No dia 17 de outubro, celebramos o Dia Nacional da Agricultura — uma data que convida à reflexão sobre o impacto da agricultura na economia brasileira. Mais do que uma atividade produtiva, a agricultura é uma força vital da economia, impulsionando o PIB, as exportações, a geração de empregos e a segurança alimentar do país.

Neste artigo, você vai entender como a agricultura influencia a economia brasileira, dialogando com as exportações, geração de empregos e participação no PIB, além de conhecer os desafios ambientais, regionais e tecnológicos que moldam o presente e o futuro do setor. Vamos destacar também o papel da agricultura familiar e das cadeias agroindustriais na promoção da sustentabilidade e no fortalecimento do crescimento do país.

Continue a leitura e descubra por que o impacto da agricultura na economia brasileira vai muito além do campo — e é essencial para o equilíbrio macroeconômico, o desenvolvimento regional e a inserção do Brasil nos mercados globais.

A dimensão econômica do setor

De acordo com levantamento recente do CEPEA em parceria com a CNA, o agronegócio representou 23,2% do PIB brasileiro em 2024, reforçando sua importância como um dos principais pilares da economia nacional. Essa participação do agronegócio no PIB revela o quanto o setor é determinante para o crescimento sustentável do país. No primeiro trimestre de 2025, o setor avançou 6,49%, puxando para cima o desempenho do PIB total em um momento de desaceleração em outras áreas da economia.

Nesse contexto, um dos pilares mais sólidos do impacto da agricultura na economia brasileira está nas exportações. Em 2024, o agronegócio brasileiro alcançou um marco histórico: US$ 164,4 bilhões em exportações, representando quase 49% de todas as exportações do país. Soja, milho, carnes, café e suco de laranja seguem como os carros-chefe, mas há uma diversificação crescente nas pautas comerciais, com frutas, algodão e produtos florestais ganhando destaque.

Esse desempenho consistente faz do setor o principal motor do superávit das exportações nacionais. Em outras palavras, o agronegócio é decisivo para o balanço comercial do Brasil, garantindo entrada de divisas e estabilidade macroeconômica mesmo em períodos de crise global.

De acordo com Pedro Abel Vieira Júnior, pesquisador da área de estratégia da Embrapa, “a cadeia de valor do agronegócio representa cerca de 25% do PIB brasileiro. Em termos de emprego, ela responde por aproximadamente 18% dos postos formais de trabalho”. Ele alerta que, apesar da estagnação econômica geral do país — que cresceu apenas 0,5% ao ano na média dos últimos 20 anos — a produtividade agrícola avançou 3,5% ao ano, superando a média mundial. “Sem a agricultura, o desempenho econômico brasileiro seria muito mais frágil”, afirma.

Emprego, renda e desenvolvimento regional

A força da agricultura vai além das exportações: ela sustenta milhões de empregos e fomenta o desenvolvimento regional. A agropecuária gera empregos diretos nas lavouras, pastagens e agroindústrias, e indiretos nas cadeias de insumos, serviços, transporte e tecnologia.

A agricultura familiar, por exemplo, é um dos maiores vetores de inclusão produtiva e geração de renda nas áreas rurais. Segundo o especialista da Embrapa, ela responde por 80% dos estabelecimentos rurais e por cerca de 70% do emprego no campo. Em termos de área cultivada, representa entre 20% e 30% do total — e, mesmo com menor escala, é altamente relevante por estar pulverizada pelo território.

A produção voltada ao consumo interno — como leite, verduras, legumes e hortaliças — fortalece a segurança alimentar e reduz desigualdades. “O Brasil não pode abrir mão da agricultura familiar”, afirma o pesquisador, destacando que o cooperativismo tem sido fundamental para dar escala e competitividade ao setor. 

Inovação e tecnologia no agro com a agricultura

O Brasil também se destaca no cenário global pela inovação e tecnologia no agro. Tecnologias como agricultura de precisão, drones, sistemas de monitoramento remoto, sensores de solo e clima, e biotecnologia são cada vez mais comuns nas lavouras. A integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), por exemplo, já é uma referência de modelo produtivo com foco em sustentabilidade e meio ambiente.

Essas inovações não apenas aumentam a produtividade — elas reduzem perdas, otimizam recursos naturais e elevam a competitividade da produção nacional. A inovação e tecnologia no agro também ocorre através da atuação de instituições como a Embrapa, que lidera projetos de pesquisa e atua como articuladora entre governo, empresas e produtores.

No contexto da agricultura e da agricultura familiar, Pedro Abel Vieira Júnior cita o mercado de carnes como um bom exemplo para replicar aprendizados: “ Temos oportunidades e potencial para aumentar o impacto da agricultura na economia brasileira. Assim como aconteceu no mercado de carnes nos últimos anos, na agricultura, devemos buscar formas de agregar valor e também de fomentar as exportações agrícolas. Temos  enorme potencial na horticultura, por exemplo, que pode multiplicar produtividade e valor agregado”, diz. 

Além disso, o pesquisador defende o papel da gestão como pilar estratégico de desenvolvimento para a agricultura. “Confiança, coordenação e boa governança são indispensáveis para alavancar os ganhos do setor. Precisamos criar e manter mecanismos regulatórios claros e transparentes, programas de crescimento que visem o longo prazo e a diversificação de culturas, além de mais investimento em pesquisas. Não basta inovação e tecnologia no agro, é preciso boa articulação entre todos os atores das cadeias agroindustriais”.

Agricultura, sustentabilidade e meio ambiente

Com o protagonismo internacional, cresce também a responsabilidade ambiental do agronegócio brasileiro. O setor convive com pressões por cadeias agroindustriais mais sustentáveis, livres de desmatamento e de rastreabilidade assegurada. As exigências vêm tanto de consumidores quanto de mercados regulados, como União Europeia e China.

O especialista da Embrapa reconhece que o Brasil já possui sistemas sustentáveis consolidados — como o ILPF e programas de agricultura de baixo carbono. No entanto, a expansão desses modelos depende de confiança e governança, também para atrair mais investimentos privados. Segundo Pedro Abel Vieira Júnior, a transição energética é uma oportunidade única, mas exige “mais confiança na institucionalidade e segurança regulatória”.

Ele explica que o Brasil pode se posicionar como protagonista na transição energética global ao agregar valor às suas cadeias agroindustriais. A produção de biocombustíveis, como o etanol de milho, o avanço das proteínas alternativas e a integração entre sistemas vegetal e animal reforçam o potencial do país em oferecer soluções sustentáveis. 

Infraestrutura, crédito e obstáculos estruturais

Apesar dos avanços, ainda há gargalos relevantes para que o impacto da agricultura na economia brasileira seja plenamente aproveitado. A infraestrutura logística — especialmente estradas, ferrovias e portos — continua sendo um dos principais desafios para o escoamento da produção. A carência de estruturas de armazenagem agrava o problema, obrigando produtores a vender rapidamente e reduzindo seu poder de negociação e competitividade.

Outro ponto é o custo do crédito, que continua alto mesmo em programas oficiais. A falta de seguros rurais acessíveis também representa um risco, especialmente diante de eventos climáticos extremos.

Além disso, o pesquisador da Embrapa aponta a necessidade de maior articulação entre políticas públicas. “O Brasil precisa de programas coordenados que envolvam toda a cadeia produtiva, desde a produção primária até a comercialização e a agregação de valor”, destaca. A concentração da produção em poucas commodities também representa vulnerabilidades — tanto econômicas quanto geopolíticas.

Visão de futuro: diversificação, tecnologia e valor agregado

O futuro do agronegócio brasileiro está diretamente ligado à gestão do setor, além de sua capacidade de diversificação e inovação. A fruticultura, por exemplo, é apontada como um segmento promissor, com grande potencial de crescimento nos mercados internacionais — mas que ainda carece de mais apoio para abrir novos destinos comerciais.

Outras frentes estratégicas incluem o desenvolvimento de proteínas alternativas, biocombustíveis como o etanol de milho e o uso integrado de insumos vegetais e animais para maximizar o aproveitamento das cadeias. “O Brasil precisa olhar com visão de longo prazo, como a China faz com seu plano nacional de segurança alimentar”, reforça o especialista.

Ele destaca ainda que a Embrapa deve ser fortalecida como pólo de articulação e inovação — não apenas como geradora de tecnologia, mas como espaço de coordenação entre Estado, setor privado e produtores.

Um setor que move o Brasil

O impacto da agricultura na economia brasileira é amplo, profundo e estratégico. Ele se revela nos dados do PIB, nas exportações agrícolas, na geração de empregos no campo e na cidade, e no desenvolvimento regional. Mas vai além: o agro movimenta ciência, inovação, inclusão produtiva e segurança alimentar.

Em um mundo em constante transformação, o Brasil tem a chance de liderar a próxima geração de cadeias produtivas — mais tecnológicas, sustentáveis e conectadas. Para isso, precisa garantir previsibilidade, articulação institucional e programas que contemplem a complexidade e a potência desse setor.