“A Horsch foi fundada por uma família de agricultores, que em 1984 buscavam uma alternativa para tornar a agricultura deles mais sustentável naquele momento. O que eles não entendiam como sustentável na época era o processo de aivecar as áreas que até hoje ainda é muito utilizado na Europa”, explica Duck. A resposta para o problema foi o desenvolvimento de uma máquina para utilização nas suas próprias lavouras onde semeavam o trigo em uma operação só com um mínimo preparo de solo.
Outro exemplo interessante é a Maestro e as suas principais características, em 2003 começaram a plantar milho e não satisfeitos com a qualidade do plantio com as máquinas disponíveis na época, decidiram iniciar os trabalhos com sistema hidráulico linha a linha para que fosse possível uma uniformidade na profundidade de plantio e os dosadores elétricos para uma distribuição precisa. Além disso, o controle de estabilidade de barra é um caso de sustentabilidade.
O diretor explica que há alguns anos com o objetivo de evoluir na área da pulverização, chegaram a uma conclusão junto à vários produtores que um grande desafio nesta operação era a deriva. A partir disso começaram a fazer vários estudos e testes de bancadas assim como buscaram apoio de universidades para entender quais os reflexos da deriva. Concluídos estes estudos, os resultados foram surpreendentes; conseguindo reduzir a altura da barra durante a operação de 50cm para 25cm das plantas, o que gera uma redução de 20% da deriva.
“Sabemos” que hoje dificilmente a média da altura da barra chega aos 50cm. Após concluído isso, trabalhamos em um sistema inovador de controle de estabilidade de barra para que isso se tornasse possível. Este é um dos exemplos onde nos dedicamos para auxiliar o produtor para que tenhamos uma agricultura mais sustentável”, comenta.
Ainda de acordo com Duck, a Horsch planta mais de 6000 hectares na República Tcheca e a família toda entre irmãos e primos deve plantar mais de 12 mil hectares na Europa. Para eles a sustentabilidade sempre foi o motivador de seus desenvolvimentos.
Sustentabilidade no futuro
“O maior desafio na minha opinião é estarmos preparados para atender as expectativas e necessidades do nosso público. Será que o que produzimos hoje atenderá o nosso publico amanhã?”, questiona o diretor da Horsch; “A alimentação mundial tem mudado. Tem uma nova geração chegando com outros hábitos alimentares. Temos visto vários mercados consumindo produtos que não são aqueles que produzimos em escala”.
Assim, o papel das indústrias neste processo será o de desenvolver equipamentos que auxiliem o produtor neste contexto. “Hoje por exemplo temos um equipamento trabalhando no Mato Grosso semeando gergelim em um produtor que já tem se atentado ao mercado e tem buscado a diversificação em sua propriedade”. Na Europa por exemplo foi lançada em 2019 uma linha de produtos que chamamos de “Agricultura Regenerativa” onde desenvolvemos produtos prevendo um movimento futuro na agricultura de menor utilização de defensivos agrícolas.
“Claro que temos engenheiros e outros profissionais trabalhando e pensando em nosso negócio e no agro daqui a 10 anos. Mas o que temos discutido e na maioria das visitas aos nossos clientes é sobre o que a população espera ou exigirá dos agricultores no futuro”.
Agricultura tropical
Um dos maiores desafios das indústrias é a utilização de tecnologias importadas. A agricultura tropical tem características bastante distintas da Europa, Estados Unidos e Ásia em geral o que faz não trivial atuar nas nossas condições. “Por mais que tenhamos países e em específico alguns clientes que trabalham há anos com o plantio direto, posso dizer que não se comparam as nossas condições e ao nosso sistema”, explica Duck.
Ainda segundo o diretor da Horsch, os desafios encontrados aqui no Brasil são ímpares. A empresa tem buscado fazer o máximo de cobertura para que o nosso sistema se torne cada vez mais sustentável, o que torna muitas vezes o plantio desafiador, pois temos em algumas condições muita palha, a qual precisa ser cortada, mas não retirada do solo, ou seja, precisamos mexer o mínimo possível com a palha para que após a passagem da linha de plantio o solo permaneça coberto.
O que é necessário, é o processo de tropicalização para cada uma destas tecnologias onde algumas requerem mais tempo, outras menos. A plantadeira que comercializada no Brasil é muito diferente das comercializadas na Europa. Existem algumas tecnologias que tem desempenhado de forma surpreendente na Europa por exemplo que não se adaptam a nossa realidade.
Quando um produtor Europeu faz o seu plantio, ele já preparou aquela área para isso. “Isso torna o plantio não necessariamente mais simples, porém completamente diferente”. Eles encontram uma condição na maioria das vezes sem palha alguma sobre o solo e com um solo macio recém preparado. Ao contrário, os nossos solos na maioria das vezes estão há anos sem receber preparo de solo, compactados, com muita palha e em algumas condições com muita umidade. O que não permite aplicarmos algumas tecnologias, principalmente a partir de certas velocidades onde precisamos cortar a palha, abrir o sulco, colocar a semente na profundidade exata, com a distribuição desejada e fechar este sulco sem a intervenção ou a entrada da palha no mesmo.
“Existem condições e solos que não permitem realizar este processo. Portanto o nosso desafio falando em tecnologia é buscar entender a real necessidade dos produtores brasileiros para que assim possamos trazer sim as boas tecnologias de fora que podem ser tropicalizadas e desenvolver novas tecnologias específicas para as nossas condições”.
A palavra segredo tem um significado interessante, afirma Duck: adaptar e desenvolver tecnologias cada vez mais específicas para cada região. Este é o nosso formato de trabalho na Europa e o que temos buscado fazer também no Brasil. Entendo que vivemos um momento na agricultura onde os produtores têm buscado os detalhes, e para que possamos extrais o máximo das máquinas e atingir as produtividades que desejamos. Ter uma plantadeira que plante com excelência no Paraná, no Goiás, no Mato Grosso e na Bahia, seria um sonho, mas temos entendido e trabalhado com um time forte de desenvolvimento para adaptar-nos a cada região.
“O que é complexo, mas possível. Este é o principal motivo pelo qual não atendemos o país inteiro ainda, as condições de plantio que encontramos no Goiás nos últimos anos por exemplo, foram muito diferentes do que havíamos trabalhado até hoje”.
Plantamos no Goiás desde 2017 e cada ano foi diferente. E só tem uma forma de atender a necessidade do cliente, é necessário que entendamos a real necessidade dele, e isso só é possível no campo, junto com ele, tornando o produtor parte deste desenvolvimento e desta tropicalização. Muito do que funciona na teoria, na prática se comporta diferente. Ninguém melhor do que o produtor com toda sua experiência e conhecimento da sua própria realidade para nos auxiliar neste processo. Esse entendo que seja o segredo para desenvolver as novas tecnologias nas condições do Brasil.