Com um mercado de US$ 4 bilhões, Israel abre as portas para o frango kosher brasileiro

Israel é um dos maiores consumidores mundiais per capita de carne de frango kosher. Suas tradições judaicas são muito rígidas e precisam ser seguidas à risca por produtores e frigoríficos que atendem este mercado.

Mas, o que pode ser visto como um grande obstáculo, para o produtor brasileiro é uma ótima oportunidade, principalmente depois que o governo israelense abriu seu mercado para a carne de frango produzida aqui.

Assim, para alcançar este mercado, tanto a produção quanto o abate do frango kosher exigem o aceite de uma série de particularidades que precisam ser 100% atendidas. 

Brasil se torna o 1º país a exportar frango kosher para Israel

Israel é um dos maiores consumidores mundiais per capita de carne de frango, com projeções são bastante promissoras, com expectativa de aumento da demanda para mais de 700 mil toneladas anuais até 2026.

E, para atender este mercado, Brasil e Israel recentemente concluíram as negociações para abertura do mercado israelense à carne de frango do Brasil. 

Representantes do MAPA estiveram em Israel para realizar visitas a estabelecimentos produtivos do país para coletar informações sobre o processo de produção “kosher”, ao qual as empresas exportadoras para Israel deverão aderir.

Com essa negociação, o Brasil tornou-se o primeiro país do mundo a exportar carne de frango kosher para o mercado israelense. Isso atesta o alto nível de credibilidade e confiança do sistema brasileiro de defesa agropecuária.

Assim, segundo Felipe Kleiman, fundador da KLM Kosher Consult, o Brasil pode ocupar um terço do mercado consumidor de frango de Israel. “O consumo israelense é de 666 mil toneladas/ano. Eles têm o maior consumo de frango per capita do mundo, com 65 quilos por ano. No Brasil são 48 quilos e nos EUA 58 quilos”.

Frango Kosher: alimento apropriado aos judeus

As tradições judaicas são muito rígidas quando se trata de manejo para carnes de consumo. As regras são bastante específicas e estabelecem uma série de critérios para a alimentação destes alimentos, principalmente quanto ao abate de aves voltado ao bem-estar do animal.

De acordo com a Torá, texto central do judaísmo, as aves devem ser abatidas em um ritual chamado Shechita realizado por uma pessoa apta, um rabino, o Shochet, posteriormente à oração Beracha.

No kosher, a traqueia e o esôfago do animal são cortados com uma lâmina afiada e perfeitamente lisa conhecida como chalaf, causando morte instantânea e sem dor.

Em seguida, os órgãos internos são inspecionados por um rabino para detectar anomalias fisiológicas que classifiquem a carne como não-kosher.

Pode até parecer um processo simples, mas para Kleiman todo o processo é muito complexo e exige uma série de adequações. 

“Nenhum frigorífico de frango conseguirá abater animais kosher de um dia para outro. Ele precisará fazer muitas modificações em sua estrutura e processos. A depenação, por exemplo, é bem mais complexa por não permitir o uso de água quente nessa fase”, comentou. 

Assim, de forma geral, o objetivo principal deste ritual de abate é eliminar o máximo de sangue através da sangria intensa e imersão da carne em água por 30 minutos, seguida por uma hora de salga a seco e, novamente, três imersões em água consecutivas de uma hora cada.

Frango Halal x Frango Kosher: entenda as diferenças 

Importante destacar também que há claras diferenças entre o frango kosher e o frango halal, do qual o Brasil é um grande produtor. Alimentos Kosher e Halal são destinados, fundamentalmente, a judeus e muçulmanos, respectivamente.

As normas Halal dizem respeito à forma de abate, realizado por um muçulmano que tenha atingido a puberdade e que durante o ato pronuncie o nome de Allah, com a face voltada para Meca, e que faça uma oração dizendo o nome de Allah.

A faca deve estar bem afiada, visando o mínimo sofrimento do animal, além de outros fatores determinantes para que o processo seja efetivamente considerado Halal.

No Kosher, o abate do animal deve ser pelos meios mais gentis possíveis, sem tormenta e de forma rápida. Por isto, a faca deve estar excessivamente afiada e o abate na garganta para não causar dor excessiva. 

Como já destacado, a faca é denominada Chalaf, cujo comprimento é pelo menos o dobro do diâmetro do pescoço do animal. 

A Shechita (a incisão no animal) apenas pode ser executada por profissional altamente treinado, o Shochet, que estudou por vários anos os textos religiosos, os aspectos práticos, abate e inspeção.

Desafios da produção kosher

De fato, o mercado israelense possui grande potencial de consumo. Atender este mercado pode representar uma grande oportunidade para a avicultura brasileira. 

Kleiman afirma que o mercado potencial para o Brasil em Israel é de US$ 4 bilhões por ano. “Nosso país pode ocupar um terço do frango consumidor por lá em até cinco anos”.

No entanto, o diretor da KLM Kosher Consult destaca que existem alguns desafios importantes a serem superados, com destaque para:

• Maior compreensão do mercado consumidor de aves Kosher;
• Entender e se adequar às demandas religiosas no processo produtivo;
• Criar modelos de operação que entreguem melhores resultados, incluindo processos fabris, gestão e infraestrutura de abate;
• Seguir os preceitos de abate religioso, sem insensibilização prévia;
• Se adequar aos desafios sanitários nativos do abate Kosher de frango, caso da depenação à frio, sem escaldar.

Para superar esses desafios e entrar neste mercado em ascensão, Felipe Kleiman destaca a importância de buscar os serviços de uma consultoria especializada em abate de frango Kosher e as atividades que atendem à todas as áreas de produção: “maquinário, projeto, rabino (que emite o certificado kosher), gestão, questão regulatória e comercialização”.

Mas uma coisa é certa. A negociação entre Brasil e Israel é um testemunho do compromisso contínuo do agronegócio brasileiro em fornecer produtos agropecuários de alta qualidade para o mercado global, solidificando sua posição como um dos grandes players do segmento a nível mundial. 

“Nos últimos anos, a abertura do mercado de Israel para o frango brasileiro é a maior oportunidade que vi aparecer em relações comerciais”, comemora Kleiman. 

Aproveite para conferir este material exclusivo e veja como é o processo de produção do frango Halal, que ajuda o Brasil a ser um grande exportador mundial dessa carne