Nos últimos anos, o mercado de créditos de carbono cresceu significativamente em todo o mundo. Em 2023, por exemplo, o setor movimentou cerca de US$ 909 bilhões globalmente, conforme o relatório da Refinitiv.
Para os próximos anos, a expectativa é de uma expansão contínua, impulsionada por pressões ambientais, compromissos climáticos e incentivos à economia verde.
E, o Brasil será protagonista. Segundo estudo da ICC Brasil, nosso país pode gerar até R$ 100 bilhões em receitas no mercado de carbono até 2030.
Para o produtor rural brasileiro, isso representa uma grande oportunidade: transformar práticas sustentáveis em fonte de renda extra e valorização da propriedade.
No entanto, aproveitar esse potencial exige atenção aos aspectos técnicos e regulatórios. Um dos principais é saber como calcular e monitorar os créditos de carbono, garantindo que eles sejam reconhecidos e certificados no mercado.
Entenda, neste artigo, como as propriedades rurais podem fazer isso e obter ganhos concretos e duradouros.
O que são créditos de carbono?
Oficializado pelo protocolo de Kyoto, no âmbito da UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, na sigla em inglês), os créditos fazem parte do mercado de carbono.
Um crédito de carbono representa a remoção ou a redução de uma tonelada de dióxido de carbono equivalente (CO₂e) da atmosfera.
Assim, os países desenvolvidos que assinaram o acordo têm que trabalhar para atingir as metas estabelecidas para reduzir a poluição. Quando recebem o crédito, podem comercializá-lo com países ou empresas que não atingem suas metas.
No contexto agropecuário, os créditos de carbono são obtidos por meio de práticas sustentáveis, resultando na captura de carbono ou evitando emissões de gases de efeito estufa (GEE).
Ao serem vendidos no mercado voluntário ou regulado, todo esse trabalho gera uma nova fonte de receita para o produtor.
Mas, os benefícios vão além do retorno financeiro, incluindo também:
- Adoção de tecnologias agrícolas de ponta;
- Valorização ambiental da propriedade;
- Acesso a mercados mais exigentes;
- Contribuição direta para o combate às mudanças climáticas.
Como sua propriedade rural pode gerar créditos de carbono?
O mercado de carbono é considerado uma commodity, ou seja, cada crédito vira um produto que segue os preços do mercado internacional.
Consequentemente, o agro pode ser bastante beneficiado, desde que adote práticas agropecuárias sustentáveis para a geração de créditos. Entre as mais reconhecidas, estão:
- Plantio direto: reduz o revolvimento do solo, promovendo o sequestro de carbono na matéria orgânica e evitando emissões causadas pela queima de resíduos ou pelo uso excessivo de maquinário;
- Sistemas Agroflorestais (SAFs): combinam árvores, culturas e/ou criação animal de forma integrada, aumentando a retenção de carbono na biomassa e no solo;
- Recuperação de pastagens degradadas: melhora a produtividade da terra e restaura a capacidade do solo de capturar e armazenar carbono;
- Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF): permite o uso eficiente da terra e promove sinergias entre atividades agropecuárias e florestais, com efeito positivo sobre o balanço de carbono;
- Uso de bioinsumos e fertilizantes de baixa emissão: contribuem para a redução de óxidos de nitrogênio e outros gases do setor;
- Manejo florestal sustentável: mantém estoques de carbono em florestas manejadas de forma responsável, com colheitas controladas e regeneração natural.
Cada uma dessas práticas pode gerar créditos, mas precisa ser implementada com planejamento técnico e devidamente registrada, já que os dados coletados servirão de base para os cálculos e as etapas seguintes do processo.
Como funciona o cálculo de carbono que deixou de ser emitido?
O cálculo de carbono é o processo técnico que determina quanto carbono foi removido da atmosfera ou deixou de ser emitido devido às práticas implementadas.
Para garantir credibilidade e aceitação no mercado, esse cálculo deve seguir métodos reconhecidos nacional e internacionalmente.
Para isso, várias metodologias foram desenvolvidas, dentre as quais se destacam:
VERRA (Verified Carbon Standard – VCS)
Considerado uma das metodologias mais reconhecidas no mercado voluntário global, o VCS certifica projetos que reduzem ou removem emissões de gases de efeito estufa, com rigor técnico e transparência.
Muito usado em projetos agroflorestais, reflorestamento e agricultura sustentável.
Gold Standard
Criado com apoio do WWF, o Gold Standard foca não só na redução de carbono, mas também em benefícios sociais e ambientais.
É ideal para projetos que:
- Envolvem comunidades locais;
- Promovem inclusão;
- Geram impactos positivos além da mitigação climática.
RenovaBio
Política nacional voltada para o setor de biocombustíveis, a Renovabio utiliza a Nota de Eficiência Energético-Ambiental para emitir créditos de descarbonização (CBIOs).
Aplicável a produtores de etanol, biodiesel, biogás, entre outros, com foco em reduzir a intensidade de carbono da matriz energética brasileira.
Metodologias do IPCC
São diretrizes técnicas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (ONU), usadas por governos e pesquisadores.
Fornecem fórmulas e coeficientes padrão para estimar emissões e remoções de GEE em diferentes setores, inclusive agricultura e uso da terra.
Protocolos da Embrapa
Adaptados à realidade brasileira, com foco em condições agroclimáticas locais, solos tropicais e sistemas produtivos nacionais.
Tais protocolos servem como base para estimativas de carbono no solo, ILPF, pastagens, uso de bioinsumos e outras práticas sustentáveis no campo.
Essas metodologias exigem a coleta de dados detalhados, como:
- Tipo de solo;
- Clima local;
- Práticas agrícolas utilizadas;
- Produtividade;
- Uso de insumos;
- Mudanças de uso da terra.
Com essas informações, é possível estimar com precisão as toneladas de CO₂e compensadas.
Inclusive, já há ferramentas digitais que facilitam o processo, como:
- Carbono Rural (desenvolvido pela Embrapa);
- Cool Farm Tool, voltada para produtores;
- Plataformas privadas especializadas em cálculo e certificação de créditos.
A escolha da ferramenta deve considerar o tipo de atividade agrícola, os requisitos do comprador dos créditos e o padrão de certificação adotado.
A importância do monitoramento e da verificação
Após implementar as práticas sustentáveis e realizar o cálculo de carbono, é fundamental monitorar constantemente as ações para comprovar sua efetividade ao longo do tempo.
Segundo especialistas, é o monitoramento contínuo que garante que os créditos gerados são reais e podem ser verificados por entidades externas.
Esse processo envolve:
- Registro de práticas agrícolas e datas de implementação;
- Coleta periódica de dados (como amostras de solo ou inventário de biomassa);
- Documentação fotográfica ou por sensores remotos;
- Manutenção de históricos detalhados e auditáveis.
A verificação é realizada por empresas independentes que analisam esses dados e confirmam se os créditos declarados correspondem à realidade da propriedade.
Se aprovado, os créditos são emitidos, certificados e comercializados no mercado com segurança.
Além de aumentar a confiança dos compradores, esse processo:
- Fortalece a reputação do produtor no setor;
- Amplia seu acesso a novos programas e incentivos de sustentabilidade.
Caminho para a sustentabilidade e rentabilidade
A geração e comercialização de créditos de carbono representa uma grande oportunidade para o agro brasileiro.
Ao adotar práticas sustentáveis e investir no monitoramento e no cálculo de carbono, o produtor rural pode transformar seu modelo de produção, gerando lucro e contribuindo para a agenda ambiental global.
Mais do que uma tendência, essa nova forma de gerar renda e proteger o planeta já é uma realidade. E quem se preparar desde agora terá uma posição de destaque nos próximos anos.
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