Imagine começar uma vida de casado com pouco dinheiro para se manter, somando dívidas por todos os lados e um trator fundido como única herança. Para muitas pessoas, esse cenário seria motivo de desistência, mas para Jair Cruz Rezende, foi só o começo.
Nascido em Igarapava, interior de São Paulo, Jair iniciou sua trajetória nos anos 60, no ramo da terraplanagem, quando tudo era mais difícil, mais caro e mais distante.
Naquela época, o acesso a maquinário era escasso. Quem precisava de um trator, enfrentava diversos desafios, precisava encarar longas viagens, muitas vezes até outros estados. E o pior, muitas vezes para comprar um trator usado, por vezes desmontado, e sem a garantia de que o motor estivesse funcionando. Os financiamentos também eram uma lenda. Quase todos os pagamentos aconteciam na base da promessa ou cheque em branco.
“Eu parei de comer para conseguir pagar o trator e a caminhonete que comprei fiado. Foi quando minha esposa Simone me deu três cheques em branco. Disse: ‘ninguém vai passar fome por causa de dívida’. Eu prometi que não ia usar. E graças a Deus, não precisei”, lembra Jair.
Essa mistura de fé, improviso e coragem marcaria toda sua trajetória.
A máquina que abriu horizontes
O primeiro grande trabalho veio quando menos esperava: um hábito comum da época, o de visitar pessoas doentes ou debilitadas. Jair visitava uma antiga amiga da família que havia feito uma cirurgia, e em conversa com o marido dela — dono de uma grande propriedade — acabou sendo contratado para abrir área de plantio. O fazendeiro estimava ter 44 alqueires. Depois de dias de trabalho e uma medição correta com agrimensor, descobriram que eram mais de 115.
“Ele ficou sem cor. Disse que a fazenda dele tinha crescido! Aquilo mudou minha vida”, conta, entre risos.
Com o dinheiro que recebeu pelo trabalho, entregue em mãos, com maços de notas de mil cruzeiros do Banco do Brasil, Jair comprou outro trator e aumentou sua frota. Foi o início de uma caminhada que o levaria a operar, reformar, comprar e vender dezenas de máquinas ao longo das décadas.

Cada aquisição marcava uma nova aventura. Afinal, não havia internet, exposições ou feiras especializadas. Jair viajava de cidade em cidade, em busca de tratores bons e com preço justo.
Enfrentava diversos desafios como, dormir na caminhonete, usar redes improvisadas, cozinhar em barracas. E precisou desenvolver uma habilidade muito específica: avaliava as máquinas com ouvido apurado, reconhecendo defeitos só pelo som do motor.
“Aprendi tudo no barulho. Se um trator passasse na minha frente, eu sabia dizer se estava com problema”, garante.
Jair lembra de uma compra em que rejeitou uma máquina por causa do jogo excessivo na embreagem e da folga nas buchas. “Nem puxei a alavanca. Só de olhar, vi que daria problema e precisaria de oficina. Agradeci e fui embora.”
Em outra ocasião, dormiu no meio do garimpo para encontrar um trator no Mato Grosso, vendido por um cerealista. O acesso era muito dificultoso, apenas por estrada de terra e o dono queria vender por não conseguir pagar as parcelas da máquina. Jair ofereceu uma entrada e assumiu o restante da dívida. Outro ponto de atenção que precisou aprender ao longo dos anos, foi a parte burocrática da realização desses negócios. Sempre levava contratos feitos à mão e testemunhas, garantindo que tudo fosse acertado no papel.

Operador de trator e líder
A vida no campo, especialmente no setor de máquinas, exige muito mais do que saber dirigir. Jair também foi mecânico, chefe de equipe, cozinheiro e encarou o desafio da gestão de pessoas.
Certa vez, ao levar um operador para um serviço pesado em meio ao mato, precisou montar toda uma estrutura para ele: barraca, comida e turnos de descanso. Com o período de isolamento e distância da cidade, o operador passou a sentir-se abalado e começou a beber escondido. Jair descobriu a situação encontrando garradas escondidas pela área e precisou lidar com a situação para finalizar o serviço.
Jair também cuidava da manutenção com zelo. Apesar do valor elevado da graxa na época, investia no produto para garantir que suas máquinas estariam sempre em pleno funcionamento. Observava o uso, dava bronca quando precisava e ensinava a todos ao redor a preservar o equipamento.

Cheques, calotes e até anel de noivado
Viver da terraplanagem era sinônimo de riscos. Diversos clientes davam o calote e muito trabalho para efetuar o pagamento. Um desafio grande era receber pagamentos em formatos diferentes do convencional e, aceitar mesmo assim, porque era a única maneira de garantir que seria pago.
Jair lembra de um cliente que, ao ser cobrado na rua, puxou a mão da namorada, tirou um anel brilhante e disse: “Fico sem ela, mas pago a dívida”, relembra.
Em outra situação, perdeu a paciência e rasgou uma letra de câmbio de um devedor em plena praça pública. “Ele disse que não ia pagar. Então rasguei o papel na frente de todo mundo. Falei: agora você não deve mais.”
Mesmo com os tropeços, Jair seguia. Foi atualizando suas máquinas e acabou vendendo os tratores mais antigos para várias partes do Brasil — do Paraná a Catalão, de Araxá a Uberaba — e até para o exterior, enviando uma máquina para o Paraguai.
A primeira vez na Agrishow
Apesar de sua longa jornada com tratores, Jair só visitou a Agrishow pela primeira vez no começo dos anos 2000. Já idoso, foi com um amigo e ficou impressionado com o que viu.
“Cheguei às 8h e fui embora às 10h30. Era tanta coisa que fiquei até zonzo. Vi um monte de trator, vi até o lançamento da caminhonete da Volkswagen, aquela com banco giratório. Lembro direitinho.”
A experiência, apesar de breve, foi reveladora. Jair percebeu o quanto a feira poderia ter facilitado sua vida décadas antes. “Se eu tivesse uma Agrishow no meu tempo de terraplanagem, não tinha quebrado tanto a cabeça.”
Um marco para o agro brasileiro
A fala de Jair traduz o que milhares de produtores também sentem. Antes da Agrishow, comprar máquinas era uma jornada difícil e incerta. A feira trouxe uma poderosa revolução: democratizou o acesso à tecnologia no campo!
Hoje, na Agrishow, os visitantes encontram:
- Comparação em tempo real: Máquinas de diferentes marcas, tipos e tamanhos, todas em um só lugar.
- Tecnologia de ponta: Lançamentos que antes demoravam anos para chegar ao campo agora estão disponíveis na mesma semana.
- Condições especiais: Bancos, cooperativas e financiadoras presentes no evento oferecem crédito acessível, personalizado e com juros competitivos.
- Testes e demonstrações: Os produtores podem ver, tocar e até pilotar os equipamentos antes de fechar negócio.
O futuro na esperança de um novo encontro
Hoje, com 85 anos, Jair não trabalha mais com terraplanagem. Seu tempo de estrada ficou para trás, mas a paixão continua. Perguntado se pretende voltar à Agrishow, ele responde com brilho nos olhos:
“Se Deus quiser e eu tiver saúde, na próxima eu vou. Quero ver tudo de novo. Mas dessa vez, com mais calma”, afirma.
A história de Jair Rezende é a prova viva de que o agro é feito de terra, suor e apoio das máquinas.
Em 2025, a Agrishow celebra sua 30ª edição, comemorando com produtores que lutam diariamente em todos os cantos do Brasil, com muito esforço, resiliência, coragem e inovação! Faça parte dessa celebração também, garanta seus ingressos!