O pinhão, semente retirada da araucária, desempenha um papel fundamental para a agricultura da região Sul do Brasil. Sua importância abrange os âmbitos ecológico, econômico e cultural. Por isso, a rastreabilidade do pinhão tem grande importância.
Esse é um processo que permite acompanhar a jornada da semente desde a sua coleta, passando por todas as etapas de produção e comercialização, até chegar ao consumidor final.
Conversamos com Rossana Catie Bueno de Godoy, engenheira agrônoma e pesquisadora da Embrapa Florestas para falar sobre essa semente e porque sua rastreabilidade é tão importante.
Pinhão no Brasil: números de mercado ainda variam muito
O pinhão, semente da Araucaria angustifolia (conhecida como Pinheiro do Paraná), é um produto com grande importância socioeconômica e cultural para o Brasil, especialmente na região Sul.
Porém, não existem dados oficiais e precisos sobre o mercado do pinhão no país. “A comercialização clandestina inviabiliza dados mais reais”, afirma Rossana Godoy.
Mas é possível traçar um panorama geral com base em pesquisas e informações disponíveis. Estimativas do IBGE indicam que a produção, no ano de 2021, tenha sido de 12,5 mil toneladas.
Além disso, a maior parte do pinhão produzido no Brasil é cultivado e consumido na região sul.
Da mesma forma, a produção brasileira de pinhão é influenciada por diversos fatores climáticos, como temperatura e precipitação. Consequentemente, nossas safras são muito variáveis de um ano para outro.
A rastreabilidade do pinhão poderá ajudar a organizar o setor!
Para oferecer ao mercado consumidor um produto de qualidade e com garantia de procedência, pesquisadores estão desenvolvendo soluções que permitem rastrear o pinhão, desde a coleta até o beneficiamento.
A rastreabilidade do pinhão oferece uma série de possibilidades aos produtores e ao mercado consumidor. Segundo Rossana Godoy, as principais vantagens são:
- Qualidade do produto no mercado, marcada pelos cuidados e pela data de colheita;
- Sementes selecionadas, com as características sensoriais mais preservadas;
- Transparência da cadeia produtiva;
A pesquisadora destaca que estes atributos criam uma relação de fidelização do consumidor com o produtor.” Teremos uma cadeia mais curta, com comercialização mais direta”.
Além do mais, um produto com rastreabilidade é confiável, além de valorizar o trabalho produtivo, a agricultura familiar e o território de onde se origina o alimento.
Como funciona a rastreabilidade do pinhão?
Basicamente, a rastreabilidade desta semente funciona da mesma forma que qualquer outro produto agrícola do Brasil.
No caso específico do pinhão, o produtor ou a cooperativa seguirão orientações de como deve ser o processo, desde a coleta da semente até a sua embalagem e rotulagem comercializada com o produtor final.
E é para ajudar os produtores de pinhão que pesquisadores paranaenses desenvolveram um protocolo em forma de cartilha com orientações aos produtores de pinhão.
A cartilha determina boas práticas na coleta, transporte, beneficiamento, identificação e rastreabilidade dos pinhões.
“O consumidor, quando vai ao mercado, consegue diferenciar uma cebola selecionada de um produto comum. Seja pelo aspecto visual ou pelas informações de rastreabilidade da embalagem. Queremos fomentar essa prática entre os produtores de pinhão", explicou Rossana Godoy.
Veja algumas recomendações desta cartilha:
- A comercialização do pinhão maduro é melhor do que o pinhão ainda verde, porque tem mais sabor e uma textura mais agradável;
- Se a coleta for feita com varas ou por escalada das árvores, o ideal é que as pinhas estejam maduras fisiologicamente, ou seja, estejam verdes, mas com pontos escuros;
- Realizar a classificação do pinhão por tamanho;
- A embalagem deve ser padronizada, com informações de rastreabilidade e lotes identificados. Também deve conter orientações do tempo de armazenagem do pinhão in natura e na geladeira.
Importante reforçar que, por ser uma iniciativa pioneira, o protocolo ainda pode ser atualizado ou ajustado, seguindo a demanda dos produtores.
Desafios e oportunidades da rastreabilidade do pinhão
A rastreabilidade do pinhão, apesar de ser fundamental para garantir a qualidade e a sustentabilidade da produção, enfrenta desafios importantes.
Para a pesquisadora da Embrapa Florestas, os produtores e as cooperativas ainda são reticentes a adotarem o processo.
“A rastreabilidade precisa ser viável economicamente e os consumidores devem se fidelizar ao produto, criando uma rotina e um fluxo de mercado para esse produto diferenciado”.
Outros desafios são:
- Economia informal: grande parte da produção e comercialização de pinhão ainda ocorre na economia informal, sem registro e controle, dificultando o acompanhamento da cadeia produtiva;
- Variabilidade da produção: a produção de pinhão ainda possui safras variáveis de um ano para outro, tornando a gestão da rastreabilidade mais complexa;
- Dispersão dos produtores: Os produtores estão dispersos em diversas regiões, muitas vezes em áreas de difícil acesso, o que dificulta a implementação de sistemas de controle;
- Custo: a implementação do sistema pode ser custosa, especialmente para pequenos produtores, o que pode ser um obstáculo para sua adoção;
- Conscientização: é necessário um maior trabalho de conscientização dos produtores, cooperativas e consumidores sobre a importância da rastreabilidade e seus benefícios;
- Legislação: a legislação brasileira ainda é pouco específica sobre a rastreabilidade do pinhão. Isso gera incertezas e dificulta a implementação de sistemas eficientes.
Já as oportunidades se baseiam, principalmente, na ampliação do consumo com segurança, como explica Rossana Godoy.
“Os consumidores, com a prática de aquisição de um produto de qualidade, passarão a identificar quais os melhores produtos e isso deve criar uma demanda em torno de produtos com essa qualidade”.
A pesquisadora complementa: “Certamente com maior valor agregado, o produto irá gerar mais renda para as famílias que comercializam o produto”.
Com essas ações, teremos um produto gourmetizado e de excelente qualidade no mercado.
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