Se tem um tema atual que atravessa saúde, preço e sustentabilidade, este é o aumento do consumo de proteína. Globalmente e no Brasil, as pessoas estão buscando mais proteína por saciedade e bem-estar, com tendências de consumo de proteína puxadas pelos mais jovens. 

Em 2024, 61% dos consumidores disseram ter aumentado a ingestão de proteína, segundo levantamento da Cargill, e a Geração Z puxa a fila ao buscar conveniência e “alto teor proteico” no rótulo. Esse movimento também redefine o consumo de proteína no Brasil: enquanto o país mantém liderança no mercado de proteína animal (bovina, suína e aves), cresce o interesse por proteínas alternativas (plant-based) e produtos híbridos.

Para quem produz e industrializa, o recado é direto: existem oportunidades para o agronegócio nas duas frentes – animal e vegetal – desde que custo, qualidade, rastreabilidade e sustentabilidade e proteína caminhem juntos. Ao longo deste texto, você verá onde a demanda avança, os desafios da pecuária brasileira, as principais tendências de consumo de proteína e as estratégias para diversificar portfólio e atender mercados exigentes.

Siga na leitura para acessar dados atualizados e um roteiro prático de como capturar valor nesse novo ciclo, unindo competitividade, inovação e responsabilidade ambiental.

Consumo de proteína no Brasil: onde estamos crescendo 

No recorte animal, o consumo de proteína no Brasil mostra ganho de aves e ovos, estabilidade/alta em suínos e recuo em bovinos em 2025 após dois anos de alta. A ABPA projeta consumo per capita de frango entre 46–48 kg em 2025, e avanço histórico do ovo: 288 unidades por habitante em 2025, com perspectiva de 306 em 2026, colocando o país entre os 10 maiores consumidores do mundo. 

Já a carne bovina teve retração de 35 kg/hab em 2024 para 31,9 kg/hab em 2025, por preço e exportações firmes. No pescado, o consumo médio segue na casa de 10,5 kg/hab, abaixo da média global, mas com espaço para crescer. 

Segundo estudo do GFI, do lado vegetal, o público flexitariano se consolida e amplia o espaço das proteínas alternativas (plant-based): 26% dos brasileiros já consomem carne vegetal ao menos 1x/mês e 48% usam alternativas lácteas vegetais. A aceitação de produtos híbridos (misturam fontes animal e vegetal) também avança, especialmente entre a Gen Z e millennials, o que abre avenida para ingredientes, P&D e co-manufatura local.

Leia também: Proteínas: tendências e oportunidades na América Latina

Oportunidades para o agronegócio: escala, diversificação e inovação

A oferta brasileira de proteína animal deve permanecer robusta. A Conab projeta patamar recorde agregado em 2026, cerca de 32,3 milhões de toneladas, somando frango, suínos e bovinos, com frango e suínos compensando um ciclo menos favorável no boi. 

Paralelamente, a Conab estima nova safra recorde de grãos em 2025/26, reforçando a competitividade em custo de ração. No crédito, o Plano Safra 2025/2026 reservou R$516,2 bilhões para custeio e investimento, priorizando tecnologia e sustentabilidade.  

Para além da escala, está a diversificação: cooperativas e indústrias podem capturar margens com linhas plant-based (lácteos e cárneos) e insumos para blends/híbridos, enquanto agroindústrias de proteína animal expandem portfólio com cortes prontos, conveniência e rastreabilidade ambiental. 

“O Brasil foi muito inteligente nos últimos anos ao desenvolver sua produção de carnes e grãos. Somos reconhecidos pela capacidade de adaptar tecnologias e responder rapidamente às demandas do mercado. Agora, o desafio é diversificar – tanto a produção quanto os mercados – e buscar novas formas de agregar valor, como já vem ocorrendo com os avanços no setor de carnes”, afirma Pedro Abel Vieira Júnior, pesquisador da área de estratégia da Embrapa.

Programas de fomento a alternativas (como editais regionais e parcerias GFI Brasil) estimulam P&D em fermentação, cultivo celular e ingredientes, atraindo startups e centros de pesquisa para a cadeia.  

Desafios da pecuária brasileira: sustentabilidade, exigências e logística

O crescimento da demanda vem com cobrança por comprovação de origem e impactos. A sustentabilidade e proteína entrou no centro do jogo: os mercados premium exigem rastreabilidade e comprovação de desmatamento zero. 

 De acordo com o pesquisador da Embrapa, Pedro Abel Vieria Júnior, o país já dispõe de sistemas sustentáveis consolidados, como a integração lavoura-pecuária-floresta, por exemplo. No entanto, a expansão desses modelos depende de melhor governança.

 “Há programas de estímulo à produção energética e experiências promissoras no país. Porém, o avanço ainda é lento, travado pela burocracia. Para acelerar, é necessário criar mecanismos regulatórios claros e transparentes. Tudo isso exige institucionalidade e segurança regulatória”, diz.

A regulamentação europeia (EUDR) terá aplicação escalonada a partir de dezembro de 2025 para grandes operadores, com declarações de diligência e georreferenciamento a nível de parcela para commodities como cattle (beef) e soja. Isso requer integração de dados, monitoramento de fornecedores indiretos e governança territorial, temas que a cadeia de bovinos vem endereçando com novos planos de identificação individual até 2032.

Infraestrutura e crédito seguem críticos: armazenagem, logística refrigerada e conectividade determinam competitividade na proteína animal e nos análogos vegetais. Ainda assim, o reforço do Plano Safra e a agenda de inovação ajudam a mitigar gargalos, especialmente quando combinados a protocolos de qualidade, bem-estar animal e auditorias de fornecedores.

Tendências de consumo: saudável, conveniente e rastreável

A tendência de consumo de proteína migra para produtos com rótulo limpo, alto teor proteico, porções menores e conveniência (pronto-para-cozinhar). Jovens lideram snacks proteicos e refeições rápidas com “boost” de proteína. A categoria plant-based amadurece, com foco em sabor, textura e preço competitivo; e crescem os produtos “híbridos” como ponte de adesão.

 Para o B2B, ingredientes proteicos (vegetais, lácteos, ovos, colágeno) ganham campo em categorias como panificação, bebidas e snacks – um universo onde Brasil tem oferta agrícola e indústria para capturar valor.

Estratégias para transformar demanda em resultado

A demanda por proteína está crescendo e ficando mais exigente (saudável, sustentável, rastreável). Para capturar valor agora – tanto na proteína animal quanto nas proteínas alternativas (plant-based) – três frentes costumam acelerar ROI e abrir mercado. Abaixo, o por quê, o como começar e KPIs para acompanhar.

  1. Rastreabilidade e conformidade: adote sistemas que vinculem lotes a talhões e propriedades, com verificação de fornecedores diretos e indiretos (especialmente no boi), prontidão a EUDR e relatórios ESG de escopo claro.
  2. Eficiência ambiental no campo: integrar ILPF, plantio direto e bioinsumos reduz emissões líquidas e preserva solo — estudos da Embrapa mostram potencial de sequestro que chega a superar emissões em sistemas integrados. Isso melhora o balanço de carbono e diferencia produtos no varejo.  
  3. Portfólio e canais: mantenha foco no mercado de proteína animal (cortes prontos, bem-estar, certificações) e teste linhas de proteínas alternativas (plant-based) e híbridas para servir flexitarianos; invista em atributos que convertem (sabor, preparo rápido, teor proteico e preço).  

É importante entender que o aumento do consumo de proteína não é uma onda passageira; é mudança de hábito com impacto direto no campo, nas fábricas e nas exportações. Para o Brasil, unir competitividade da proteína animal com inovação em plant-based é a rota mais inteligente — e ela depende de três pilares: eficiência produtiva, sustentabilidade e proteína com dados auditáveis e um olhar atento às tendências de consumo de proteína que valorizam saúde, conveniência e origem. Com produção recorde à vista e crédito direcionado, quem se mover agora captura margem e reputação nos próximos ciclos.