Você certamente já deve ter percebido: o mercado internacional de café tem apresentado um cenário de preços elevados nos últimos meses. Certamente, este movimento impacta diretamente os produtores brasileiros.
Se por um lado essa valorização traz consigo a promessa de maior rentabilidade, por outro, impõe desafios significativos em termos de custos de produção e gestão financeira.
Mas, afinal, o que está impulsionando essa alta nos preços do café? Quais os reais impactos para os cafeicultores?
E, mais importante, como os produtores podem se preparar e aproveitar ao máximo este momento?
A Agrishow Digital convida você a desvendar as nuances do mercado de café, explorando os desafios e as oportunidades que se apresentam. Boa leitura.
Escalada dos preços do café
O atual patamar de preços do café não é um fenômeno isolado, mas sim o resultado de uma convergência de fatores que moldam a dinâmica global do mercado.
Na ICE, a bolsa de commodities de Nova York, a alta foi de 95% em um período de 12 meses, como destacado pela InvestNews. Isso vale para o Brasil.
Analisemos alguns dos principais elementos que contribuem para essa valorização:
Questões climáticas
Eventos climáticos adversos em importantes regiões produtoras ao redor do mundo, como o Brasil, têm afetado significativamente as expectativas de oferta de café.
Secas prolongadas, geadas e chuvas excessivas comprometem a florada, o desenvolvimento dos frutos e a qualidade dos grãos, impactando diretamente a disponibilidade do produto no mercado.
Oferta e demanda global
A relação entre a oferta e a demanda global é um fator crucial na formação dos preços.
Nos últimos anos, temos observado uma demanda global resiliente por café, impulsionada pelo consumo em países tradicionais e pelo crescimento em novos mercados.
Qualquer restrição na oferta, seja por questões climáticas ou outros fatores, tende a pressionar os preços para cima. E é isso que o mercado consumidor enfrenta hoje!
Flutuações cambiais
Para os produtores brasileiros, as flutuações cambiais, especialmente a relação entre o Real e o Dólar, como destacado pela InfoMoney, exercem um papel importante nas altas do preço do café.
A desvalorização do Real torna o café brasileiro mais competitivo no mercado internacional, o que pode impulsionar as exportações e, consequentemente, influenciar os preços internos.
Perspectivas do mercado de café
Para o cafeicultor, as perspectivas de manutenção do preço do café em patamares elevados pode ser uma boa notícia.
Conforme dados analisados pelo Radar Agro Itaú, o cenário mostra preços firmes para o grão.
Conforme a análise, pelo quinto ano consecutivo, a safra brasileira não atingirá seu potencial máximo, desta vez fortemente impactada pelo longo período de seca de 2024, que prejudicou o pegamento das floradas do café arábica.
Ainda segundo o Radar Agro Itaú:
- Estima-se uma safra total de 64,4 milhões de sacas para o ciclo 2025/26, uma redução de 3% em relação às 66,4 milhões de sacas da safra anterior;
- A produção de arábica deve atingir 40,9 milhões de sacas, representando uma queda de 10% em comparação com o ano anterior;
- Em contrapartida, a produção de robusta é estimada em 23,5 milhões de sacas, com um aumento de 12% em relação à safra passada.
A análise do Itaú BBA aponta para um cenário de preços firmes, com potencial para novas altas. Logo, é ano favorável para os produtores, especialmente os de conilon e os de arábica com irrigação.
Impactos e oportunidades para os produtores
A alta dos preços do café traz consigo um misto de impactos e oportunidades para os cafeicultores brasileiros.
Os impactos são:
- Aumento dos custos de produção: a valorização do café pode vir acompanhada do aumento dos custos de insumos cotados em dólar. Isso exige uma gestão de custos ainda mais eficiente por parte dos produtores;
- Gestão financeira rigorosa: os produtores precisam estar atentos às oscilações do mercado e planejar suas finanças para garantir a sustentabilidade do negócio;
- Decisões de investimento: o cenário de preços elevados pode incentivar investimentos na lavoura, como a modernização de equipamentos, a expansão da área e adoção de tecnologias mais eficientes.
No entanto, essas decisões devem ser tomadas com cautela, considerando a sustentabilidade a longo prazo e a possível reversão do cenário de preços.
As oportunidades da alta do preço do café são:
- Aumento da rentabilidade: a principal oportunidade gerada pela alta dos preços é o potencial de aumento da rentabilidade e da margem de lucro para os produtores;
- Margem para investimentos: a maior rentabilidade pode gerar caixa para investimentos, visando o aumento da produtividade, a melhoria da qualidade do café e a adoção de práticas sustentáveis;
- Valorização do produto: em um mercado aquecido, há também a oportunidade de valorizar ainda mais o café de qualidade, buscando nichos de mercado e estabelecendo parcerias com profissionais que valorizam a excelência do grão brasileiro.
Estratégias para lidar com a alta dos preços
Diante do cenário de preços elevados e da inerente volatilidade do mercado de café, é fundamental que os produtores adotem estratégias inteligentes para maximizar os ganhos e mitigar os riscos.
As seguintes medidas são essenciais:
- Planejamento financeiro: com o acompanhamento rigoroso dos custos de produção, a projeção de receitas com base nos preços atuais e futuros esperados, e a criação de uma reserva de caixa para imprevistos;
- Controle de custos: otimize o uso de insumos, negocie os melhores preços com fornecedores, invista em tecnologias e busque alternativas mais econômicas sem comprometer a qualidade da produção;
- Gestão de riscos: isso pode incluir a utilização de instrumentos financeiros como contratos futuros e opções para proteger o preço de venda da produção.
- Estratégias de comercialização: a escolha da estratégia de comercialização adequada pode fazer toda a diferença. Algumas opções incluem venda antecipada e no mercado futuro e comercialização de cafés especiais.
Preparando a próxima colheita
O cenário atual de preços favoráveis oferece uma oportunidade para os produtores investirem na preparação da próxima colheita, garantindo a qualidade e a produtividade futura da lavoura.
Por isso, é necessário adotar uma série de estratégias:
Boas práticas de manejo
Fundamental para garantir uma produção de qualidade e sustentável. Isso inclui:
- Adubação equilibrada;
- Controle eficiente de pragas e doenças;
- Podas adequadas;
- Manejo correto do solo.
Adoção de práticas sustentáveis
A agricultura regenerativa e outras práticas sustentáveis contribuem para a resiliência da lavoura, a conservação dos recursos naturais e a produção de um café de maior valor agregado.
Investir em práticas como o plantio direto, o manejo integrado de pragas e doenças, e a conservação da água e do solo é essencial para a sustentabilidade a longo prazo.
Planejamento da colheita
O planejamento da colheita é crucial para garantir a eficiência e a qualidade do processo. Isso envolve:
- Calcular a estimativa da produção;
- Contratação de mão de obra qualificada;
- Verificação e manutenção de equipamentos;
- Organização da logística de transporte e armazenamento.
Adotar a colheita seletiva
Essa estratégia consiste em colher apenas os frutos maduros para garantir a qualidade dos grãos e obter um café de sabor superior.
Embora possa ser mais trabalhosa, essa prática agrega valor ao produto final.
Armazenamento e beneficiamento adequados
Após a colheita, o armazenamento e o beneficiamento adequados são essenciais para preservar a qualidade e o valor do café.
Os grãos devem ser armazenados em locais secos e arejados, protegidos de umidade e odores. Já o beneficiamento deve ser realizado com cuidado para evitar danos aos grãos.
Rastreabilidade e certificação
A rastreabilidade, que permite acompanhar o café desde a lavoura até o consumidor final, e a obtenção de certificações é uma forma de abrir portas para mercados mais exigentes e garantir melhores preços para o produto.
Isto é, ao investir na preparação da próxima colheita com foco na qualidade e na produtividade, os produtores estarão não apenas aproveitando o bom momento do mercado, mas também construindo um futuro promissor de suas lavouras.