Em novembro de 2025, o Brasil será o centro das atenções globais ao sediar a COP30 — a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Belém do Pará. Pela primeira vez realizada na Amazônia, a COP30 marca um momento estratégico para o país, que reúne dois ativos fundamentais para as discussões climáticas: a maior floresta tropical do planeta e um dos maiores polos de produção agrícola do mundo.

Em um cenário global que exige urgência na transição para modelos mais sustentáveis, o agronegócio brasileiro tem um papel central. Segundo o Cepea/USP (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) o setor responde por cerca de 21,8% do PIB brasileiro em 2024 e por mais de 50% das exportações nacionais, sendo, ao mesmo tempo, parte do desafio e da solução climática. Nesta COP, o Brasil poderá mostrar ao mundo como produzir em larga escala com responsabilidade ambiental.

O agronegócio brasileiro e as mudanças climáticas

O setor agropecuário é um dos mais sensíveis às variações do clima — e também um dos que mais impacta o meio ambiente. Segundo o SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa), a agropecuária foi responsável por 405 milhões de toneladas das emissões em 2023 no Brasil, principalmente em função da pecuária e do uso da terra.

As mudanças no regime de chuvas, o aumento da temperatura e a degradação do solo já impõem desafios crescentes à produção agrícola. Além disso, o desmatamento associado à expansão irregular da fronteira agrícola coloca o Brasil sob pressão internacional.

O grande desafio é conciliar produtividade com preservação, garantindo que o crescimento do setor aconteça dentro de critérios ambientais sólidos, baseados em ciência, tecnologia e boas práticas.

Iniciativas brasileiras para a agricultura de baixo carbono

Embora os desafios sejam reais, o Brasil possui iniciativas pioneiras na promoção de uma agricultura sustentável e de baixa emissão de carbono. Um dos principais exemplos é o Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono), criado em 2010 e reformulado em 2020. 

Outro programa de destaque é o Plano Safra, que tem ampliado linhas de crédito para produtores que adotam práticas sustentáveis. Na última edição (2024/2025), o Plano Safra da Agricultura Familiar ampliou em 26,6% o número de operações em comparação à safra 2022/2023, com mais de 1,7 milhão de contratos firmados em todo o País. Isso significou um aumento de 20% no volume de crédito rural acessado.

Além disso, o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas (PNCPD), lançado em 2023, visa recuperar hectares, reduzir as emissões e aumentar a produtividade sem abrir novas áreas.

Essas políticas mostram que o país já possui instrumentos para construir uma agricultura mais resiliente, adaptada e valorizada internacionalmente.

Oportunidades para o agronegócio na COP30

A COP30 representa uma vitrine global para o agro brasileiro. E, de acordo com o ex-ministro Roberto Rodrigues, em entrevista publicada no Agrishow Digital, ” o Brasil está em uma posição como protagonista no cenário internacional, com capacidade para contribuir significativamente para a segurança alimentar mundial enquanto desenvolve modelos de produção mais sustentáveis.”

“Quem vale mais? A agricultura. Mas qual agricultura? A tropical.” E, dentro deste contexto, o Brasil ocupa posição privilegiada por ser “o único país do mundo que criou uma agricultura tropical sustentável”, afirma o ex-ministro.

Entre as oportunidades, destacam-se:

  • Valorização da agricultura familiar, especialmente na Amazônia e outras regiões de biodiversidade rica, como exemplo de produção sustentável em pequena escala.
  • Captação de financiamentos internacionais voltados à transição verde, incluindo fundos climáticos e acordos bilaterais.
  • Posicionamento do Brasil como protagonista climático, com poder de influência nas negociações globais a partir de resultados práticos no campo.

Essas oportunidades também abrem caminho para novos mercados, selos de sustentabilidade, certificações e fortalecimento da reputação do agro nacional.

Desafios a serem superados

Apesar dos avanços, ainda existem obstáculos que precisam ser enfrentados com seriedade. Um deles é a redução das emissões de metano na pecuária. Tecnologias como suplementação alimentar, manejo de pasto e genética animal têm potencial para mitigar esse impacto.

Outro ponto crítico é o desperdício de alimentos, que afeta toda a cadeia produtiva. Segundo a ONU, o Brasil desperdiça cerca de 27 milhões de toneladas de alimentos por ano, número que poderia ser drasticamente reduzido com melhorias logísticas e armazenamento.

Por fim, o maior desafio continua sendo o equilíbrio entre produção agrícola e conservação ambiental.  

Um novo protagonismo no campo

A COP30 é mais do que um evento internacional. É a chance de o Brasil mostrar ao mundo que é possível produzir com responsabilidade, gerar riqueza no campo e preservar o meio ambiente. É a oportunidade de unir os diferentes perfis do agro — do pequeno ao grande produtor, dos técnicos aos gestores — em torno de um mesmo propósito: ser parte ativa da solução climática global.

Se o campo for protagonista, o Brasil será também. E é isso que está em jogo em Belém.

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