vivem no local cuidando das suas agroflorestas.

A cidade é associada não apenas à colônia japonesa, mas também ao método de cultivo agroflorestal desenvolvido pelos próprios imigrantes. 

Denominado Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu (Safta), esse modelo combina o plantio de uma série de plantas diferentes na mesma área. Assim, é possível produzir alimentos e, ao mesmo tempo, manter a floresta. 

Conheça um pouco mais sobre a presença japonesa na Amazônia, assim como o modelo de agroflorestas conduzido pelos imigrantes.

Um pouco de história da comunidade Tomé-Açu

As primeiras famílias de japoneses chegaram na região amazônica em 1929. Neste período, o Japão vivia um momento de grave crise interna, fazendo o país asiático a cair numa depressão nunca antes experimentada.

Já no Brasil, as famílias japonesas receberam lotes de terra cobertos por floresta, onde construíram suas casas e cultivaram suas plantações da forma tradicional.

Anos depois, as famílias orientais aqui instaladas foram alvo de uma série de restrições do governo brasileiro em decorrência da Segunda Guerra Mundial. Os mais velhos inclusive dizem ter vivido numa espécie de “campo de concentração” neste período.

Com o fim da guerra, a colônia viveu um ciclo de grande prosperidade durante os anos 1960, principalmente com a produção de pimenta-do-reino. Porém uma praga, chamada fusariose, arrasou as plantações, forçando os agricultores a buscarem alternativas.

Foi então que, observando comunidades ribeirinhas e resgatando técnicas ancestrais japonesas, os imigrantes que ficaram na área desenvolveram um método de agrofloresta que privilegiava a diversidade de espécies e permite a produção de alimentos o ano todo, ajudando a regenerar áreas desmatadas nas últimas décadas.

Até os dias de hoje, as agroflorestas mantidas pelas famílias nipo-brasileiras são um sucesso, atraindo vários pesquisadores e agricultores interessados em replicá-las em outras partes do Brasil e do mundo.

Observando a floresta plantada

Como já destacado, os japoneses que ficaram tiveram que buscar novas soluções para superar a queda de produção da pimenta-do-reino — daí a mudança para um sistema mais diversificado: as agroflorestas.

A inspiração para superar o colapso da pimenta veio do próprio entorno de Tomé-Açu. Ao observar as plantações dos povos nativos, os japoneses passaram a abraçar a fruticultura. Eles entenderam que ao imitar a floresta, evitaram-se as pragas e as doenças.

O modelo agroflorestal foi implantado devido aos fracassos da monocultura. Com a crise da pimenta, a gente teve que diversificar a produção, até para controlar as doenças”, explica o presidente da Cooperativa Mista de Tomé-Açu (Camta), Alberto Oppata em entrevista para a BBC Brasil.

Consorciação é o nome do método utilizado pelos japoneses no Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu. A ideia das agroflorestas é que as culturas sejam implantadas e renovadas em uma mesma área, não havendo a necessidade de derrubar zonas de mata para plantio. 

Para isso, o modelo possui duas vertentes básicas: 

  • Formar uma floresta de frutíferas em diferentes estratos — árvores mais altas que fazem sombra para árvores mais baixas. 
  • Plantas devem ser produzidas em ciclos de curto, médio e longo prazo.

Por exemplo, o maracujá leva cerca de oito meses para ser produzido. Assim, planta-se ele junto com algo de colheita rápida, como feijão e abóbora. Em três anos, a pimenta-do-reino começa a produzir. Em cinco anos, o cacau passa a produzir, e assim segue o ciclo”, explica Oppata para a BBC.

Com isso, a comunidade é vista como guardiã da floresta, exercendo um papel de excelência na proteção ambiental, preservando a biodiversidade e os recursos naturais da Amazônia.

Tudo isso está alinhado à educação ambiental e conscientização da comunidade local sobre a importância das florestas para eles.

As agroflorestas não seguem uma única receita!

Por definição, todo sistema agroflorestal é uma forma de uso e ocupação do solo em que árvores são plantadas e manejadas em associação com culturas agrícolas ou forrageiras.

No entanto, dentro das agroflorestas não há uma fórmula única a ser seguida. Cada agricultor combina as plantas do modo mais harmônico possível. Na comunidade de Tomé-Açu, por exemplo, a pimenta-do-reino é cultivada ao lado das bananeiras e cacaueiros. 

Há também altos pés de cupuaçu, açaí, pupunha e outras árvores, plantados há mais de uma década, para fazer a necessária sombra às plantas mais baixas.

Ou seja, não há uma receita de bolo. Muitas vezes a simbiose de uma planta com a outra planta não é muito boa, mas com uma terceira planta pode ser. “Nós vamos estudando e vemos na prática a melhor maneira de desenvolver esse sistema agroflorestal”, pondera o agricultor Ivan Saiki, em entrevista para a BBC. 

Há 20 anos, demos um questionário a 40 cooperadores, perguntando qual era o sistema de consorciação deles. Desses, apenas dois saíram iguais. Isso comprova que o sistema daqui não foi imposto por pesquisadores é o próprio agricultor que foi se adaptando”, complementa.

Sistema agroflorestal e a agroindústria sempre conectados

Atualmente, praticamente toda a produção é comprada pela Camta. Como explicado para a BBC, a cooperativa mantém uma agroindústria para o processamento e beneficiamento das frutas na região. 

Temos ciência de que o sistema agroflorestal e a agroindústria estão muito conectados, pois a fábrica ajuda o produtor a escoar a sua produção, agregando valor ao produto”, explica Larissa Saiki, da Camta. 

Os bens são exportados para o Japão, diversos países da Europa e os Estados Unidos.

Diante do processo de degradação ambiental e transformação por meio das agroflorestas, os imigrantes japoneses querem utilizar a experiência adquirida para transformar a região, compartilhar o conhecimento com o mundo e levar o modelo agroflorestal para mais regiões do Brasil

Quer saber mais sobre o tema? Então confira este artigo sobre agroflorestas e entenda mais sobre esse sistema de produção sustentável

Ocultar comentários
account-default-image

Comments

  • Allowed HTML tags: <em> <strong> <blockquote> <br> <p>

Plain text

  • No HTML tags allowed.
  • Web page addresses and e-mail addresses turn into links automatically.
  • Lines and paragraphs break automatically.
Publicar