O agronegócio brasileiro é uma potência que alimenta mais de 140 países e responde por quase 25% do PIB nacional. No entanto, apesar de sua força econômica e tecnológica, o setor ainda enfrenta um desafio central: comunicar-se de forma eficaz com a sociedade urbana.

Essa constatação deu origem a um movimento ambicioso, liderado pela ABMRA (Associação Brasileira de Marketing Rural e Agro): a construção da Marca Agro do Brasil. O projeto visa reposicionar o agro no imaginário nacional e internacional, criando uma imagem forte, admirada e conectada à realidade das pessoas.

“O marketing agro do futuro tem que ser emocionante e humano. Não é só sobre tecnologia, é sobre tocar o coração das pessoas”, resume Ricardo Nicodemos, presidente da ABMRA, em entrevista ao Agrishow Digital.

Invisibilidade e desconhecimento: desafios do agro brasileiro

Apesar da relevância do agro para o cenário nacional – tanto na produção dos alimentos que chegam à nossa mesa, quanto pela grande participação econômica -, sua imagem pública ainda é marcada por estereótipos, distanciamento e, em alguns casos, rejeição.

De acordo com pesquisa de percepção realizada pela ABMRA, 7 a cada 10 brasileiros têm uma visão positiva do agro. No entanto, 30% da população se declara desfavorável, sendo que mais da metade desse grupo está na faixa etária entre 15 e 29 anos.

“Esses jovens serão os tomadores de decisão no futuro. Se eles têm uma imagem negativa hoje, precisamos agir já para mudar essa percepção”, alerta Nicodemos.

A pesquisa identificou três fatores que afastam o público do agro:

  1. Distância social — Falta de contato com pessoas que trabalham no campo;
  2. Distância física — Pouco ou nenhum acesso a ambientes rurais;
  3. Informações truncadas ou distorcidas — Muitas vezes vindas das redes sociais ou da imprensa, sem contexto ou aprofundamento.

Com base nesse diagnóstico, nasceu a estratégia da Marca Agro do Brasil

Construindo a marca brasileira

Na entrevista, Ricardo Nicodemos menciona sobre países como a Colômbia, com o ícone Juan Valdez para o café, ou os Estados Unidos, com a campanha Got Milk?, terem conseguido construir marcas nacionais fortes em torno de seus produtos agropecuários.

O Brasil, mesmo sendo líder global em várias culturas, nunca investiu na construção de uma marca nacional para seu agro.

“Estamos falando de um setor que produz o alimento, o combustível, a energia, o vestuário e os empregos que movimentam o país. E mesmo assim, ele continua invisível para grande parte da população urbana”, afirma Nicodemos.

A proposta da ABMRA é justamente reverter esse cenário. O plano da Marca Agro do Brasil inclui:

  • Criação de uma campanha nacional de comunicação, com foco em jovens de 15 a 29 anos;
  • Lançamento de um portal trilíngue (português, inglês e espanhol) com conteúdos confiáveis sobre o agro;
  • Ativação em redes sociais, rádios, shoppings, relógios de rua e influenciadores;
  • Produção de conteúdo educativo para crianças, jovens e adultos — a partir da mesma base de dados, mas adaptado em linguagem e formato;
  • Construção de um hub de conteúdo com curadoria científica, em parceria com instituições como Embrapa, Esalq e Fundação Getúlio Vargas.

Storytelling para conectar e educar os jovens

Um dos diferenciais da campanha está no uso do storytelling para explicar temas complexos como sequestro de carbono, uso racional da água ou a cadeia do leite. Um exemplo é a criação do “Reino de Agrus”, um universo lúdico com personagens que ensinam às crianças, de forma divertida, o funcionamento do campo, o impacto da sustentabilidade e os perigos das fake news.

“Vamos mostrar que o produtor rural é um herói invisível que alimenta e veste o país, mas que também sofre com a desinformação e com a falta de reconhecimento”, explica Nicodemos.

Já para os jovens, a abordagem será digital, com vídeos curtos, esquetes, ações em plataformas como TikTok e conteúdos focados em inovação, empregabilidade e oportunidades de carreira no agro.

Marketing que transforma e o poder da opinião pública

O impacto da campanha vai além da imagem do agro. A intenção é também mostrar à população urbana como o agro pode melhorar suas vidas, seja por meio da alimentação, da geração de empregos ou da valorização de comunidades.

“Quando a sociedade descobre que o agro está presente no seu café da manhã, nas suas roupas e até na sua conta de luz, ela passa a enxergar o setor com outros olhos”, afirma Nicodemos.

Segundo ele, o agro pode inspirar a mesma transformação que marcas como Havaianas viveram: de um produto funcional e popular a um símbolo de orgulho nacional e desejo global.

Para a ABMRA, conquistar a opinião pública é o ponto de virada. Nicodemos explica que isso só será possível com uma comunicação estratégica, multicanal, científica, mas também emocional. O projeto prevê o envolvimento de grandes marcas e indústrias, que serão convidadas a se somar à campanha.

“Não basta ajudar o produtor na origem. As empresas precisam mostrar ao consumidor final o que há por trás do produto. Esse triângulo precisa ser fechado”, ressalta.

Além da campanha institucional, a iniciativa também abre portas para que marcas do agro se tornem mais admiradas e desejadas. Isso beneficia o setor como um todom, desde as cooperativas, passando pelos grandes grupos até aos profissionais que atuam no campo.

COP30 e reputação global: oportunidade para o agro em foco

Além da Agrishow, outro evento importante em 2025 é a COP30, conferência do clima que será sediada no Brasil neste ano. Com os holofotes globais voltados para o país, o agro brasileiro terá a oportunidade — e a responsabilidade — de mostrar seus avanços em sustentabilidade.

Nicodemos destaca que o setor possui inúmeras iniciativas ambientais de destaque, como:

  • Plantio direto, técnica brasileira que protege o solo e reduz emissões;
  • Integração lavoura-pecuária-floresta, modelo que maximiza produtividade com responsabilidade ambiental;
  • Boi verde, criado a pasto e com rastreabilidade de emissões;
  • Redução no uso de água e energia com tecnologias de precisão.

“Temos que deixar de falar só entre nós. Essas histórias precisam ser contadas para jornalistas, estudantes, professores, consumidores. O mundo precisa saber o que estamos fazendo”, enfatiza.

Uma nova era começa agora

A construção da Marca Agro do Brasil é mais do que uma campanha publicitária. É um movimento estruturado, com base em pesquisa, dados, inteligência coletiva e muito propósito. Seu sucesso depende do engajamento do setor e do apoio da sociedade.

“Estamos convidando o Brasil para conhecer um agro que sempre esteve aqui, mas nunca se comunicou como deveria. Um agro inovador, sustentável, responsável e essencial para o nosso futuro”, reforça Nicodemos.

Na 30ª edição da Agrishow, essa visão de futuro ganha palco. Com tema “O futuro do agro de A a Z”, a feira apresenta mais que máquinas e tecnologias, promove um futuro que será feito de narrativas e conexões humanas.

“A Agrishow é onde o agro se mostra para o Brasil e para o mundo. É o momento ideal para dar visibilidade à nossa nova forma de comunicar”, finaliza o presidente da ABMRA.