O mercado global de café atravessa um dos períodos mais turbulentos da última década. Em agosto, os preços dispararam: 40% para o arábica na Bolsa de Nova York e 50% para o robusta em Londres, segundo dados do Itaú BBA. Essa escalada não é fruto de um único fator, mas de uma combinação explosiva de choques climáticos, tensões comerciais e fundamentos apertados de oferta e demanda.
O que explica essa alta histórica?
1. Tarifas americanas: um divisor de águas
No dia 30 de julho, os Estados Unidos anunciaram a elevação das tarifas sobre exportações brasileiras de 10% para 50%, sem incluir o café na lista de exceções. A decisão surpreendeu o mercado, já que o Brasil é o maior fornecedor global de arábica e não há outro exportador capaz de suprir essa demanda em escala.
O impacto imediato foi a retração nas compras por parte dos importadores americanos, que passaram a adotar uma postura defensiva, limitando aquisições ao mínimo necessário e buscando alternativas em outros países.
2. Geadas no Cerrado Mineiro: o fantasma climático
Nos dias 10 e 11 de agosto, geadas atingiram áreas do Cerrado Mineiro, reduzindo em cerca de 400 mil sacas a expectativa para a próxima safra, segundo a Expocaccer. Embora menos severas que as de 2021, as perdas reforçam a percepção de vulnerabilidade climática da cafeicultura brasileira.
3. Oferta restrita e estoques baixos
A colheita 2025/26 confirmou um cenário de menor produtividade. A produção brasileira de arábica deve atingir 38,7 milhões de sacas, 11,5% abaixo da temporada anterior e inferior à projeção do USDA (40,9 milhões). O robusta, por sua vez, deve manter 24,1 milhões de sacas, totalizando 62,8 milhões no país.
Com isso, o superávit global cai para 7 milhões de sacas, um nível considerado apertado para um mercado que consome cerca de 169 milhões de sacas por ano.
Mercado físico no comando
Um dado curioso chama atenção: a disparada dos preços não foi acompanhada por um aumento expressivo das posições compradas dos fundos especulativos. Isso indica que o mercado físico, e não a especulação, está puxando a alta, reforçando a leitura de que os fundamentos são sólidos.
Impactos nas exportações e no consumo
As exportações brasileiras começaram o ciclo em ritmo lento, coincidindo com a entressafra do Vietnã, maior produtor de robusta. Essa combinação retardou a recomposição de estoques nos países consumidores, justamente quando o Hemisfério Norte se prepara para o inverno, período de maior demanda.
Nos EUA, a incerteza tarifária deve manter os operadores em alerta. Embora seja improvável que o país reduza drasticamente suas compras, os custos adicionais tendem a ser repassados ao consumidor final, pressionando preços no varejo.
Perspectivas e estratégias para produtores
O cenário atual exige gestão ativa de riscos. A valorização do café é positiva no curto prazo, mas os diferenciais em relação à Bolsa de NY podem se tornar menos favoráveis. Além disso, os custos de produção, especialmente com fertilizantes, permanecem elevados.
Especialistas recomendam o uso de instrumentos de hedge, como operações de Collar (piso e teto), que permitem proteger margens sem travar preços fixos. As curvas futuras indicam boas oportunidades para garantir preços atrativos para a safra 2026, especialmente se confirmadas as previsões de chuvas regulares.
O que esperar para 2026?
Apesar das perdas recentes, há espaço para otimismo. Caso as condições climáticas sejam favoráveis, o Brasil pode colher uma safra mais robusta no próximo ciclo. Até lá, a volatilidade deve continuar, exigindo atenção redobrada à gestão de riscos e à tomada de decisão estratégica.
Fonte: Radar Agro – Itaú BBA, setembro de 2025.
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