Em 30 de julho de 2025, o presidente Donald Trump assinou uma ordem executiva impondo uma tarifa adicional de 40% sobre importações brasileiras nos Estados Unidos, o “tarifaço”.Somada à taxa já existente de 10%, produtos afetados agora enfrentam uma sobretaxa de 50%, a mais alta imposta a qualquer parceiro comercial americano este ano.

As tarifas, que entram em vigor a partir do dia 6 de agosto, atingem diversos setores-chave do agronegócio brasileiro, criando desafios significativos para produtores e exportadores.

Esta medida surge em meio a crescentes tensões entre Estados Unidos e Brasil, com Trump citando o alinhamento comercial e político do Brasil com a China e outras nações do BRICS como fator contribuinte.

A decisão causou ondas de choque nos mercados agrícolas brasileiros, particularmente porque os EUA representam um dos principais destinos de exportação para muitos produtos do agronegócio brasileiro.

Confira a seguir quais são os setores afetados.

Setores do Agronegócio Brasileiro mais afetados pelo Tarifaço Trump

Setor de Carne Bovina

O setor de carne bovina será um dos mais atingidos pelo tarifaço Trump. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil calcula perdas de US$ 5,8 bilhões em exportações do setor.

Além da carne bovina resfriada ou congelada, o levantamento leva em consideração carne enlatada e o sebo bovino. O setor de sebo bovino também está entre os mais vulneráveis ao tarifaço Trump. Como parte dos derivados da carne bovina, este produto está incluído nas estimativas de perdas bilionárias calculadas pelas entidades do setor.

Produção de Café

A indústria cafeeira brasileira também enfrenta desafios significativos com o tarifaço Trump. O café brasileiro, que obteve lucros recordes de US$ 14,7 bilhões durante a safra 2024-2025, atende aproximadamente 23% ao mercado doméstico, mas destina cerca de 16% ao mercado norte-americano. O impacto pode não ser imediato, já que muitos vendedores americanos mantêm estoques, mas os efeitos a longo prazo podem remodelar os padrões globais do comércio de café.

O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) está buscando isenção na tarifa de Trump, demonstrando a preocupação do setor com o impacto das novas taxas. No entanto, novos mercado já vem sendo buscados como alternativa aos produtores.

Pescados

A Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca), uma das primeiras entidades a pedir linha de financiamento ao governo federal, já fala em “colapso” se não houver ajuda do Executivo ao setor. O tarifaço está freando investimentos na produção de tilápia em São Paulo, um dos principais produtos de exportação do setor pesqueiro brasileiro para os Estados Unidos.

Setores do Agronegócio Brasileiro Poupados do Tarifaço Trump

De acordo com a lista de exceções publicada, 694 produtos brasileiros foram poupados do tarifaço Trump. No setor do agronegócio brasileiro, alguns produtos importantes conseguiram escapar das novas tarifas:

Produtos Cítricos

O suco de laranja brasileiro, tanto congelado quanto não congelado, assim como a polpa de laranja, foram excluídos da lista de produtos taxados. Esta exceção representa uma vitória importante para o setor citrícola nacional, que poderia ter sofrido perdas significativas. Segundo cálculos da CitrusBR (Associação Nacional das Indústrias Exportadoras de Sucos Cítricos), a isenção evitará perdas de até US$ 792 milhões por safra, equivalente a R$ 4,3 bilhões.

Castanha do Brasil

A castanha do Brasil (castanha-do-pará) com casca, fresca ou seca, também foi poupada do tarifaço, preservando um importante produto de exportação do extrativismo amazônico.

Fertilizantes

Fertilizantes minerais ou químicos contendo combinações de nitrogênio, fósforo e potássio foram excluídos da lista de produtos taxados, o que beneficia indiretamente todo o setor agrícola brasileiro ao manter o fluxo comercial destes insumos essenciais.

Produtos Florestais

O setor florestal brasileiro também teve alguns produtos poupados, incluindo madeira tropical serrada ou lascada, polpa química de madeira e artigos derivados de polpa de papel e celulose. Esta exceção é particularmente importante para a indústria de papel e celulose, um dos setores de maior destaque nas exportações brasileiras.

Produtos de Borracha

Artigos de borracha sintética e borracha dura também foram excluídos da lista de produtos taxados, beneficiando produtores destes materiais.

Impactos econômico e disrupção de Mercado no Agronegócio Brasileiro

O tarifaço Trump deve desencadear vários ajustes de mercado em todo o setor agrícola brasileiro. Produtores de commodities afetadas já estão explorando mercados alternativos, particularmente na Ásia e Europa, para compensar potenciais perdas no mercado americano.

No entanto, redirecionar cadeias de suprimentos estabelecidas apresenta desafios logísticos e financeiros significativos.

A Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil) calcula que a lista de exceções ao tarifaço representa 43,4% do total das exportações brasileiras. “Embora essas exceções atenuem parcialmente os efeitos da tarifa de 50% anunciada, a Amcham reforça que ainda há um impacto expressivo sobre setores estratégicos da economia brasileira”, diz nota da entidade.

Assim, os setores afetados estão pedindo que o governo federal lance uma linha de financiamento aos exportadores.

Soluções e Estratégias para o Agronegócio Brasileiro enfrentar às Tarifas

Autoridades brasileiras estão buscando canais diplomáticos para abordar a situação do tarifaço Trump. Na última terça-feira (29), o secretário de Comércio dos Estados Unidos abriu possibilidade de tarifa zero para produtos agrícolas que os americanos não cultivam — algo que seria aplicado a todos os parceiros comerciais, não apenas o Brasil.

Howard Lutnick afirmou que o governo Trump considera aplicar tarifa zero para alimentos que não são produzidos no país, como café, manga, abacaxi e cacau.

Produtores do agronegócio brasileiro estão acelerando esforços para diversificar destinos de exportação frente ao tarifaço Trump. Os setores esperam que seus produtos ainda sejam inseridos na lista de exceções.

O setor agrícola brasileiro enfrenta incertezas significativas enquanto se adapta a esta nova realidade comercial imposta pelo tarifaço Trump. Embora o impacto imediato seja preocupante, o agronegócio brasileiro já demonstrou resiliência e adaptabilidade diante de interrupções anteriores do mercado.

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