A busca pela biosseguridade na avicultura tem se tornado um tema cada vez mais crucial no cenário global, especialmente diante dos recentes surtos de gripe aviária que afetaram diversos países.
No Brasil, líder mundial na produção avícola com 30% do mercado, a implementação de rigorosas medidas de biosseguridade garante a qualidade e segurança dos produtos, protegendo a saúde de animais e do ser humano.
Então, nada melhor do que explorar seus principais aspectos na avicultura nacional, desde os conceitos básicos até as práticas de manejo diário e as regras da legislação vigente.
O que é biosseguridade na avicultura?
Segundo material do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), a biosseguridade é a adoção de um conjunto de medidas e procedimentos que visam prevenir, controlar e limitar a exposição das aves de um sistema produtivo a agentes causadores de doenças.
Em outras palavras, refere-se à adoção de medidas preventivas e de controle que minimizam o risco de introdução e disseminação de doenças nas granjas e aviários.
Essas medidas são fundamentais para proteger a:
- Saúde das aves;
- Produtividade das granjas;
- Segurança dos alimentos exportados e consumidos pela população do mercado interno.
Princípios básicos da biosseguridade
Conforme material técnico da Embrapa, o objetivo dos programas de biosseguridade é controlar e/ou minimizar a contaminação das aves e seus produtos.
Especialistas acreditam que essa é a forma mais barata e efetiva para o controle de doenças nos aviários.
Essas medidas se baseiam em dois conceitos principais:
- Exclusão
Manter uma carga mínima de micro-organismos que não interfira na saúde e na produção das aves, mantendo a doença fora da granja ou em níveis aceitáveis;
- Contenção
Na ocorrência de alguma doença, devem ser adotadas medidas que impeçam a propagação dentro ou entre instalações.
Para isso, a biosseguridade na avicultura se baseia em quatro princípios fundamentais:
- Isolamento: manter as aves em ambientes isolados, restringindo o acesso de pessoas, animais e veículos que possam transmitir doenças;
- Higiene: implementar rigorosos protocolos de limpeza e desinfecção de instalações, equipamentos e veículos, além de garantir a higiene pessoal dos funcionários;
- Controle de vetores: adotar medidas para controlar a presença de vetores como insetos, roedores e aves silvestres, que podem transmitir doenças;
- Programas de biossanidade: implementar programas de vacinação, monitoramento sanitário e controle de doenças, além de realizar testes laboratoriais para identificar e controlar possíveis surtos.
Biosseguridade no dia a dia: práticas essenciais para proteger a produção
A biosseguridade na avicultura é uma prática diária. Para isso, devem ser adotadas medidas que envolvem todo o sistema de produção:
Localização do aviário
Este é um requisito básico para prevenção de diversas enfermidades. As recomendações técnicas mostram que os aviários devem ser construídos longe de outras criações, reduzindo as chances de contaminações.
Também é importante:
- Conhecer a direção predominante dos ventos, para proporcionar uma ventilação uniforme e controlável;
- Evitar construir a granja próxima a cursos de água, açudes ou lagos usados por outros animais;
- Construir os galpões longe de estradas principais, que podem ser utilizadas por caminhões no transporte de aves.
O reflorestamento com árvores não frutíferas, matas naturais ou elevações topográficas é interessante. Elas servem como barreiras sanitárias naturais, reduzindo o risco de contaminação entre as unidades avícolas e do estresse para as aves.
Controle de acesso
É preciso restringir o acesso de pessoas e veículos às áreas de produção. Quando isso for necessário, exija o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) e a desinfecção de veículos.
Na entrada da granja, deve-se instalar um sistema de desinfecção com arco de desinfecção capaz de permitir a higienização e desinfecção dos veículos.
Para que a desinfecção seja eficiente, é necessário que o veículo passe lentamente sob o arco, propiciando maior tempo de contato.
Higiene pessoal
Exigir a higiene pessoal dos funcionários é imprescindível! Tal medida deve incluir:
- Lavagem das mãos;
- Uso de roupas e calçados específicos;
- Desinfecção de equipamentos pessoais.
No vestiário, devem estar disponíveis roupas e calçados limpos e desinfectados para troca e uso exclusivo durante as atividades no aviário.
O funcionário deve ter seu macacão e bota para uso interno e disponibilidade de roupas descartáveis.
Manejo das aves
É essencial adotar práticas de manejo específicas para minimizar o estresse das aves. Entre as medidas se destacam o manejo em lotes de idade única e a implementação de programas de bem-estar animal.
A higiene das dependências é primordial. É preciso realizar a limpeza de comedouros e bebedouros diariamente.
As aves mortas devem ser retiradas e destinadas a algum tipo de tratamento de resíduos, como compostagem e incineração, por exemplo.
Ao final de cada ciclo de produção, após a retirada dos animais, é necessário promover a limpeza completa e higienização do aviário, equipamentos, caixa d’água e tubulações.
Transporte
Na etapa é preciso garantir a limpeza e desinfecção de veículos de transporte de aves, ração e outros insumos, além de implementar medidas para evitar a contaminação.
Uso de insumos
Para garantir a biosseguridade na avicultura é preciso utilizar ração e outros insumos de qualidade. Eles devem estar livres de contaminação e serem armazenados em locais adequados.
Também é imprescindível conhecer a procedência das matérias-primas utilizadas na formulação das rações das aves.
As rações fabricadas devem ser armazenadas em silos específicos, fechados e protegidos do excesso de calor e de umidade, além do contato com roedores e outros animais. A correta armazenagem também garante a qualidade nutricional da ração.
Quais são as principais doenças e suas respectivas medidas preventivas?
Todos os cuidados apresentados anteriormente são essenciais porque a avicultura está sujeita a diversas doenças, como a gripe aviária, a doença de Newcastle e a salmonelose.
A prevenção dessas doenças é primordial e envolve a implementação de medidas como:
- Vacinação: vacinar as aves contra as principais doenças, seguindo um calendário de vacinação adequado;
- Monitoramento sanitário: realizar testes laboratoriais periódicos para monitorar a saúde das aves e identificar possíveis surtos;
- Controle de vetores: adotar medidas para controlar a presença de vetores que podem transmitir doenças.
Em caso de surtos e emergências, as seguintes medidas devem ser implementadas:
- Implementar planos de contingência para lidar com surtos de doenças;
- Isolamento de aves doentes;
- Notificação das autoridades sanitárias;
- Implementação de medidas de controle.
Legislação e normas: garantindo a qualidade e segurança
A produção avícola no Brasil é regulamentada por diversas leis e normas, que estabelecem os requisitos mínimos de biosseguridade e qualidade dos produtos.
Entre as principais normas, destacam-se:
- Instrução Normativa nº 56/2007: estabelece os procedimentos de registro, controle e fiscalização de estabelecimentos avícolas;
- Instrução Normativa nº 44/2007: estabelece os requisitos de biosseguridade para estabelecimentos avícolas;
- Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA): estabelece as diretrizes para o controle e prevenção de doenças avícolas no Brasil.
Além das normas nacionais, existem certificações internacionais que atestam a qualidade e segurança dos produtos avícolas, como a certificação Global GAP.
Isto é, a biosseguridade na avicultura é um tema de extrema importância para a saúde animal, a saúde pública e a economia.
Implementar medidas rigorosas é a melhor forma de garantir a produção de alimentos seguros, protegendo a saúde das aves e da população, além de garantir a admiração do mercado consumidor pela avicultura brasileira.