A avicultura é crucial no agronegócio brasileiro, impulsionando a economia e garantindo o abastecimento interno e externo. Muito desse avanço é decorrente da genética avícola, que evoluiu nos últimos 50 anos.
Além de permitir maiores ganhos de peso em menos tempo, a evolução genética também contribui com um dos desafios mais importantes do segmento: a ameaça de doenças, como a influenza aviária.
Nesse contexto, pesquisadores e produtores priorizam o controle e prevenção de enfermidades, permitindo a identificação e seleção de aves mais resistentes.
Este artigo explora a evolução da genética avícola, destacando seu papel no combate à influenza aviária e seus impactos positivos na produção.
Evolução da genética avícola
A genética avícola passou por uma transformação notável ao longo das décadas.
Os métodos de seleção genética se baseiam na observação de características fenotípicas, como tamanho, peso e produção de ovos.
Os resultados da seleção genética são expressivos:
- A produção passou de 1,250 milhão de toneladas em 1980 para mais de 14 milhões de toneladas em 2023, conforme relatório da ABPA;
- Nos anos 2000, aos 42 dias de idade, um frango comum pesava 2,3 Kg. 20 anos depois (2020), o mesmo frango pesava 3,1 Kg, conforme artigo da Aviagen;
- Redução da pegada de carbono em 1% ao ano, com frangos de corte atuais produzindo 50% menos pegada de carbono, e com uma redução adicional de 15% prevista até 2030, também segundo a Aviagen;
- Na avicultura de postura, a produção na década de 60 era de 240 ovos. Hoje produzem 500 ovos, com melhor eficiência alimentar, segundo destacado pela AviNews.
Essa é a comprovação de que a biotecnologia revolucionou a genética avícola, introduzindo técnicas como:
- Tipagem de DNA;
- Sequenciamento genômico;
- Identificação de marcadores moleculares.
Essas ferramentas permitiram uma seleção mais precisa e eficiente, direcionada para características específicas, como ganho de peso e, mais recentemente, a resistência a doenças.
A biotecnologia também impulsionou o desenvolvimento de vacinas e diagnósticos mais precisos, complementando as estratégias de controle de enfermidades.
Monitoramento molecular ganha espaço
O monitoramento molecular é uma técnica crescente na avicultura. Ele analisa o material genético dos organismos, permitindo identificar variações e características específicas.
Na avicultura, sua aplicação é bastante abrangente, contribuindo significativamente para os ganhos de saúde e produtividade, além de levar maior sustentabilidade para a indústria avícola.
Assim, as principais aplicações do monitoramento molecular e genética avícola são:
- Diagnóstico de doenças: identificação rápida e precisa de agentes patogênicos, como o vírus da influenza aviária;
- Rastreamento de linhagens: monitoramento da disseminação de doenças e identificação da origem de surtos;
- Seleção de aves resistentes: identificação de genes associados à resistência a doenças, como a influenza aviária.
Além dessas possibilidades, a metodologia permite identificar genes associados à resistência à influenza aviária, como o gene ANP32A, conhecido por sua relevância na resposta à gripe aviária.
Os marcadores moleculares atuam como “guias”, auxiliando na seleção de aves com maior probabilidade de apresentar resistência, acelerando o processo de melhoramento genético.
Diante dos desafios da gripe aviária, uma reportagem da Agrimidia destaca o cientista Peter Halfmann, da Universidade de Wisconsin-Madison. Ele crê que parte da solução pode estar na genética avícola.
Ele e sua equipe focam suas ações no desenvolvimento de galinhas geneticamente resistentes ao vírus da gripe aviária. Certamente este é um avanço que poderia transformar a indústria avícola global.
Os pesquisadores estão desenvolvendo técnicas que permitem modificar genes específicos no genoma das aves, conferindo resistência direta ao vírus. As perspectivas são grandes.
Impactos e benefícios da evolução da genética avícola
Com os recentes avanços científicos e tecnológicos, os programas genéticos aumentaram sua precisão e aceleraram a chegada do processo ao campo.
Com isso, os avanços na genética avícola trazem inúmeros benefícios para avicultores brasileiros, como:
- Melhora da saúde animal: a seleção de aves resistentes a doenças reduz a incidência de enfermidades e melhora o bem-estar animal;
- Redução do uso de antimicrobianos: a menor incidência de doenças diminui a necessidade de tratamentos com antimicrobianos, contribuindo para o combate à resistência antimicrobiana;
- Aumento da sustentabilidade: aves mais eficientes convertem melhor os alimentos e apresentam menor impacto ambiental;
- Benefícios econômicos: o aumento da produtividade associado à redução de perdas por doenças, resulta em melhoria da qualidade dos produtos e melhor ganhos econômicos.
Desafios ainda carecem de soluções
De fato, o desenvolvimento da genética avícola trouxe uma série de benefícios ao segmento, inclusive no âmbito da resistência às doenças.
No entanto, o desenvolvimento de aves resistentes através da genética ainda enfrenta desafios e limitações, como:
- Complexidade genética da resistência: a resistência a doenças é influenciada por múltiplos genes, o que dificulta a seleção e a edição genética. Por isso, as pesquisas persistem em várias vertentes;
- Custo e tempo de pesquisa: o desenvolvimento de linhagens resistentes ainda exige investimentos significativos, tanto em pesquisa quanto em desenvolvimento;
- Aceitação pública: a utilização de técnicas de edição genética pode gerar debates e preocupações em relação à segurança e ao bem-estar animal. É preciso fazer propagandas para indicar ao consumidor final que o melhoramento genético é seguro.
Mesmo assim, a evolução da genética avícola representa um avanço significativo para o setor, oferecendo ferramentas eficazes para o controle de doenças, como a influenza aviária.
O monitoramento molecular, a seleção genômica e a edição genética certamente são tecnologias promissoras que contribuem para o desenvolvimento de uma avicultura mais saudável, sustentável e lucrativa.
A contínua pesquisa e o investimento em genética avícola são essenciais para garantir a segurança alimentar e o sucesso do agronegócio brasileiro.