A pergunta como produzir shimeji deixou de ser exclusividade de chefs pelo país e virou pauta de muitos produtores atentos ao mercado de cogumelos. Isso porque o consumo cresce no Brasil e no mundo impulsionado por gastronomia, saudabilidade e proteína alternativa. 

No país, restaurantes de comida japonesa ajudaram a popularizar o ingrediente e abriram espaço para o cultivo de cogumelos no Brasil em pequenas e médias estruturas. Resultado: a produção de cogumelos comestíveis tornou-se oportunidade real para diversificar renda com ciclo curto, alta valorização e demanda constante.

Se interessou pelo assunto? Siga a leitura e veja como alinhar prática, qualidade e constância, do primeiro bloco à entrega de cachos frescos e valorizados.

O que é o shimeji e por que investir

“Shimeji” é o nome comercial de espécies apreciadas pela textura firme e sabor umami. Na produção artesanal brasileira, predomina o Pleurotus ostreatus, conhecido como shimeji branco/cinza, de manejo simples e ciclo rápido. 

No varejo você também encontrará “shimeji branco e preto”, denominações populares usadas para diferenciar colorações e apresentações, todas com boa aceitação gastronômica. Nutricionalmente, o shimeji entrega fibras, vitaminas do complexo B e compostos bioativos, o que reforça a procura por parte do público que busca alimentos mais saudáveis. Para o produtor, trata-se de um cultivo de investimento inicial moderado, escala incremental e comercialização ativa em feiras, empórios, hortifrutis e food service.

Condições ideais para o cultivo

As condições ideais para cultivo de shimeji combinam ambiente escuro, fresco e úmido. Durante a colonização do substrato, mantenha baixa luminosidade, ventilação mínima e temperatura entre 20 °C e 28 °C; já na frutificação, reduza a temperatura (15 °C a 22 °C, conforme linhagem), aumente a troca de ar e introduza luz difusa (fotoperíodo de referência). 

Além disso, a umidade relativa precisa permanecer alta (85–95%) para evitar ressecamento dos primórdios. Atenção ao CO₂: excesso alonga hastes e reduz a abertura dos chapéus; por isso, ventilação controlada é crucial para qualidade e padronização dos cachos.

Como começar a produção

Há dois caminhos para quem inicia no cultivo de shimeji:

Opção 1 — Composto pronto inoculado. 

Este é o caminho mais seguro para começar. Você adquire sacos já com substrato para shimeji (mistura nutritiva) e micélio colonizado, prontos para indução e frutificação. Assim, basta posicionar nas condições ambientais recomendadas, realizar os cortes de indução e manejar umidade, luz e ventilação. Vantagens: menor risco de contaminação e curva de aprendizagem mais rápida.

Opção 2 — Produção própria do substrato. 

O outro modo de cultivar shimeji requer um pouco mais de técnica e cuidado com higiene, mas reduz custos no médio prazo. O substrato para shimeji pode ser formulado com serragem de madeira não resinosa enriquecida com farelo de arroz e/ou farelo de trigo. 

Muitos produtores aproveitam resíduos como bagaço de cana, casca de café e palhadas — prática alinhada à economia circular. O passo a passo inclui mistura, ajuste de umidade, ensaque, esterilização (ou pasteurização, conforme processo), resfriamento, inoculação com micélio, vedação e incubação em sala limpa até a completa colonização.

Quais as etapas do cultivo?

A jornada do shimeji é direta, mas exige disciplina operacional:

  1. Colonização. Com os sacos inoculados, mantenha ambiente limpo, pouca luz, temperatura estável e umidade alta. O micélio toma o substrato e deixa o bloco branco e compacto.
  2. Indução e frutificação. Quando o bloco estiver totalmente colonizado, realize aberturas/cortes, aumente levemente a luminosidade difusa e eleve a renovação de ar. Em poucos dias surgem primórdios que evoluem para cachos bem formados.
  3. Colheita. Em geral, ocorre entre 30 e 45 dias após a inoculação (dependendo de linhagem, manejo e clima). Colha cachos firmes, com chapéus bem desenvolvidos e bordas ainda curvadas. Faça cortes limpos, evite danos mecânicos e resfrie rapidamente para prolongar a vida de prateleira.

Estrutura e tecnologia

É possível começar com uma sala simples bem vedada, porém produtores que desejam constância investem em salas climatizadas ou estufas adaptadas, com controle de temperatura, umidade e ventilação. 

Além disso, é importante contar com sensores, temporizadores e controladores digitais para automatizar ventiladores, nebulizadores e umidificadores, estabilizando as condições ideais para cultivo de shimeji ao longo do dia. 

A água deve ser limpa (filtrada) para reduzir contaminações. Após os fluxos de colheita, o substrato para shimeji exaurido ainda tem valor: pode ser reaproveitado como adubo orgânico em hortas, viveiros de mudas e jardins, fechando o ciclo com destino ambientalmente responsável.

Produtividade e rentabilidade

No shimeji, um indicador prático é a taxa de conversão do substrato em cogumelo fresco. Como referência, uma produtividade média entre 15% e 25% do peso do substrato é comum — algo como 1,5 a 2,5 kg de cogumelos por cada 10 kg de composto ao longo dos fluxos de colheita. 

A padronização de manejo, linhagens selecionadas e ambiente estável puxam esse índice para cima. Do lado comercial, o mercado de cogumelos segue em expansão, com consumidores mais informados e cardápios que valorizam o ingrediente. Em várias regiões, há déficit de produtores frente à demanda de restaurantes e hortifrutis, o que favorece bons preços ao produtor artesanal que entrega qualidade, regularidade e embalagem adequada.

Cuidados e desafios

O principal inimigo do produtor é a contaminação por fungos e bactérias competidores. Por isso, limpeza, organização e fluxo de trabalho (zonas “limpa” e “suja”) fazem diferença. Na etapa de inoculação, use luvas, máscara e bancada higienizada; evite correntes de ar e poeiras. 

Outro ponto é o investimento inicial: mesmo começando pequeno, é importante reservar orçamento para exaustores, umidificadores, prateleiras de inox ou galvanizadas, plásticos próprios e instrumentos de medição. Conhecimento técnico também é chave — cursos, consultorias e associações ajudam a encurtar caminho e evitar perdas nas primeiras safras.

Tendências e oportunidades

A diferenciação passa por certificações (orgânico, boas práticas), rastreabilidade e posicionamento em nichos: gastronomia de alto padrão, kits de receitas, delivery de frescos, e produtos derivados, como desidratados, temperos com shimeji e até farinha proteica de shimeji para massas e blends. 

Para quem já atua com hortaliças, o cogumelo complementa o mix e cria combos de alto valor. E, para quem deseja escala, sensores IoT e automação elevam a eficiência do cultivo de shimeji, melhoram a constância de oferta e facilitam o atendimento a redes de food service.

Em resumo, iniciar a produção de cogumelos comestíveis é totalmente viável com planejamento, controle ambiental e constância de manejo. Desse modo, compreendendo as etapas, escolhendo bem o substrato para shimeji e investindo em qualidade, você aproveita o momento positivo do mercado de cogumelos e constrói um negócio sustentável no cultivo de cogumelos no Brasil.

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