A criação de ovelhas, ou ovinocultura, é uma atividade que ganha destaque no agronegócio brasileiro.
Sua versatilidade de produtos, como carne, lã e leite, aliada à adaptabilidade dos animais a diferentes climas e condições de pastagem do Brasil, tornam essa atividade uma opção atrativa para diversos produtores.
Entretanto, este é um segmento que exige muitos cuidados, desde a escolha da raça mais adequada até as estratégias de comercialização.
Por isso, convidamos dois especialistas da Embrapa para falar sobre essa atividade. São eles:
- Espedito Cezário Martins, pesquisador da área de Socioeconomia da Embrapa Caprinos e Ovinos; e
- Fernando Henrique Albuquerque, pesquisador da área de Sistemas de Produção da Embrapa Caprinos e Ovinos.
E então, você está pronto para aprender um pouco mais sobre a criação de ovelhas? Acompanhe detalhes na opinião destes especialistas.
Panorama da ovinocultura no Brasil
Atentos às exigências da sociedade, a ovinocultura vem demonstrando um crescente aumento nos últimos anos.
Prova disso, são os números do IBGE de 2023, divulgados na Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM 2023).
Elas mostram que o efetivo total de ovinos no Brasil foi de 21.792.139 cabeças em 2023, representando um crescimento de 1,26% quando comparado ao registrado em 2022.
Em termos de distribuição dos rebanhos por regiões, a região Nordeste mantém sua liderança, contabilizando um rebanho ovino total de pouco mais de 15,5 milhões de cabeças, equivalente a cerca de 71,2% do rebanho nacional.
Em seguida, os números mostram:
- Região Sul, com um plantel de 4, 2 milhões de cabeças, aproximadamente 19,4% do rebanho nacional;
- Região Centro-Oeste, com um rebanho de 861.752 cabeças, que equivale a 4,0% do total nacional.
- As regiões Norte e Sudeste representam, respectivamente, 2,9% e 2,6% do rebanho nacional.
Quanto ao consumo, ele ocorre em açougues, grandes restaurantes e churrascarias. Neles, a carne de cordeiro é um produto nobre e tem o seu mercado estabelecido em grandes centros, garantindo um valor agregado que sustenta toda a cadeia da produção.
Esse cenário assume destaque na região Sudeste, que realmente concentra boa parte do mercado consumidor.
Raças de ovelhas mais comuns no Brasil
O sucesso da criação de ovelhas depende de vários pontos que ainda veremos neste artigo.
Mas o primeiro passo é conhecer as raças mais comuns no Brasil e fazer a escolha certa para cada condição.
Como já apresentado, as regiões Nordeste e Sul do Brasil são duas regiões tradicionais e que se destacam no efetivo de rebanhos ovinos.
“Nestas regiões, as raças predominantes são a Santa Inês e a Dorper, na região Nordeste, Norte, Centro-oeste e Sudeste. Já na região Sul as raças com presença de lã são mais comuns, sendo a Corriedale e a Texel os mais frequentes”, destaca Fernando Albuquerque.
O especialista da Embrapa enfatiza que na maioria dos rebanhos dessas regiões, os ovinos não são registrados em associações de raças. “Os animais são do tipo Santa Inês, do tipo Corriedale, ou mais frequentemente, mestiços das raças destacadas acima”.
O pesquisador destaca que os cruzamentos mais frequentes nesses últimos anos na ovinocultura brasileira são os que utilizam reprodutores da raça Dorper.
“Nas regiões Nordeste, Norte, Centro-oeste e Sudeste os cruzamentos mais comuns são de carneiros Dorper com ovelhas deslanadas Santa Inês ou mestiças”, salienta.
Nas propriedades da região Sul os cruzamentos utilizando carneiros Texel e Ile de France com ovelhas de raças produtoras de lã são frequentes.
Entretanto, a utilização de Carneiros Dorper tem sido cada vez mais comum nos cruzamentos para produção de cordeiros para produção de carne.
Quanto à escolha da raça, o pesquisador sugere que o produtor deve considerar:
- Objetivo de produção do rebanho (carne, leite ou lã);
- Demandas específicas do mercado;
- Características de adaptação dos animais ao clima da região onde está a propriedade;
- Condições de manejo da propriedade (tipos de sistemas de produção: intensivo a pasto ou em confinamento, semi-intensivo ou extensivo).
Alimentação, saúde e estrutura merecem destaque
Assim como acontece em qualquer atividade pecuária, o sucesso na criação de ovinos depende de um excelente planejamento e muita disciplina.
Estes são animais bem adaptáveis ao clima e à alimentação do Brasil, devido a sua domesticação há anos, mesmo assim, exigem muitos cuidados. Veja alguns:
Local adequado para criação de ovinos
Por serem animais de pasto, eles necessitam que a área verde seja extensa, mas bem manejada.
O terreno deve estar todo cercado para garantir a proteção das ovelhas. Também deve ser mais seco do que úmido, evitando doenças.
Além do pasto, Fernando Albuquerque recomenda o uso de um abrigo para protegê-los da chuva e do frio. “Ele deve estar sempre muito limpo para não ter a presença de doenças”, recomenda.
Assim, de acordo com o pesquisador, as principais instalações são:
- Currais de manejo, para momento de vacinação, vermifugação e em períodos de estação de monta;
- Bebedouros;
- Cochos para alimentação volumosa e concentrada;
- Saleiros;
- Curral de confinamento, se o sistema de produção exigir;
- Balanças;
Boa alimentação
O pesquisador da Embrapa lembra que as ovelhas são animais ruminantes. Logo, o pasto é fundamental, por ser o alimento básico mais importante.
Mas, ele não atende todas as necessidades de nutrientes que a pastagem não oferece, exigindo alimentos complementares.
“Os alimentos concentrados servem para complementar as deficiências que as forragens, porventura, tenham”, diz.
Além disso, os concentrados são uma excelente estratégia para aumentar a produção de carne ou leite. Eles podem ser uma mistura de milho, soja, aveia e sal, e um suplemento para ovinos.
Fernando Albuquerque reforça também a importância de considerar a alimentação de acordo com as categorias dentro do rebanho.
“No final da gestação, por exemplo, as ovelhas têm alta demanda por alimento. Depois de parir, a oferta deve atender a demanda de 1 ou 2 cordeiros”.
Saúde dos ovinos
Nunca se esqueça de que a criação de ovelhas precisa de saúde para produzir produtos de qualidade e para que possam reproduzir bem.
Por isso, a recomendação é ter sempre o auxílio de um veterinário de confiança para, pelo menos, uma vez ao mês verificar a saúde dos animais e conferir a saúde geral.
E a comercialização? Como vender a produção da ovinocultura?
A comercialização dos resultados da criação de ovelhas é um grande desafio para produtores.
Isso ocorre porque a atividade é menos organizada quando comparada à produção de bovinos e aves.
Além disso, segundo Espedito Cezário Martins, a comercialização envolve várias etapas.
“O produtor deve se preocupar com transporte, classificação, limpeza, padronização, estocagem, entre outras, até chegar ao nível das transações entre agentes econômicos, que tanto podem ser pessoas físicas como entes jurídicos”.
De forma geral, a comercialização é realizada por todos os elos da cadeia quando vendem seus produtos. Especificamente, além dos produtores e consumidores, estão envolvidos no processo de comercialização:
- Frigoríficos;
- Intermediários;
- Organizações auxiliares, como bolsas, mercados públicos, centrais de abastecimento, companhias de seguro, de transporte;
- Logística;
- Agências de propaganda;
- Indústrias de transformação, dentre outros.
Em geral, o pesquisador reforça que no Nordeste brasileiro, a comercialização da carne ovina ainda é caracterizada por canais de comercialização informais, em zonas rurais e pequenas cidades.
“Ainda temos pouca participação de agroindústrias (frigoríficos) e de pontos comerciais formais”, diz.
Entretanto, o desenvolvimento de alguns pólos econômicos na região semiárida, como o de Petrolina em Pernambuco, e o de Juazeiro na Bahia, tem estimulado investimentos públicos e privados na atividade.
Já em regiões metropolitanas das grandes cidades da Região Nordeste e do Brasil, têm surgido vários restaurantes especializados na comercialização de carne ovina.
“Tais restaurantes, popularmente conhecidos como “carneiros”, têm impulsionado o consumo de carne ovina nas grandes cidades”, complementa Espedito.
Já a produção de leite de ovelhas no Brasil ainda é incipiente. Existem relatos de produtores rurais dispostos a investir na atividade, porém ainda não existem dados oficiais que quantifiquem a produção deste produto no país.
Segundo a FAO a produção mundial gira em torno de 10 milhões de toneladas anuais. Os principais países produtores de leite de ovelhas são: China, Grécia, Turquia, Síria e Romênia. Também não há indicação de registros de produção no Brasil.
Ou seja, a criação de ovelhas é uma atividade promissora para o agronegócio brasileiro. Com planejamento, investimento e conhecimento técnico, é possível obter bons resultados e garantir a sustentabilidade da produção.
Você sabia que a criação de ovelhas também pode fazer parte da pecuária sustentável? Leia o artigo e entenda mais sobre esse novo rumo para o agronegócio.