Você já ouviu falar sobre a agrofloresta? Esse é um sistema de cultivo que integra árvores e culturas agrícolas em um mesmo espaço, sempre em sintonia e com benefícios agrícolas, ambientais e socioeconômicos.
No Brasil, a adoção desse modelo ganha cada vez mais força, especialmente na Amazônia, onde a preservação ambiental é crucial para o planeta.
Entre as diversas culturas que se beneficiam da agrofloresta, a cafeicultura se destaca.
O chamado café agroflorestal está desempenhando um papel fundamental na conservação da floresta amazônica.
Ao cultivar o café sob a sombra das árvores, os produtores não apenas garantem a qualidade do grão, mas também contribuem para a manutenção da biodiversidade e a melhoria do solo.
Para saber mais sobre essa possibilidade, confira o conteúdo de hoje da Agrishow Digital. Boa leitura.
O que é a agrofloresta?
Em um artigo publicado aqui na Agrishow Digital, falamos que os sistemas agroflorestais (SAF’s), ou agrofloresta, são modelos agrícolas que permitem a produção de alimentos e, ao mesmo tempo, promover a preservação das florestas.
No referido artigo, Diego Barbosa Alves Antonio, Engenheiro Florestal e pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril definiu o termo como:
“Forma de uso do solo em que árvores, arbustos, cultivos anuais ou pastagens e animais estão em associação, em consórcio e/ou em sucessão, com um determinado objetivo, com uma identidade”.
Logo, os benefícios da agrofloresta são:
- Produção Sustentável;
- Conservação da Biodiversidade;
- Melhoria do Solo;
- Sequestro de Carbono.
E um dos manejos de maior sucesso baseado nos sistemas agroflorestais está relacionado ao café agroflorestal, como veremos a seguir.
Conheça o primeiro café agroflorestal
Plantar café com a floresta de pé! Essa é uma metodologia de plantio que une, de forma harmônica, o cultivo de café com espécies nativas na região de Apuí, no sul do Amazonas.
O projeto já conseguiu regenerar 234 hectares de áreas desmatadas.
Hoje, o projeto já é referência, servindo de modelo para harmonizar a produção agrícola com a preservação e regeneração da floresta.
Para entender o porquê, vale contar a breve história do projeto na concepção de Jonatas Machado, em entrevista para a Forbes.
Ele é fundador e diretor da Amazônia Agroflorestal, empresa responsável pelo Café Apuí Agroflorestal. É também um antigo colaborador do IDESAM.
Ele contou que, no início do projeto, a equipe de trabalho encontrou áreas pouco produtivas em Apuí. No entanto, a qualidade dos frutos de café em volta da floresta ainda preservada chamou a atenção.
“Os frutos de café ao redor de mata nativa estavam melhores do que os das áreas de produção ativa. A mata sombreou a área, fazendo o café maturar no tempo correto. Entendemos que era a natureza nos ensinando o que fazer”.
A partir daí, Machado e sua equipe passaram a investir no sistema agroflorestal, com a criação do primeiro café agroflorestal da Amazônia.
Principais características do café agroflorestal
Um exemplo de sucesso do café agroflorestal é o projeto realizado no município de Apuí, no Amazonas.
Nele, os produtores locais, com o apoio de diversas instituições, conseguiram revitalizar a produção de café na região, combinando o cultivo tradicional com práticas agroflorestais.
Os resultados foram surpreendentes. Jonatas Machado celebra as vantagens do modelo e os retornos que traz para as 115 famílias de agricultores aderidos ao projeto Café Apuí Agroflorestal.
“Começamos com cerca de 10 hectares em Apuí, lá em 2012. Em 2023, contabilizamos 230 hectares só em Apuí. Atualmente, enviamos o nosso café agroflorestal para a Região Norte, São Paulo e também a Holanda”.
Logo, a agrofloresta exerce benefícios ambientais e socioeconômicos tanto para a Amazônia quanto para agricultores da região.
Como benefícios ambientais, se destacam;
- Preservação da floresta: o café agroflorestal evita o desmatamento, pois as árvores são mantidas em pé, criando um ambiente propício para a fauna e flora local e para a maturação do café;
- Diversidade biológica: a diversidade de espécies presentes na agrofloresta favorece a polinização, o controle de pragas e a fertilidade do solo;
- Melhoria do solo: as raízes das árvores ajudam a fixar o solo, prevenindo ocorrências de erosão e aumentando a sua capacidade de retenção de água e nutrientes;
- Regulação do clima: as árvores da agrofloresta atuam como excelentes reguladoras do clima local, amenizando as temperaturas extremas e aumentando a umidade do ar.
Já no âmbito socioeconômico, o uso do café em sistemas agroflorestais proporciona:
- Melhoria da renda dos agricultores: a renda será mais estável e diversificada, uma vez que eles podem comercializar tanto o café como outros produtos da floresta;
- Fortalecimento das comunidades: A produção de café agroflorestal fortalece as comunidades locais, promovendo a geração de emprego e renda, além de preservar os conhecimentos tradicionais sobre a floresta;
- Valorização dos produtos locais: o café agroflorestal é um produto com valor agregado, o que contribui para a valorização dos produtos locais e para a construção de uma marca forte.
Desafios e Oportunidades para a produção de café no sistema de agrofloresta
Apesar dos benefícios, o café agroflorestal ainda enfrenta alguns desafios, que pesquisadores e agricultores têm que enfrentar, como:
- Necessidade de investimentos em pesquisa e desenvolvimento;
- Falta de acesso ao crédito;
- Dificuldade de comercialização dos produtos.
No entanto, as oportunidades são grandes, especialmente com o crescente interesse dos consumidores por produtos sustentáveis e a valorização da agricultura familiar.
E é com base nessas oportunidades que Jonatas Machado mostrou para a Forbes que a expectativa é grande.
“Temos uma meta ambiciosa para 2025. Queremos ampliar a área de produção do Café Apuí Agroflorestal de 234 para 400 hectares, com uma produção de 200 toneladas de café advindo da agrofloresta”.
Para além dos números, Machado sugere a possibilidade de variação de culturas que o sistema agroflorestal possibilita e como ele se autorregula.
Nas propriedades rurais em que o projeto atua em Apuí, Jonatas contou à Forbes que os SAF’s consorciam o plantio do café com ingá, açaí, cacau e outras espécies frutíferas, como a andiroba, e madeireiras, como jatobá e seringueira.
Quanto ao potencial de regeneração do sistema agroflorestal, Jonatas contou que desde a implementação do projeto, em 2012, o Café Apuí Agroflorestal já regenerou 234 hectares de terras desmatadas.
“Cada hectare de café plantado é um hectare de floresta regenerada”, comemora!