Você sabe o que é refúgio e faz uso desta tecnologia? Se sim, saiba que você faz parte dos poucos produtores que adotam esta tecnologia de proteção da lavoura.
Sabendo da importância da prática, a SDA (Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura) recentemente propôs um crédito diferenciado no Plano Safra 2017/2018, a fim de incentivar financeiramente os produtores a fazerem o refúgio em suas lavouras com sementes Bt (tecnologicamente modificadas para resistirem mais às pragas e insetos).
Apesar de a proposta ser válida, ela não foi para frente - pelo menos não no Plano Safra 17/18 que já foi divulgado. Mas, independente de sua aprovação, é fundamental colocar em discussão a importância do refúgio.
O que é o refugio na agricultura?
A área de refúgio é a semeadura de um percentual da lavoura, utilizando milho não Bt (convencional), de igual porte e ciclo ao milho Bt (resistente à insetos). O objetivo é evitar o surgimento e a evolução de pragas resistentes aos “inseticidas” contidos nessa tecnologia.
"A área de refúgio é a principal estratégia que os produtores têm para evitar a quebra de resistência dos transgênicos, mantendo o equilíbrio ecológico e a produtividade das lavouras", diz Simone Martins Mendes, pesquisadora da Embrapa Milho e Sorgo, especialista em refúgio para lavouras.
Com esta tecnologia de manejo, os insetos do refúgio cruzam com os insetos da área Bt, gerando novos indivíduos que estarão suscetíveis à ação da tecnologia. Portanto, evita-se que ocorra o surgimento e a evolução de pragas resistentes aos “inseticidas” contidos na tecnologia.
Como adotar a prática?
Simone informa que a área de refúgio deve ser conduzida sempre de acordo com as recomendações do Manejo Integrado de Pragas (MIP). O início da cultura deve ocorrer juntamente com as plantas Bt.
O percentual da área que deve ser usada varia de acordo com a cultura transgênica utilizada e com aspectos agronômicos. Convencionou-se que, para a soja e para o algodão, 20% da área deve ser cultivada com sementes não Bt; para o milho, esse índice é de 10%.
É fundamental que as áreas de refúgio estejam localizadas a uma distância máxima de 800 metros da lavoura com a tecnologia Bt e sejam, preferencialmente, plantadas com um híbrido de ciclo vegetativo similar, caso contrário será ineficaz.
A adoção do refúgio no Brasil ainda é baixa
É sabido entre todos que os números da agricultura brasileira são sempre expressivos, com crescimento sempre contínuo. As estimativas da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) indicam que na safra 2016/2017, o País deverá colher 232 milhões de toneladas de grãos, um aumento de quase 25% em relação à safra anterior.
Na adoção de biotecnologia, os números também são impressionantes. De 2011 para 2015 a área plantada com culturas transgênicas no Brasil saltou de 30,3 milhões de hectares para 44,2 milhões, resultando em uma adoção média de 90% da área total cultivada com milho, soja e algodão.
Apesar desse cenário animador, é consenso que ainda falta ao País dar a grande guinada na taxa de adoção do refúgio, processo que é fundamental para o sucesso produtivo. Simone ratifica que não há estatísticas oficiais sobre o assunto.
“No campo, temos visto um nível de adoção muito baixo, com poucos produtores tendo se disponibilizado a fazer refúgio ou fazendo de forma não correta”, comenta. Ainda de acordo com Simone, há sim uma questão econômica para o não uso da prática, já que ela demanda maior custo. No entanto, ela considera que o grande problema é o produtor não entende o porquê nem como fazer, e a partir do momento que ele não vê o benefício, ele não sente a necessidade de fazer.
Ações integradas são fundamentais para o refúgio
Objetivando aumentar a taxa de adoção do refúgio, as instituições públicas e as empresas detentoras das tecnologias Bt têm aumentado seus esforços em todo o país na busca pela conscientização dos produtores, em especial, na aplicação das “Boas Práticas Agronômicas em Culturas Bt” para o Manejo da Resistência.
Assim, algumas ações integradas devem ser utilizadas na busca de maior adoção da prática por parte dos produtores. São elas:
a) Medidas relacionadas à educação em todos os canais de distribuição, caso das revendas de sementes;
b) Incentivo aos revendedores das sementes de transgênicos com proteínas Bt, para que conscientizem os consumidores da importância de adotar a área de refúgio;
c) Incentivo econômico para a adoção deste tipo de tecnologia, como subsídios, por exemplo;
d) Aumento do conhecimento do produtor, indicando quais são os benefícios para a lavoura;
e) Conscientização dos produtores.
Simone indica essa última ação como fundamental: “Não adianta nada um produtor fazer o refúgio e seu vizinho não fazer. Se isso acontecer, a vida útil desta tecnologia será reduzida na área”.
Adotando essas práticas, é possível que o uso da tecnologia Bt com refúgio aumente, fazendo com que ela continue contribuindo para o manejo eficiente das principais pragas-alvo em cada cultura.
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