Não há como negar: quando falamos em alta gastronomia, logo nos vem à cabeça aqueles pratos refinados servidos em restaurantes de hoteis 5 estrelas. Você está certo, principalmente quando há o uso do limão-caviar.
Essa é uma fruta cítrica, conhecida internacionalmente como finger lemon, considerada exótica no Brasil, com o quilo variando entre R$ 800 a mais de R$ 2 mil.
Conforme Luana Aparecida Castilho Maro, Engenheira Agrônoma e Pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), o alto preço é decorrente da raridade e da sua demanda reduzida.
O que é o limão-caviar?
Pertencente à família das rutáceas, que é a mesma família das outras frutas cítricas como laranjas, limões e tangerinas, o limão caviar ou lima-de-dedo (Citrus australasica) é uma fruta cítrica nativa da Austrália.
Por muito tempo, ela foi consumida como um alimento protetor da saúde e usada medicinalmente por indígenas australianos.
Mais de 70 variedades ainda crescem na natureza. Podem ser encontradas em diversas cores da casca que variam do verde aos tons de vermelho/roxo com vesículas que também variam em termos de coloração.
Exatamente por isso, ela apresenta características morfológicas únicas, como o formato, que não é arredondado.
“É um fruto alongado com contorno ovoide que remete a um dedo. Há uma grande variedade de cores de casca, que vai do preto ao amarelo ou verde. Além disso, o albedo ou mesocarpo – parte branca e fibrosa – são quase inexistentes quando comparado com mais espécies”, afirma a especialista.
Semelhança ao caviar nas características e no preço!
O limão-caviar, apesar do nome, não tem qualquer relação biológica com o caviar verdadeiro (ovas de peixe).
A comparação é decorrente de algumas características que os tornam visual e sensorialmente parecidos, como destacado pela pesquisadora da Epagri.
“O paralelo que se faz do limão caviar com o caviar se deve ao fato deste fruto cítrico possuir em seu interior centenas de vesículas de suco de formato arredondado, assim como as ovas de esturjão”.
Vale destacar que as finas membranas destas vesículas de suco, ao entrarem em contato com a saliva, dão a sensação de estouro.
O preço elevado é outra semelhança. Para Luana Maro, isso se dá em função da baixa oferta. “Até mesmo o principal país produtor (Austrália) possui poucos produtores”, destaca.
Estima-se que existem pouco mais de 70 produtores de limão caviar na Austrália, que vão desde pequenos produtores com centenas de árvores até grandes produtores com milhares delas.
No Brasil, não temos levantamento da produção dessa fruta em termos de volume de produção nem de área plantada.
“Por aqui, a produção ainda é limitada, porque é pouco conhecida, não havendo demanda pelo produto que justifique sua produção em quantidade”, complementa a pesquisadora.
Poucas informações dificultam a produção nacional
No Brasil, poucas são as informações fitotécnicas acerca dessa espécie. A grande maioria dos trabalhos de pesquisa encontrados na literatura faz menção a sua importância nutracêutica.
“As informações fitotécnicas que temos são de pomares de limão-caviar de cultivos realizados na Austrália, sendo complicado extrapolá-las para as condições edafoclimáticas do Brasil”.
Além disso, o ambiente exerce fundamental influência no desenvolvimento vegetal e na ocorrência de pragas e doenças. Logo, estudos devem ser realizados na condição de clima e solo brasileiros.
Da mesma forma, a pesquisadora reforça que os cultivos comerciais de cítricos utilizam-se de mudas enxertadas que estão sujeitas a interação copa x porta-enxerto.
“O porta-enxerto pode influenciar em mais de 20 características. Por isso, são necessários estudos de pesquisa para inferir qual a melhor combinação promove o maior número de benefícios”.
Luana Aparecida Castilho Maro explica ainda que na Estação Experimental da Epagri de Itajaí, em Santa Catarina, são mantidos exemplares de limão-caviar no Banco Ativo de Germoplasma.
“Nele, as plantas crescem sobre o porta-enxerto do trifoliateiro ‘Flying Dragon’ sem indícios de incompatibilidade”.
Mercado e comercialização crescentes
O limão-caviar é pouco produtivo, tanto que, aproximadamente, são produzidos apenas 800 gramas de fruto por planta ao ano.
Além disso, em função do cultivo ainda muito pequeno no Brasil, o mercado se restringe a:
- Pontos de venda que atendem o público de maior poder aquisitivo que busca por um produto diferenciado;
- Chefs de cozinha que atendem restaurantes da alta gastronomia.
Logo, o limão-caviar é comumente encontrado em cruzeiros e em mercados significativos no mundo como a União Europeia, EUA, Japão, Índia, Taiwan, Tailândia, entre outros.
Quanto ao uso, este é um ingrediente também servido com certo requinte: em receitas com frutos do mar, drinks e saladas.
“Em função do alto custo é utilizado principalmente na decoração de pratos e não como ingrediente principal”, complementa a pesquisadora.
No Brasil, o limão caviar tem sido encontrado em sua forma fresca (fruto inteiro) em bandejas de polietileno de baixa densidade.
Na Austrália, em função de barreiras fitossanitárias no que concerne à mosca das frutas, o limão caviar não é exportado in natura.
As vesículas são comercializadas em potes com volume de 22,5g prontas para consumo.
Desafios e perspectivas do limão-caviar no Brasil
O cultivo do limão-caviar no Brasil, apesar de ser promissor, enfrenta alguns desafios específicos. Por se tratar de uma espécie pouco explorada, as dificuldades estão relacionadas ao:
- Manejo fitotécnico adequado para atingir boas produções;
- Controle de pragas e doenças;
- Necessidade de intervenções com poda;
- Atender a demanda nutricional da planta etc.
Em Santa Catarina, a espécie ainda é cultivada, em sua quase totalidade, como curiosidade em pomares domésticos.
Comercialmente, existem aglomerados de plantas na região da Grande Florianópolis que não ultrapassam 50 plantas, inexistindo áreas significativas de produção.
Neste contexto, pesquisas do polo produtor de mudas cítricas no estado localizado na região do Alto Vale do Itajaí tem produzido com sucesso mudas de qualidade do limão caviar.
”Isso indica um potencial de cultivo, pois o estabelecimento de qualquer cultura passa pela disponibilidade de mudas”, finaliza Luana Aparecida Castilho Maro.