Bancos públicos e privados entendem que a agricultura funciona como uma indústria a céu aberto, com características próprias que a expõe a grandes riscos e ciclos produtivos diferenciados, que podem variar de alguns meses até longos anos. Esse retrato impõe barreiras burocráticas de acesso ao crédito para lavoura e para máquinas e equipamentos, principalmente a produtores rurais de pequeno e médio portes.
Com resoluções regidas pelo Banco Central, as duas fontes principais do financiamento rural hoje são depósito à vista nos bancos e poupança rural, que, juntas, representam cerca de 80% do crédito concedido no Brasil. No primeiro caso, o proprietário aplica, aproximadamente, 35% do valor presente na conta corrente em crédito rural, ao final do mês. O outro nada mais é do que uma caderneta de poupança aberta no Banco do Brasil ou em bancos cooperativos. O BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento) entra em cena para colocar dinheiro em propostas de compras de maquinário.
Ivan Wedekin, diretor da Wedekin Consultores e ex-secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, considera que a regulação atual é excessiva, que representa uma via crucis para quem precisa financiar R$ 50 mil, apesar dos subsídios para que os juros sejam mais baixos do que os da taxa Selic. “O crédito pode ser simplificado e repaginado. Para os bancos também, pois isso custa muito para eles.” Ele sugere um plano em que o recurso é liberado de acordo com o tamanho e a produção da propriedade, não importa o que é plantado. “Hoje, um produtor está colhendo uma safra e já pensando em plantar a outra, porque tem de buscar crédito para a próxima produção antes mesmo de vender”, pontua.
Wedekin acredita que a solução seja a criação de um fundo de garantia em que o produtor conseguiria altos créditos seguidos
Nessas horas, vem à cabeça do produtor a dúvida sobre o que ele poderia fazer de diferente para facilitar o acesso à tomada de crédito com mais agilidade. Duas palavras respondem bem a esse questionamento inquietante: relacionamento e obediência. “O credito rural é menos rentável do que qualquer outro, por isso ser cliente do banco ajuda muito. Manter relacionamento com bancos, sindicatos e associações de classes é importante. Não pode faltar obediência às normas bancárias para oferecer garantias reais”, sugere.
Na lista do que mais chama positivamente a atenção dos bancos para liberação de empréstimo aparecem: penhor da produção e da propriedade, além das máquinas. A razão disso está na observação que o banco faz para perceber a condição de pagamento do produtor. Por outro lado, os produtores reclamam das muitas garantias solicitadas. Sagaz, Wedekin acredita que a solução seja a criação de um fundo de garantia em que o produtor conseguiria altos créditos seguidos. “Caso pegasse R$ 200 mil, poderia pedir outros R$ 300 mil, pois as garantias estariam em um fundo, diferentemente de hoje, que a mesma propriedade é usada como garantia”, finaliza.
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