O transporte de alimentos por grandes distâncias e as dificuldades climáticas são hoje as principais causas das perdas da agricultura brasileira. Nesse sentido, as chamadas fazendas verticais começam a ser uma das soluções para melhor aproveitamento de áreas urbanas destinadas à produção agrícola intensiva e para a aproximação dos polos de produção e consumo.
Segundo Ítalo Moraes Rocha Guedes, pesquisador em Nutrição de Plantas e Cultivo Protegido da Embrapa Hortaliças, esse sistema envolve a produção agrícola, onde todas as variáveis ambientais são controladas, permitindo o dobro ou até o triplo de desempenho em comparação à agricultura tradicional.
Assim, diante de uma agricultura cada vez mais “high tech”, as fazendas verticais começam a chamar a atenção de pequenos e médios agricultores. Estes podem se beneficiar das características dessa nova forma de fazer a agricultura em ambientes fechados, pois conseguirão aumentar sua produção e reduzir as perdas.
O que são fazendas verticais?
Fazendas verticais são um tipo de produção agrícola indoor, ou seja, em ambiente fechado e totalmente controlado, em que o cultivo é feito por módulos, andares ou camadas.
O pesquisador explica que, além do controle total das variáveis ambientais que afetam o crescimento e a produção vegetal (iluminação, temperatura, umidade, concentrações de CO2 e O2), há também melhor aproveitamento do espaço, cada vez mais reduzido em ambientes urbanos.
Além disso, Guedes explica que os cultivos indoors quase invariavelmente utilizam técnicas de hidroponia para produzir verduras e hortaliças. “A Hidroponia economiza drasticamente as quantidades de água e nutrientes, podendo chegar a até 95% da redução do uso de água. Isso faz da agricultura indoor uma alternativa muito interessante para regiões onde há escassez de água, como é o caso do semiárido”, ressalta.
Segundo Guedes o volume de espaço das fazendas verticais é reduzido, variando entre 0,3m3 até 30m3. “A produção nestes sistemas é precoce, nutricionalmente completa, livre de agrotóxicos e de manipulação”, complementa o pesquisador.
Agricultura indoor: oportunidades para pequenos e médios agricultores
Segundo Guedes, essa nova forma de agricultura realizada em ambientes fechados poderá prover serviços sociais completamente novos nas áreas urbanas, as quais vêm enfrentando restrições de ordem ecológica, social e econômica. Tais serviços podem ser realizados essencialmente por pequenos e médios agricultores.
Além de aumentar a produtividade em até duas ou três vezes, a agricultura indoor em áreas urbanas abre ainda a possibilidade de reuso de recursos, como água e mesmo resíduos vegetais.
“Dickson Despommier, o pai do conceito de fazendas verticais, prevê o reuso de águas cinzas de consumo doméstico na irrigação de plantas no cultivo vertical, bem como a calcinação (um tipo de processo de queima) de lodo de esgoto doméstico para gerar energia elétrica para as fazendas verticais”, explica Guedes.
Dois fatores estimulam o uso de fazendas verticais
Apesar de estar ganhando maior popularidade mundial, o interesse brasileiro por fazendas verticais ainda é pequeno. No entanto, o pesquisador da Embrapa ressalta que há dois fatores que fazem com que a área de agricultura em ambientes protegidos (neste caso, em proporção mais modesta que as fazendas verticais) ganhe mais espaço. São eles:
- Crescimento da população urbana, principal consumidora de hortaliças e frutas; e
- Aumento da incidência de eventos climáticos extremos, que afetam de forma negativa a produção desses dois grupos de cultivos na agricultura tradicional.
Como vem sendo observado, esse novo momento começa a ganhar força perto dos grandes centros urbanos, como explica o pesquisador da Embrapa Hortaliças. “Já é possível visualizar expressivos ‘white belts’ ou cinturões brancos (em relação à cor do plástico das estufas) ao redor de grandes centros, como ocorre ao redor de Brasília, São Paulo e mesmo Manaus, por exemplo”.
Por outro lado, um dos fatores que limita o crescimento da produção tecnificada de hortaliças e frutas em ambiente controlado ainda é o baixo consumo deste tipo de alimento pelo brasileiro.
Há ainda outra questão importante que é citada por Guedes: uma questão por vezes considerada com menor atenção é a da sucessão nas propriedades rurais: a população de produtores rurais envelhece porque os jovens migram para as cidades. “Diz-se que a agricultura não atrai os mais jovens porque ainda identificamos a atividade agropecuária com o uso de tecnologias hoje consideradas primitivas, como enxadas, foices e arados”, diz.
Guedes diz que as fazendas verticais podem ser um importante estímulo nesse sentido: “A agricultura em fazendas verticais vem desconstruir completamente essa impressão e atrair cada vez mais os jovens para atividades de produção de alimentos”.
Para finalizar, Guedes acredita que as fazendas verticais não deixam de ser uma das soluções mais criativas para promover a agricultura no âmbito mundial.
“São sistemas que atendem à realidade atual, diante da maior incidência de eventos climáticos extremos, da pressão urbana por terras agricultáveis, da preocupação com a diminuição de perdas de alimentos pós-colheita e da pressão ambiental por uma agricultura mais eficiente no uso de insumos, mais produtiva e menos dependente do uso de terras”.
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