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Produtor rural: Os “humanos GPT” estão entre nós

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O problema está nos humanos? Confira a opinião de Hugo Monteiro da Cunha sobre uso de inteligência virtual e o tão famoso Chat GPT, na coluna de março para o Agrishow Digital.

Você sabe o que é chat GPT? Ele é uma ferramenta de inteligência artificial que cria textos, poemas, músicas, palestras e tudo mais o que se imaginar. Ao menos, por alto, você já deve ter ouvido alguma coisa sobre ele. Geralmente, críticas negativas. A incerteza quanto ao futuro, ao primeiro impacto, nos assusta. Ficamos resistentes ou negamos o que está por vir. E, realmente, algumas formas de uso da ferramenta podem impactar o produtor rural, tocando, inclusive no seu bolso, e ele precisa estar atento, sendo ainda mais crítico com o que ouve ou lê por aí.

Não domino o assunto da inteligência artificial, mas o respeito. Até agora não falei nada sobre a nova ferramenta, dei a ela a importância que realmente tem. Tenho paciência para compreender de que se trata de um protótipo de algo muito legal, que realmente precisa ser testado, criticado, para ir evoluindo aos poucos, assim como os seres humanos. A próxima versão, ou geração, aprende com os erros da anterior, e assim sucessivamente. 

Em suma, o tal chat GPT não é mocinho e nem vilão. Hoje falarei é dos seres humanos, pois esses já estão no mundo há bastante tempo, o suficiente para merecerem as devidas críticas. Ainda sou compreensivo com eles, mas, infelizmente, perdi a paciência com alguns. Quanto às pessoas, também não acredito na simples dualidade entre mocinho e vilão. É preciso analisar a trajetória completa. Erros e acertos. Valores. Coerência. Compromisso. Profissionalismo.

Enfim, o que me motivou a falar do assunto foi um teste que fiz recentemente no aplicativo. Solicitei que ele criasse um ebook sobre “imposto de renda para produtores rurais”. Para minha surpresa, ele criou, em um passe de mágica, um conteúdo bastante completo, que faria sucesso nas redes sociais. Fantástico! Mas para que serve um e-book? O próprio texto gerado menciona que o assunto “é um tema importante e que gera muitas dúvidas nos produtores” (Chat GPT, 2023 [contém ironia]). Então, o material construído deveria ser útil ao produtor sanando suas dúvidas, correto? Com toda certeza. Só que o material faz o contrário. Reunindo informações equivocadas e desencontradas, leva a um único caminho possível: o produtor rural que o ler ter problemas com o fisco!

Eu já havia testado a ferramenta com coisas mais banais, como fazer perguntas cujas respostas eu já conhecia, para ver como seria a explanação. Não é surpresa que a maioria das respostas dadas pela ferramenta eram erradas. Algumas beirando o absurdo. Porém, TODAS com uma convicção assustadora. De dar inveja a qualquer pessoa honesta com suas inseguranças. Não existe “não sei a resposta, vou pesquisar, me informar e retorno” para o tal chat. 

Certa vez questionei quem escreveu o livro “Guia da gestão rural” pela editora Atlas (para quem não sabe, eu sou o autor). A resposta “informava” que foi o professor Marion, em 2005, levantando supostos assuntos tratados no livro e até o motivo que levou o professor a escrever algo que nunca escreveu e nem deve conhecer. Rebati, comunicando que a informação estava errada e o sistema colocou a culpa em quem o alimentou, pois os dados que possui acesso restringem-se ao ano de 2014. 

Analisando no campo ético, moral e até legal, pode ser perturbador pensar em como a ferramenta será utilizada nos próximos anos. 

Agora, vamos relacionar com nosso mundo real. Talvez o mais assustador seja perceber que esses pontos negativos da ferramenta não diferem muito dos comportamentos de algumas pessoas.

Mente com convicção, o que alguns vendedores de milagres impossíveis também fazem. Têm resposta para tudo, mesmo que a resposta não seja correta. E quando erram: “veja bem, você entendeu errado o que eu disse. Mas vou te ajudar vendendo uma nova solução”. Ou simplesmente colocam a culpa em outra pessoa. 

Copia coisas sem citar a fonte, mesclando com outras, alterando o autor ou sentido de algumas frases, distorcendo números oficiais para serem mais impactantes (alguém aqui já leu o livro “como mentir com estatística”?). Estou falando de uma ferramenta ou de um ser humano? Já nem consigo identificar, tamanha a semelhança. 

Enfim, mesmo diante todas as discussões legais, éticas e morais, o chat GPT pode ser bom. 

Primeiro: Um robô substituirá o trabalho de algumas pessoas de índole ruim. Um robô não tem rosto. Não será preciso encarar um mau caráter. Um robô roubando suas ideias, vendendo uma solução ou produto que não funciona, achando que sabe tudo, não cumprindo palavra e/ou colocando a culpa em alguém dá menos raiva do que ver alguém real, que as vezes pode ser até quem você confiava ou admirava muito, fazer o mesmo.

Segundo: as pessoas, em geral, acabarão ficando mais críticas. Vão saber identificar melhor os “humanos GPT”. Creio que, no futuro, ninguém citará “Chat GPT” como fonte de algo relevante. Com todo o respeito, será como o atual Wikipédia, onde a gente acha um norte para o que procura e vai checar se realmente as informações estão corretas (e olha que lá as informações tem citação de fonte, pelo menos). Logo será banalizado nesse sentido e será utilizado para o devido fim. Quanto mais informação fácil à disposição, mais críticos precisamos ser ao interpretá-las. E aí, pode ser que a criatividade, a valorização da propriedade intelectual, a preocupação em entregar um bom trabalho e, principalmente, o valor da palavra voltem à moda. 

Para finalizar, pedi ao chat que me desse um título bom para um texto que critica o próprio chat GPT. A resposta foi: "A Inteligência Artificial ainda não é perfeita: Uma análise crítica do Chat GPT". Viu? A ferramenta tem autocrítica. Sabe que não é perfeita. Ao contrário de muitos seres humanos. Mas fico com o meu título, criado por um humano que não sabe tudo, mas que tem valores e opiniões próprias e adora a liberdade de poder expressá-las.

 

Hugo Monteiro da Cunha Cardoso é consultor tributário e de empresas familiares no agro, professor de Gestão Rural, Direito e Planejamento Tributário e autor do livro “Guia da Gestão Rural” pela editora Atlas. Instagram: @hugomonteirodacunha

Os colunistas do Agrishow Digital são livres pra expressarem suas opiniões e estas não necessariamente refletem o pensamento do canal.

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