De norte a sul do país, a mexerica é uma das frutas mais consumidas pelo brasileiro. É também a que tem mais nomes: bergamota, mimosa, ponkan, laranja-cravo, murcote, mexerica e muito mais.
Lá ou cá, a fruta é bastante doce e refrescante, agradando ao paladar do consumidor. Também apresenta benefícios à saúde e apresenta fácil cultivo em qualquer lugar. Quando manejada de forma adequada, o pé de mexerica é vigoroso e oferece alta carga de frutos.
Para conhecer mais sobre essa fruta, conversamos com Eduardo Cesar Brugnara, Engenheiro Agrônomo e pesquisador da Epagri de Chapecó (SC). Confira!
O que é a mexerica?
As mexericas são um tipo de tangerina, muitos frequentes nos pomares domésticos e outras áreas dos sítios e fazendas. Além de serem plantadas por mudas enxertadas, muitas vezes crescem de forma espontânea a partir de sementes deixadas no chão.
De tamanho médio a grande, sua árvore tem crescimento ereto, com poucos espinhos e folhagem densa. Os frutos produzidos apresentam formato arredondado, casca fina e firme, de cores laranja a vermelha.
Cultivada em regiões de clima mais frio, a fruta possui maior acidez e apresenta coloração mais intensa na casca e no suco. Em geral, apresenta de nove a 13 gomos, que contêm vários nutrientes, em especial vitaminas C e do complexo B, além de betacaroteno e fibras.
Segundo Brugnara, essas frutas são ótimas para consumo fresco. “E é dessa forma que elas são comercializadas no mercado”, diz. Também podem ser consumidas na forma de suco.
Um outro uso comum é a extração do óleo da casca do frutinho ainda verde, que tem aplicações na indústria cosmética.
Este óleo pode ser usado em produtos para cuidados pessoais, como sabonetes, loções e cremes hidratantes, devido às suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias.
Principais tipos de mexerica
Segundo o pesquisador da EPAGRI, o tipo de mexerica mais conhecido é a que amadurece no outono. Porém, há variações de morfologia e nomenclatura no Brasil, com leves diferenças. Veja:
1 – Tangerina ponkan
Extraída da planta Citrus reticulata, a ponkan é o tipo de tangerina mais consumido no Brasil.
Ela se destaca por ser grande, pesada e ter uma casca bem grossa (fácil de descascar). Sua polpa é bem doce e suculenta. Por sua doçura, essa fruta é ótima para consumir in natura ou preparar sucos naturais, sem a necessidade de adoção de açúcar.
2 – Mexerica
Chamada de bergamota no Rio Grande do Sul, a mexerica possui um tamanho menor, uma casca menos grossa e um sabor mais ácido (quando comparada à ponkan).
Essa fruta tem um aroma bem forte por conta de óleos essenciais presentes em sua casca.
3 – Morgote (ou murcote)
Nascida a partir do cruzamento da tangerina com a laranja, a morgote (ou murcote) é uma fruta híbrida altamente nutritiva, saborosa e suculenta.
Ela tem mais sementes e um sabor bem doce, que se aproxima ao da laranja. Esse tipo de tangerina, inclusive, é o mais indicado para o preparo de sucos e costuma ser o mais difícil de descascar.
Quando comparada com a ponkan, a morgote se destaca por ter um teor mais alto de fibras alimentares.
4 – Tangerina montenegrina (ou mimosa)
Originária da região de Montenegro, no Rio Grande do Sul, a montenegrina é uma tangerina extraída de um dos tipos da planta Citrus deliciosa, como a mexerica. Apresenta menos sementes por fruto e maior firmeza da polpa.
Ela se diferencia principalmente por ser menor, além de ter uma cor alaranjada bem forte. Por possuir um sabor mais acentuado, essa versão da tangerina é ótima para preparar doces, geleias e compotas.
“Ao contrário da mexerica de outono, ela amadurece no final do inverno e pode ser colhida até no mês de outubro nas áreas mais frias”, complementa Brugnara.
Escolha das mudas e preparo do solo
Para ter árvores com muitos frutos, dois pontos iniciais são fundamentais: a escolha da muda e o preparo do solo.
Na escolha das mudas, o pesquisador explica que infelizmente a qualidade das mudas não pode ser avaliada apenas por uma inspeção visual. Além disso, a qualidade e identidade genética e a contaminação por algumas doenças, como o HLB, não são visíveis ao olho humano.
“Para evitar maiores problemas, minha recomendação é buscar mudas em viveiros certificados pelos órgãos de defesa vegetal”.
Brugnara também aconselha os produtores a ficarem atentos às mudas com folhas amareladas e troncos muito grossos e envelhecidos. “Estes são sinais de problema na muda que podem ser visualmente detectados”.
Há de se ter cuidado com o porta-enxerto ou “cavalo”. Ele deve ser adaptado às condições de solo e clima do local onde será plantado. “Não recomendo o uso de mudas produzidas a campo aberto, mas sim aquelas de viveiros telados e com protocolos de segurança contra contaminação por doenças e pragas”, complementa.
Quanto ao preparo do solo, o pesquisador diz que a principal característica a ser observada é a drenagem. “Solos que acumulam água acabam matando a muda por asfixia das raízes e doenças”.
Também é importante a correção do pH e de teores de nutrientes, como fósforo, potássio, cálcio, magnésio e boro. Os especialistas recomendam que o solo seja preparado na área toda do pomar, não apenas nas covas.
Características do plantio
As mudas podem ser plantadas em espaçamentos variados, dependendo do solo, clima, porta-enxerto, tipo de mecanização do pomar, e outros fatores.
Mas, o mais comum é errar no espaçamento plantando muito perto. Em linhas gerais, pode-se fazer linhas de plantio espaçadas de 5 a 7 metros e deixar de 2 a 3 m entre as plantas dentro das linhas.
“Em pomares domésticos se pode fazer desenhos sem linhas de plantas, porém convém espaçar as mudas pelo menos 4 a 5 metros”, recomenda o pesquisador.
A muda deve ser coberta com terra até a altura que estava sob o substrato no viveiro. A irrigação pode ser necessária no primeiro verão dependendo do regime de chuvas. Caso as folhas murchem, convém irrigar.
Como ter pés de mexerica com boas produções?
As mexericas, quando não manejadas adequadamente, tendem a produzir em anos alternados.
Um ano com alta quantidade de frutos e de baixa qualidade (pequenos e pouco coloridos) e outro de poucos frutos de boa qualidade.
Para quebrar esse ciclo vicioso de alternância de produção, o pesquisador recomenda a realização do desbaste de frutinhos quando eles têm cerca de 3 cm de diâmetro.
“Nas partes mais carregadas das plantas pode ser necessária a remoção de mais de 80% dos frutinhos”, diz.
A poda também é muito importante segundo destacado pelo pesquisador. “Além de diminuir a necessidade de raleio e permitir a iluminação dos frutos pelo sol, que lhes dará qualidade, essa prática desfavorece algumas doenças como a rubelose, que provoca morte de ramos”.
Para evitar perdas é preciso ainda monitorar a ocorrência de doenças como o HLB e a mancha-preta, além de pragas, como o psilídeo-asiático-dos-citros e a mosca-das-frutas.