Dois conjuntos de números voltam a colocar o agronegócio em evidência na economia nacional.
O primeiro se refere ao PIB brasileiro de 2019, que cresceu apenas 1,1%: mais um ano de crescimento pífio, mostrando uma recuperação de economia abaixo do que se esperava. O setor industrial foi o que mais sofreu, tendo crescido apenas 0,5%. Serviços tiveram um aumento de 1,2% e a agropecuária foi o setor que mais avançou, embora menos do que em anos anteriores: 1,3%.
O fato é que os esforços governamentais não foram suficientes para melhorar os números. Os investimentos públicos do governo federal não foram significativos, repetindo em 2019 os miseráveis 0,8% do PIB observados do ano anterior; e o desemprego continuou muito elevado, embora com uma pequena recuperação: a taxa de 11,6% de 2018 caiu para 11,0% no ano passado. Mas ainda existiam no final do ano cerca de 11,6 milhões de desempregados. Não são números bons, evidentemente, ainda que o PIB da agropecuária tenha crescido mais do que o de outros setores e que o agronegócio tenha contribuído para a redução do desemprego (ano passado, o setor gerou 19.509 novos postos).
O que há de positivo, neste cenário um tanto desalentador, é a estimativa de colheita da safra que está correndo. O último levantamento do IBGE mostra um novo recorde na safra de grãos: deveremos colher 249 milhões de toneladas, ou 3,10% a mais do que no ano anterior, que já tinha sido a maior da história. E o mais importante não é um novo recorde. O que realmente importa é que a área plantada cresceu 1,2%, menos de um terço do que aumentou o volume a ser colhido. Isso sim é relevante, porque se explica pela melhoria do padrão tecnológico. Os produtores estão incorporando inovações técnicas que aumentam a produtividade por hectare cultivado. E esta é uma regra geral. A área de soja cresceu 2,6% e a produção, 10.4%; a área de arroz caiu 2,3%, mas a produção subiu 1,0%; a área de feijão diminuiu 1,6% enquanto a produção aumentou 4,5%.
Como toda regra, há uma exceção, que é o milho. Embora a área cultivada tenha aumentado 1,4%, a produção despencou 4,0%. E há explicação disso, por dois fatores. De um lado, houve seca pronunciada em regiões produtoras do Rio Grande do Sul, com perdas que chegaram a mais de 20% sobre a estimativa original. E por outro lado, a chuvarada de fevereiro em diversos estados atrasou a colheita da soja, o que reduziu a “janela” de plantio da segunda safra de milho, com reflexos negativos na produtividade do cereal.
Além desses grãos, há também estimativa de aumento da colheita de café, que deve chegar a 57 milhões de sacas, ou 22,3% a mais que no ano passado, mas isso tem a ver com a bianualidade típica dessa importante cultura. Também é esperado um pequeno crescimento da safra canavieira, graças à boa quantidade de chuvas no verão.
Todos estes números indicam a repetição de uma boa participação da agropecuária no PIB em 2020.
Quanto à renda dos produtores, as expectativas ainda estão indefinidas, em função do novo coronavírus e da recente queda dos preços do petróleo, além das consequências desses fenômenos nas bolsas.
O primeiro item (coronavírus) gera muita incerteza quanto às exportações agrícolas. Embora a demanda global por alimentos não tenha caído significativamente, as medidas tomadas por muitos governos ao redor do mundo estão interferindo na logística do abastecimento, especialmente no transporte. E isso pode comprometer a internalização de produtos agropecuários. A definição quanto a este fator será dada pela duração da pandemia, embora as medidas que estão sendo implementadas no mundo todo, como fechamento de lugares públicos, seguramente reduzirão o consumo das famílias.
Já a decisão saudita de baixar os preços do petróleo pode reduzir aqui os custos dos combustíveis e, portanto, do transporte das safras, mas terá efeito muito negativo nos preços do etanol e do biodiesel.
Em resumo, o país deverá ter ganhos com a boa safra de 2020, mas não necessariamente os produtores rurais serão igualmente beneficiados.
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